sábado, 2 de novembro de 2013

Papa lança pesquisa inédita entre católicos para saber opiniões sobre temas como o casamento homoafetivo


 
Publicado pelo Diário de Notícias
 
O Papa Francisco lançou uma pesquisa mundial dentro da Igreja para saber o que pensam os católicos sobre questões como o casamento entre homossexuais, o divórcio, o sexo antes do casamento e o uso de contraceptivos.
 
A iniciativa do chefe da Igreja Católica, inédita, consiste num inquérito enviado às conferências episcopais de todo o mundo. As perguntas serão distribuídas pelas paróquias para serem respondidas pelos fiéis, informaram o 'El País' e a TSF.
 
O Papa procura fazer um retrato do que pensam os católicos, para discutir o assunto no sínodo extraordinário da família, que está marcado para o próximo ano de 2014. O Vaticano, informou o 'El País', considera "urgente" abordar este tipo de desafios da evangelização.
 

Brasileira é eleita a transexual mais bonita do mundo


 
Publicado pela Época
 
A brasileira Marcela Ohio, de 18 anos, foi coroada como a Miss International Queen 2013, concurso de beleza entre transexuais realizado na cidade tailandesa de Pattaya. A final aconteceu na noite de sexta-feira (1°). A americana Shantell D'Marco e a tailandesa Nethnapada Kanrayanon ficaram com o segundo e terceiro lugares, respectivamente.
 
Neste ano, o concurso contou com a participação de 25 candidatas de 17 países, entre elas três brasileiras, duas venezuelanas, uma espanhola, assim como outras de Mianmar, Índia, Malásia, Japão, Alemanha e África do Sul.
 
Marcela, fora das passarelas.
 
O primeiro prêmio inclui 300 mil bats (cerca de R$ 20 mil), uma coroa e uma operação cirúrgica de troca de sexo em uma clínica renomada de Bangcoc.
 
O evento internacional é organizado desde 2004 pela Companhia de Espetáculos Tiffany. Segundo os organizadores, o objetivo do concurso de beleza é promover os direitos dos transexuais em diferentes países. Para a diretora da empresa, Arisa Phanthusak, depois da Tailândia, Brasil e Filipinas são os países mais tolerantes e respeitosos com os transexuais.
 

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Harvey Milk será homenageado com selo oficial dos Serviços Postais dos EUA


 
Publicado pelo Dezanove
Por Monica Guerreiro
 
Os Serviços Postais norte-americanos vão lançar, em 2014, uma edição filatélica especial em homenagem ao legado de Harvey Milk, o ativista e político gay assassinado em 1978.
 
A história de Harvey Milk, imortalizada no filme "Milk" (2008), de Gus Van Sant, protagonizado por Sean Penn, é novamente lançada no espaço midiático, dado que este selo oficial é considerado o primeiro dedicado a "um indivíduo abertamente homossexual". Contudo, vários comentaristas (a mais informada das quais June Thomas, da Slate) recordam que outras personalidades do universo LGBT já foram figuradas em selos oficiais dos correios norte-americanos. De Josephine Baker a Cole Porter, passando por Andy Warhol, foram homenageadas diversas pessoas, principalmente do meio cultural, com orientação homo ou bissexual – mas nunca um político assumido, eleito para um cargo oficial.
 
Harvey Milk foi agraciado, postumamente, com várias distinções. A título de exemplo, recebeu de Barack Obama, em 2009, a Presidencial Medal of Freedom e a revista Time designou-o um dos 100 heróis e ícones do século XX.
 

Bilhete de cliente cristão para garçom gay gera polêmica


Publicado pelo Gospel Prime
 
A pequena cidade de Overland Park, Kansas, tem vivido uma polêmica nos últimos dias. Um cliente do restaurante italiano Carrabba deixou um bilhete para um empregado gay que irritou muitas pessoas.
 
Quando o garçom, que preferiu não se identificar à imprensa, foi pegar a conta paga de uma refeição, não havia gorjeta. E mais, uma mensagem escrita no verso do papel dizia: “Obrigado por seu serviço, foi excelente. Dito isto, não poderia deixar uma gorjeta com a consciência tranquila. Seu estilo de vida homossexual é uma afronta a Deus. Que Deus tenha misericórdia de você”.
 
 
 
O assunto foi parar nas redes sociais e gerou uma enxurrada de críticas à postura do cliente cristão. Termos como “homofobia” e “preconceito” foram os mais usados. Não faltou quem ofendesse a fé do homem que deixou o bilhete, acusando os cristãos de não amarem os gays. Muitos amigos do garçom e clientes do restaurante farão uma manifestação de apoio no seu local de trabalho.
 
