sábado, 6 de julho de 2013

Museu londrino conta a história da homossexualidade





Publicado pelo O Globo
 
Enquanto o mundo começa afinal a reconhecer juridicamente os direitos dos casais de pessoas do mesmo sexo, o British Museum acaba de inaugurar um projeto ousado iniciado há sete anos. O livro “A little gay history: desire and diversity across the world” (“Uma pequena história gay: desejo e diversidade pelo mundo”, em tradução livre), recém-publicado pela editora da instituição, e um catálogo com peças que comprovam que o homossexualidade faz parte da história da Humanidade há pelo menos 4 mil anos.
 
A publicação deve colocar ainda mais lenha na fogueira do debate que ganhou o planeta nos últimos anos. E talvez seja argumento final contra aqueles que defendiam o projeto que ficou conhecido como a “cura gay”, que tramitava no Congresso Nacional até a semana passada, quando foi engavetado.
 
- Não se trata da História de uma minoria, mas sim de parte da História da Humanidade. O desejo por pessoas do mesmo sexo sempre existiu em todas as culturas - disse ao GLOBO o curador do museu, Richard Parkinson, que está à frente do projeto desde 2006.
 
Peças selecionadas do acervo
 
 
Bustos do imperador romano Adriano (com uniforme
militar, à esquerda) e de seu companheiro Antínoo
 
Das milhões de peças do acervo do museu, 44 foram selecionadas em um primeiro momento para o livro, mas outras poderão ser identificadas a partir de novas pesquisas. Entre as escolhidas estão os bustos do imperador Adriano (117-138 d.C.) e do seu amante Antínoo. Este último, depois de morrer afogado no Rio Nilo com apenas 18 anos, foi declarado deus por ordem do imperador em luto, que também mandou fazer esculturas em sua homenagem e erguer uma cidade com o seu nome, Antinoópolis. De acordo com o British Museum, pesquisas realizadas com os visitantes, por ocasião de uma grande exposição sobre o imperador romano em 2008, mostravam que poucos sabiam da sua preferência por homens.
 
Xilogravuras eróticas japonesas também são destaques da publicação, em versões que mostram duas mulheres e dois homens fazendo sexo. Nesta última, um deles está vestido de mulher no estilo do tradicional teatro kabuki, em que atores interpretavam tanto os papéis masculinos quanto os femininos. Outra peça em destaque é a “Taça de Warren” (10 d.C.), considerada a aquisição individual mais cara já feita pelo museu, no valor de 1,8 milhão de libras (cerca de R$ 5,8 milhões). A taça de vinho romana é decorada com cenas de sexo entre homens e teria sido encontrada perto de Jerusalém. Também tem destaque uma lâmpada de cerâmica turca do século I que mostra duas mulheres fazendo sexo.
 
Bem antes destes objetos, no século XVIII a.C., a Epopeia de Gilgamesh, um dos poemas mais antigos de que se tem notícia, já tratava do desejo por pessoas do mesmo sexo. A tabuleta encontrada no Iraque conta a história do deus-herói Gilgamesh e seu companheiro íntimo, “o cabeludo e selvagem Enkidu”, como descreve o texto do museu. Ambos lutam e derrotam a deusa Ishtar. Enkidu, no entanto, morre pouco depois, o que leva Gilgamesh a passar o resto do poema atormentado pelo luto e tentando superar a morte do amigo. Antes mesmo de conhecê-lo, Gilgamesh fora alertado de que o amaria como uma esposa.
 
Para o museu, tal intimidade não significa necessariamente desejo sexual. Mas alguns historiadores discutem sobre o uso de palavras ou expressões que poderiam ser interpretados desta maneira, e se Gilgamesh e Enkidu não eram apenas amigos, mas amantes: “uma relação homossocial ou homossexual? Não há contato sexual claro, mas a relação é descrita de maneira erótica”. O British Museum optou deliberadamente por não realizar uma exposição específica com as peças selecionadas para o catálogo. A explicação é simples: achou-se que singularizar um punhado de peças da coleção seria, mais uma vez, lidar com este tema universal como um assunto de minorias.
 
- Não se trata de um estudo da academia, como os que já foram feitos, que só será lido pela comunidade ou pelos acadêmicos gays. O que queremos é despertar os cidadãos em geral para o assunto. Estamos fazendo um trabalho para uma audiência maior, para todos os públicos. Esta é uma História que pertence a todos, que fez parte de todos os períodos em todas as culturas - ressaltou Parkinson.
 