Procurado pelo canal de TV KMBC, o servidor alega que não precisa se defender e que seu estilo de vida não afeta seu profissionalismo. “Prefiro deixar a minha ética de trabalho e meu serviço falar, nada mais”, afirmou.
 
Vários dos clientes entrevistados se mostraram contrários a posição da pessoa que deixou o bilhete e o recriminam por usar o nome de Deus para julgar alguém. O Carrabba declarou apenas que a empresa defende a diversidade e não vai tolerar discriminação de empregados ou convidados.
 
A situação lembra outro caso ocorrido no início deste ano. Após uma refeição num restaurante em Saint Louis, uma cliente cristã também deixou um bilhete. Ao receber a conta, percebeu o valor da gorjeta era 18%. Usando uma caneta para substituir o oito por um zero, escreveu: “Eu dou 10% para Deus, por que você recebe 18?” Em seguida, assinou “Pastora Alois Bell”.
 
A garçonete que recebeu a conta, postou a imagem do recado mal-humorado numa rede social. Abaixo, colocou uma mensagem “Foi mal, pastora, tenho certeza que Jesus vai pagar meu aluguel e as compras do mês”. A imagem viralizou e acabou chegando ao conhecimento da pastora, que ligou para o gerente da Applebee na cidade. A garçonete foi demitida por justa causa. A empresa alega que ela violou o “direito à privacidade” da cliente. Com informações de KMBC.
 

Museu do Futebol vai abrigar debate sobre homossexualidade no esporte


 
Publicado pelo Estadão
 
Nos últimos dias tornaram-se recorrentes as discussões sobre homossexualidade nos esportes, sobretudo depois da criação da torcida organizada Gaivotas da Fiel e também do selinho dado pelo atacante Emerson Sheik, do Corinthians, em um amigo. Devido a esses fatores, o Museu da Diversidade Sexual vai promover o debate "Tabu – A Homossexualidade no Futebol". Será na próxima terça-feira. O evento, marcado para às 19h, no auditório do Museu do Futebol, no Pacaembu, em São Paulo, terá a participação de nomes como Juca Kfouri, Washington Olivetto, a ex-capitã da seleção brasileira Aline Pellegrino e o zagueiro Paulo André, do Corinthians.
 
Tema polêmico em praticamente todos os âmbitos da sociedade, a homossexualidade é pouco abordada em fóruns desse tipo e ainda sofre muitas retaliações no esporte em geral. Além de relacionar os dois assuntos, o intuito do debate, ministrado pelo jornalista Cesar Giobbi, é trazer reflexão sobre o preconceito dentro e fora dos gramados. O evento, aberto ao público, terá entrada gratuita.
 
 

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

'Vivia em um corpo que não era meu', diz transexual constrangida no Enem


 
Publicado pelo G1
 
Ana Luiza conta os dias para completar 18 anos e mudar o nome nos documentos oficiais. No RG aparece seu nome de registro, Luiz Claudio Cunha da Silva, fato que causou constrangimento durante a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Desde 2011 ela resolveu mudar o que via no espelho e assumir como se sentia. "Sempre fui mulher por dentro, só não nasci assim. Vivia em um corpo que não era meu. Não aguentava me olhar no espelho com roupas de homem. Era doloroso", diz a jovem.
 
Até poder ser uma adolescente como tantas outras de 17 anos, vaidosa, que adora tirar fotos, redes sociais e cuidar dos cabelos, Ana Luiza teve de passar por um processo. Aos 14 anos, a estudante resolveu contar para os pais quem era. "Cheguei para minha mãe e disse: 'eu não me vejo como homem, não quero continuar a ser homem, estou vivendo uma realidade que não é minha, me ajuda'", afirma a adolescente.
 
A dona de casa e mãe de Luiza, Ana Claudia Cunha da Silva, lembra que passou noites acordadas pensando em como contar o caso para o marido, Fábio Luiz Ferreira da Silva. "Para mim foi muito difícil no começo. Foi uma pancada. Até porque eu não tinha conhecimento. Ele (Fábio) encarou melhor e disse logo 'vamos ter calma'". Mesmo com desinformação sobre transexualidade, o casal afirma que deu apoio incondicional à filha desde o início.
 
"Isso não tem fórmula, não tem um livro que vai dizer como criar um filho assim. Só sei que tem que ter diálogo e amor. Isso nós temos", diz o pai, que não esconde o orgulho da inteligência e da coragem da filha 'Lu', como os familiares a chamam. Além da amizade dos pais, o irmão, João Flávio, é um dos maiores confidentes. "Sempre dizia tudo para ele. Ele foi o primeiro a saber. Até já pegou briga na escola por minha causa", diz a transexual.
 
 
Mudanças
 
Ana Luiza morava com a família em Barreiras, na Bahia. Quando os pais voltaram para Fortaleza, em 2011, viu a oportunidade de mudar. “Antes, era uma coisa bem neutra porque tinha muito medo de preconceito, mas nunca conseguia gostar de coisa de menino. Como morava no interior, todo mundo me conhecia e tinha medo”, diz.
 
Na capital cearense, Ana Luiza deixou o cabelo crescer e passou a vestir roupas de mulher. O nome social havia sido decidido em Barreiras. "Minha mãe sempre dizia que, se tivesse uma filha, seria Ana Luiza. Agora, ela tem a filha que sempre quis", afirma. E as mudanças devem continuar, a jovem que usa um truque com o sutiã para dar mais volume ao colo conta que está com consulta marcada para dar início a um tratamento hormonal.
 
Na escola, Ana Luiza passou a assinar as provas com o nome social em 2012. "Assinava 'Luiz Claudio' e, entre parênteses, coloca 'Ana Luiza'. Até que fui chamada na coordenação, perguntaram o que estava acontecendo. Eu tive aceitação total. Na chamada desse ano, nos documentos que vêm da escola para minha casa, todos vêm com Ana Luiza. Vendo que todo mundo me tratava assim, me sinto muito feliz e cada vez mais certa que sou mulher."
 
Para o pai, o ambiente escolar foi o primeiro teste do que Ana Luiza poderia enfrentar fora de casa. Como Luiz Cláudio, a relação com a escola era outra. "Não ia ao banheiro na escola, pedia para usar o banheiro dos professores", diz Luiza.
 
A estudante planeja cursar arquitetura e morar no Canadá. Ela também pensa em fazer cirurgias como a de mudança de sexo, mas sabe que precisa chegar aos 18 anos para fazer as intervenções. “Não sei se vou fazer pelo SUS (Sistema Único de Saúde) porque a fila é imensa. Sei que preciso de muitos laudos médicos, mas quero fazer. Vai ser quando vou ser mulher totalmente.” Os pais apoiam a decisão de Ana Luiza de fazer a cirurgia de mudança de sexo e, desde que souberam que a filha era transexual, a levaram para um acompanhamento psicológico.
 
Constrangimentos
 
Quando realizou a prova do Enem no fim de semana, Ana Luiza foi levada a outra sala para que fiscais conferissem se a candidata era a mesma da identidade, que tem a foto dela ainda com aparência masculina. "Estou totalmente diferente da foto da identidade. Estava preparada para o que aconteceu. Mas, como na minha sala só tinha homem, fiquei com medo de fazerem chacota e piadinha. Tanto que deixei todos os documentos virados, não mostrei para ninguém, só para os fiscais. Acho normal o procedimento, não achei legal o fato de ser levada para outra sala”. A jovem não conferiu o gabarito das provas, mas disse que se saiu bem nas provas de humanas.
 
Luiza diz que esse episódio não foi o primeiro constrangimento como transexual. Ela conta que já foi barrada em provadores femininos quando tinha uma aparência masculina e impedida de entrar no cinema. “Quando compro meia e olham para minha carteira de estudante pensam que é de outra pessoa. Também evito ir para hospitais porque sempre chamam meu nome do registro em voz alta.”

Repercussão
 
Com a repercussão depois da prova do Enem, Ana Luiza diz que foi procurada nas redes sociais por pessoas com dúvidas sobre a sexualidade. "Quem vive uma situação como a minha tem de ter amor próprio e a vontade de realizar o sonho. No meu caso, eu tive apoio da família. Mas tem gente que não tem, ainda é uma realidade ser expulso de casa", diz.
 
Por meio de grupos na internet, ela soube de outras histórias de transexuais. "Tenho amigas que tiveram que ir ao caminho da prostituição por causa de rejeição. Porque não conseguiram emprego e apoio de ninguém”, lamenta.
 
Além de ajudar outras pessoas, desde a realização do Enem, a adolescente conta que o número de cantadas e pedidos de namoro aumentou. "Se me aceitarem do jeito que eu sou e eu estiver apaixonada, vou namorar. Muitos perguntam: 'Se eu gostar de você, eu sou gay?'", revela Ana Luiza. "Eu sou uma mulher. A maioria não entende. A questão do gênero é uma coisa. A questão de com quem eu quero me relacionar é outra."