Mesmo assim, tudo o que está no livro pode ser visto, seja virtualmente (a coleção completa do museu está disponível em www.britishmuseum.org), seja ao vivo e em cores. As coordenadas estão indicadas no site. Como nem todos os objetos estão em exibição permanente por questões de conservação, recomenda-se o agendamento prévio para estes itens específicos.
 
 
- A evidência do desejo por pessoas do mesmo sexo e as ideias de gênero foram sistematicamente deixadas de lado no passado, mas os museus, com as suas coleções, podem nos permitir olhar para trás e identificar a diversidade ao longo da História - afirmou o curador.
 
De acordo com Parkinson, estes tipos de evidência, muitas vezes parciais e, em alguns casos, ambíguas, foram sistematicamente escondidas ao longo da História, ou simplesmente censuradas. Assim, o projeto do livro começou quando o museu foi procurado por uma especialista que queria reunir essas informações do passado. O curador admitiu que a iniciativa enfrentou algumas dificuldades básicas, tais como a escolha das melhores palavras para tratar o tema. Para ele, o emprego do termo “gay” está longe de ser o mais adequado. O ideal seria “desejo por pessoas do mesmo sexo”, que acredita estar mais descolado de rótulos, mas, reconheceu, ele não atingiria o público geral com o mesmo entendimento.
 
- Estamos falando do rótulo. Existem muitas maneiras de ser gay, não só os estereótipos, e acho que “desejo por pessoas do mesmo sexo” é mais adequado para falar deste passado mais distante. Não dá para usar o mesmo rótulo dos dias de hoje - avaliou. As peças no catálogo, que já está à venda na loja do museu e nas principais livrarias londrinas, também incluem objetos modernos, tais como bótons de campanhas pelos direitos homossexuais.
 

Secretaria de Direitos Humanos institui instrumentos de combate à homofobia


 
Publicado pelo Diária do Grande ABC
 
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República instituiu nesta quinta-feira, 04, dois instrumentos para combater a homofobia no País: o Sistema Nacional de Promoção de Direitos e Enfrentamento à Violência Contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) e o Comitê Nacional de Políticas Públicas LGBT.
 
O Sistema LGBT tem entre suas finalidades propor as diretrizes a serem observadas na ação do Poder Público e na sua relação com os diversos segmentos da sociedade e o Comitê, promover políticas nessa área nas esferas federal, estadual, distrital e municipal.
 
As decisões estão em portarias publicadas no Diário Oficial da União e levam em conta, segundo o governo, a necessidade de se enfrentar a homo-lesbo-transfobia estrutural na sociedade brasileira, encontrada nos mais diversos espaços. Também consideram dados de 2012 que apontam haver no País 27,34 violações de direitos humanos de caráter homofóbico por dia.
 
Uma das portarias da Secretaria de Direito Humanos também instituiu, dentro do Sistema LGBT, o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra LGBT, firmado entre União, Estados, Distrito Federal e municípios.
 
 

Presidente da Câmara barra novo projeto da 'cura gay'


 
Publicado pelo G1
 
O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, decidiu devolver ao deputado Anderson Ferreira (PR-PE) o novo projeto que libera a "cura gay", protocolado pelo parlamentar na quarta-feira (3). De acordo com a Secretaria-Geral da Câmara, o despacho com a devolução do texto está pronto e deverá ser assinado ainda nesta quinta (4) por Alves.
 
A apresentação da nova proposta de liberação da "cura gay" ocorreu um dia depois de projeto com o mesmo teor, de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), ser arquivado pelo plenário da Câmara. O texto permitia o tratamento por psicólogos de pacientes que quisessem "reverter" a homossexualidade e foi alvo de protestos durante manifestações que tomaram as ruas do país nos últimos dias.
 
Para Henrique Alves, o regimento só autoriza a apresentação de proposta com o mesmo teor do arquivado em 2014, quando terá início novo ano legislativo. Na noite desta quarta (3), o presidente da Câmara já havia indicado que iria barrar o texto de Anderson Ferreira. ............ “A informação que eu tenho é que não poderia ser reapresentado na mesma sessão legislativa. Eles estão alegando que não sendo o mesmo autor poderia. Eu entendo que não. Já mandei o Mozart [secretário-geral da Câmara] examinar e no que depender de mim vou indeferir”, disse Henrique Eduardo Alves.
 
Pelo regimento da Câmara, o arquivamento do texto de João Campos impediria que proposta idêntica fosse reapresentada no mesmo ano, “salvo por deliberação do plenário”.
 