As pequenas conquistas dos homossexuais de Uganda


 
Publicado pelo DW
 
Hostilidade, perseguição e prisão fazem parte do cotidiano dos homossexuais no Uganda. Mas, cada vez mais pessoas lutam contra os preconceitos e a discriminação. Há grandes problemas, mas também pequenos sucessos.
 
Numa pensão no subúrbio de Kampala, um jovem desenrola um tapete com as cores do arco-íris – símbolo do movimento gay e lésbico. Os homossexuais preparam um desfile para celebrar a diversidade em África, na capital do Uganda.
 
O Uganda tem uma das leis mais hostis do mundo em relação aos homossexuais, por isso, o que eles fazem aqui, pode colocá-los na cadeia.
 
Temeroso, o voluntário quer permanecer anónimo. "Você pode tentar se proteger tanto quanto você quiser. Você nunca sabe o que alguém está dizendo à mídia ou o que poderia talvez postar no Facebook," afirma.
 
Linha dura para os homossexuais
 
Entre os que não devem ter notícias sobre os preparativos do chamado Orgulho Gay está a parlamentar ugandesa Christine Abia. Atualmente, até 14 anos de prisão já ameaçam os homossexuais no Uganda. Há alguns anos, o Parlamento debate as possibilidades de agravar ainda mais as penas. Alguns exigem até mesmo a pena de morte.
 
A este respeito, Christina Abia adota uma postura de linha dura. Ela compara os homossexuais aos animais: "Até mesmo os animais, bestas, não se degeneraram tanto! Como é possível que pessoas com consciência então desorientem a si mesmas fisiologicamente?".
 
A sexualidade como um direito humano? Para a parlamentar, isso não existe. "Se pretende que isso seja um direito humano. Não! Pelo amor de Deus, isso é um erro humano," considera.
 
Difícil imaginar, mas Christine Abia fez seu nome como vigorosa defensora dos direitos das mulheres perante representantes de muitas organizações ocidentais. Seus pontos de vista sobre os homossexuais não se encaixam nessa imagem de ativista dos direitos humanos.
 
"A única coisa que se pode fazer com os homossexuais é jogá-los na água e deixar que bons peixes os comam," conclui a parlamentar.
 
Retaliações constantes
 
Richard Lusimbo, de 27 anos, é um dos que Christine Abia quer jogar como alimento aos peixes. O jovem ugandês pertence ao comitée que prepara o Orgulho Gay. Há dois anos, ele assumiu a sua homossexualidade. Desde então, teve que se mudar várias vezes – por causa de ameaças constantes.
 
Enquanto lava as louças em seu novo pequeno apartamento nos arredores de Kampala, o jovem revela seus planos para construir uma nova vida. Ele se pergunta: "O que aconteceu? Não sou diferente, mas porque as pessoas me tratariam de forma diferente agora ou pensariam que sou diferente, só porque agora sabem que eu sou gay? Isso realmente dói muito."
 
A homossexualidade ainda é um tabu no Uganda e o jovem acha difícil uma mudança de hábitos a curto prazo. "No Uganda, fala-se sobre sexo a portas fechadas. Essa é a diferença com o Ocidente onde você pode se manifestar nas ruas. É muito difícil fazer isso aqui," garante.
 
Mesmo assim, Richard se empenha na preparação do Orgulho Gay. O ponto mais alto será um desfile na praia de Entebbe, a cerca de 40 quilómetros de Kampala. Até recentemente, o especialista em computadores não teria coragem de ir às ruas lutar por seus direitos. Dois anos atrás, David Kato, um conhecido ativista gay foi assassinado em Kampala.
 
Jornalismo anti-gay
 
 
No início deste ano, também Richard teve que se esconder depois que um jornal publicou um artigo incitando os leitores contra ele. Entre as informações divulgadas estão o endereço de sua casa e os locais de estudo e trabalho de Richard. "Então foi ameaçador, porque com seu endereço publicado, você não sabe o que pode te acontecer. Foi realmente assustador. Por isso, tive que ir embora," revela o ativista.
 
Repetidamente os tablóides no Uganda difamam lésbicas e gays, publicam até mesmo seus endereços. O radialista Charles Odongtho é um dos poucos apresentadores que já entrevistou um homossexual em seu programa – o que lhe trouxe enormes problemas.
 