Pressionado pelo próprio partido, Campos pediu a retirada de tramitação da proposta no momento em que os líderes da Câmara decidiram avalizar a ida do projeto ao plenário em caráter de urgência. Insatisfeito com a decisão da Câmara de aprovar o arquivamento da cura gay, Anderson Ferreira decidiu reapresentar o texto.
 
Ele afirmou que, se a Mesa Diretora decidisse barrar a tramitação da proposta, ele iria recorrer para que o plenário da Casa tomasse a decisão final. “Existe essa brecha no regimento, que deixa a decisão para o plenário. Se a Mesa Diretora não deixar o texto tramitar, vou recorrer para o plenário”, disse ao G1.
 
Ferreira pode recorrer à Mesa, que, se considerar viável, envia o recurso à Comissão de Constituição e Justiça. A CCJ é que decide se o plenário deve ou não discutir se o projeto poderá ser retomado.
 
Para Anderson Ferreira, o projeto foi “rotulado pejorativamente pela mídia”, como preconceituoso. “Tentaram sepultar o projeto ontem [terça]. Mas, na verdade, a decisão do Conselho Federal de Psicologia de proibir o atendimento de homossexuais que procuram psicólogos é um lixo, foi legislar. Restringe a autonomia do psicólogo”, argumentou.
 
A proposta
 
O projeto de decreto legislativo arquivado pela Câmara pedia a extinção de dois trechos de uma resolução de 1999 do Conselho Federal de Psicologia. O primeiro diz que “os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades”.
 
O segundo dispositivo que o projeto pretendia eliminar diz que “os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica”.
 
Anderson Ferreira afirmou que o texto apresentado por ele é idêntico ao que foi retirado de tramitação. "Não quis fazer qualquer alteração para que não viessem me dizer que tentei burlar o regimento", explicou.
 
 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Deputado de Pernambuco não aceita arquivamento do projeto da "cura gay" e protocola nova proposta de igual teor



 Publicado pelo G1
 
Com o argumento de que existe uma “brecha” no regimento da Câmara, o deputado Anderson Ferreira (PR-PE), atual terceiro vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos (Sic) da Câmara,  protocolou na tarde desta quarta-feira (3) projeto de lei com teor idêntico à proposta do deputado João Campos (PSDB-GO) que libera a “cura gay”.
 
O texto de Campos foi arquivado na noite desta terça (2) pelo plenário, o que, pelas regras da Casa, impede que proposta igual seja reapresentada no mesmo ano, “salvo deliberação do plenário”. O texto permitia o tratamento por psicólogos de pacientes que quisessem "reverter" a homossexualidade e foi alvo de protestos durante manifestações que tomaram as ruas do país nos últimos dias.
 
Pressionado pelo PSDB, partido ao qual é filiado, o próprio autor do projeto protocolou requerimento para que ele fosse retirado de tramitação. Insatisfeito com a decisão da Câmara de aprovar o requerimento, o deputado Anderson Ferreira decidiu reapresentar o texto.
 
Ele afirmou que, se a Mesa Diretora decidir barrar a tramitação da proposta, irá recorrer para que o plenário da Casa tome a decisão final. “Existe essa brecha no regimento, que deixa a decisão para o plenário. Se a Mesa Diretora não deixar o texto tramitar, vou recorrer para o plenário”, disse ao G1.
 
Para Anderson Ferreira, o projeto foi “rotulado pejorativamente pela mídia”, como preconceituoso. “Tentaram sepultar o projeto ontem [terça]. Mas, na verdade, a decisão do Conselho Federal de Psicologia de proibir o atendimento de homossexuais que procuram psicólogos é um lixo, foi legislar. Restringe a autonomia do psicólogo”, argumentou. A Secretaria-Geral da Câmara informou que a Mesa Diretora vai avaliar nesta quinta (4) se a proposta poderá ou não tramitar.
 
A proposta
 
O projeto de decreto legislativo arquivado pela Câmara pedia a extinção de dois trechos de uma resolução de 1999 do Conselho Federal de Psicologia. O primeiro diz que “os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades”.
 
O segundo dispositivo que o projeto pretendia eliminar diz que “os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica”.
 
Anderson Ferreira afirmou que o texto apresentado por ele é idêntico ao que foi retirado de tramitação. "Não quis fazer qualquer alteração para que não viessem me dizer que tentei burlar o regimento", explicou.
 
 

"Gays e heterossexuais incuráveis", por Drauzio Varella



 Publicado pela Folha
 
"Está coberta de razão a sabedoria popular ao dizer que a homossexualidade é mais velha do que andar a pé"
 
Apesar dos anos vividos, ainda me surpreendo com a estupidez humana.
 
Os crentes dizem que Deus houve por bem limitar-nos a inteligência, para impedir que bisbilhotássemos seus domínios. Se assim agiu, pena não lhe ter ocorrido impor limites para a burrice dos seres que criou à sua imagem e semelhança.
 
Um grupo de deputados reunidos na Comissão de Direitos Humanos, presidida por um evangélico sem nenhuma aparência de homem fervoroso, aprovou o projeto conhecido como "cura gay", que assegura aos psicólogos o direito de aplicar métodos de tratamento destinados a transformar homo em heterossexuais, e de apregoar aos incautos a cura da homossexualidade, práticas condenadas pelo Conselho Federal de Psicologia e por todas as pessoas com um mínimo de discernimento.
 
Em todos os povos conhecidos, uma parcela de indivíduos em alguma fase da vida experimentou orgasmo por meio da estimulação dos genitais realizada por uma pessoa do mesmo sexo.
 
A incidência da homossexualidade varia de acordo com o grupo social. Um estudo clássico dos anos 1950 mostrou que em cerca de 60% das populações pesquisadas o comportamento homossexual é aceito sem restrições. Na África, entre os povos Siwan, e no sudoeste do Pacífico, entre os melanésios, virtualmente todos os homens praticaram sexo com outros homens em algum estágio da vida.
 
As 40% restantes vivem em países nos quais a homossexualidade é objeto de tabu social. As nações industrializadas se enquadram nesse grupo minoritário.
 
Embora os dados nem sempre confirmem com exatidão, a homossexualidade masculina parece ser duas a três vezes mais prevalente do que a feminina, em todas as sociedades até hoje avaliadas.
 
A maioria esmagadora dos indivíduos que experimentam orgasmos com pessoas do mesmo sexo são bissexuais. No Ocidente, homossexualidade pura, caracterizada pela ausência de práticas sexuais com o sexo oposto durante a vida inteira, ocorre em apenas 1% da população.
 
Comportamento homossexual tem sido descrito em répteis, pássaros e mamíferos, animais que na evolução divergiram há mais de 100 milhões de anos. Uma parte dos machos e fêmeas de todas as espécies de aves estudadas têm relações sexuais com indivíduos do mesmo sexo. Em muitas ocasiões, essas práticas terminam em orgasmo de apenas um ou dois dos parceiros.
 
Nos mamíferos, a maioria das relações homossexuais entre as fêmeas acontece quando uma parceira monta sobre a outra, comportamento já documentado em pelo menos 70 espécies: ratos, hamsters, coelhos, martas, gado, carneiros, cavalos, antílopes, porcos, macacos, chimpanzés, bonobos, leões etc.
 
Há mais de um século e meio, Charles Darwin nos ensinou que uma caraterística presente em diversas espécies distintas indica que foi herdada de um ancestral comum, portador do mesmo traço. Podemos garantir que o ancestral que deu origem aos vertebrados tinha dois globos oculares, caraterística herdada por todos os animais com esqueleto.
 
O paralelismo é óbvio, prezadíssimo leitor: se o comportamento homossexual está documentado em animais tão distintos quanto répteis, aves e mamíferos, é porque a homossexualidade é mais antiga do que a humanidade.
 
Certamente, já existiam hominídeos homo e bissexuais 5 a 7 milhões de anos atrás, quando nossos ancestrais resolveram descer das árvores nas savanas da África. Está coberta de razão a sabedoria popular ao dizer que a homossexualidade é mais velha do que andar a pé.
 
Sempre houve e haverá mulheres e homens que desejam pessoas do mesmo sexo, porque essa é uma característica inerente à condição humana. Com persistência e determinação, eles podem controlar o comportamento sexual, mas o desejo não. O desejo é uma força da natureza mais íntima de cada um de nós; é água que corre montanha abaixo.
 
Os fatores genéticos e as interações sociais envolvidas no comportamento sexual são de tal complexidade que só a ignorância crassa é capaz de propor simplificações.
 
Eu, que sempre coloquei em dúvida a masculinidade daqueles excessivamente preocupados ou ofendidos com a homossexualidade alheia, gostaria de saber em que porta de botequim os nobres deputados ouviram falar que o homossexual é um doente à espera de tratamento psicológico.