Mas ele não é um defensor dos direitos dos homossexuais. Charles Odengtho acredita que por trás do movimento de gays e lésbicas no Uganda estão, com frequência, interesses muito diferentes.
 
"Acho que alguns ugandeses usam a homossexualidade para conseguir um visto para sair do país. Talvez eles acreditem que se forem para os Estados Unidos ou para a Europa terão melhores oportunidades," declara o radialista.
 
O argumento de que os homossexuais desejam benefícios financeiros ou asilo no estrangeiro, Richard Lusimbo já não quer ouvir. Apesar de todos os problemas, ele mesmo nunca pensou em deixar o Uganda.
 
Pequenos passos de uma longa jornada
 
 
Na manhã seguinte, os ativistas encontram-se no Teatro Nacional, em Kampala, e partem de ônibus para a praia de Entebbe onde terá início o desfile.
 
No embarque, as pulseiras dos participantes são minuciosamente controladas – por razões de segurança. No passado, muitos ativistas foram agredidos e abusados por grupos enfurecidos – alguns chegaram a ser presos. Isso ninguém quer experimentar novamente.
 
Na chegada a Entebbe, finalmente encontram-se com Richard Lusimbo que se atrasou porque teve uma conversa com o chefe da polícia local. Este insistiu para que o desfile do Orgulho Gay passe longe de ruas movimentadas. Caso contrário, eles seriam presos. Foi preciso pagar subornos? Richard prefere não comentar.
 
Por muito tempo os ativistas esperavam por este momento. No ano passado, a polícia pôs fim ao desfile do Orgulho Gay antes mesmo que ele começasse. Este ano, gays, lésbicas e transexuais marcharam sem perturbações, por meia hora, pela praia de Entebbe. Eles dançaram e balaçaram bandeiras e balões coloridos.
 
Richard já sonha com um outro Uganda. Uma sociedade livre na qual gays, lésbicas e todos os outros possam viver juntos pacificamente. Mesmo que ainda haja um longo caminho a percorrer, os ativistas acreditam estar um pouco mais perto da convivência com tolerância. E talvez marcharão não na isolada praia de Entebbe, mas pelo centro de Kampala.
 
 

Enem 2013: Questão aborda ampliação dos direitos dos homossexuais


 
Publicado pelo O Globo
 
No ano em que o Brasil viu conservadores da bancada religiosa e progressistas da bancada dos direitos dos homossexuais se digladiarem na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, presidida pelo pastor Marco Feliciano (PSC-SP), uma questão da prova de Ciências da Natureza abordou exatamente a conquista gradual de direitos do público LGBT. Veja aqui o gabarito extraoficial do primeiro dia de provas.
 
O enunciado trazia o relato de um cidadão americano contando como ele foi testemunha das mudanças jurídicas e de costumes na sociedade dos EUA ao longo dos últimos 40 anos. Segundo o texto, gays e lésbicas eram proibidos de se casar e alguns homossexuais - não assumidos - em posições de poder chegavam até a prejudicar seus semelhantes. A questão pedia para que o aluno explicasse quais foram as condições necessárias para a dimensão política de transformação sugerida pelo relato do americano. Seguem as opções de resposta:
 
a) ampliação da noção de cidadania
b) reformulação de concepções religiosas
c) manutenção de ideologias conservadoras
d) implantação de cotas nas linhas partidárias
e) alteração da composição étnica da população

domingo, 27 de outubro de 2013

É possível ser gay e cristão?


 
Publicado pela Época
Por Marília de Camargo César*
 
No último dia 13, no Rio de Janeiro, em meio à extravagância e ao carnaval que costumam marcar a Parada Gay, um grupo de jovens ligados à Igreja da Comunidade Metropolitana distribuiu folhetos e ergueu cartazes em que anunciavam o amor incondicional de Deus por todos os homens, incluindo homossexuais, travestis e transgêneros.
 
Esse pequeno rebanho de ovelhas, lideradas no Rio pelo pastor Márcio Retamero, faz parte de uma das comunidades chamadas “inclusivas”. São pessoas, em sua maioria de orientação homoafetiva, que acreditam na releitura dos trechos das Sagradas Escrituras que condenam a prática homossexual. Dados aproximados revelam a existência de 28 comunidades desse tipo organizadas no Brasil, em nove Estados. Um levantamento entre os líderes dessas comunidades, feito a pedido da BBC-Brasil em 2012, sugere uma frequência estimada de 10 mil pessoas. Muitas delas foram expulsas de igrejas evangélicas tradicionais, após assumir ser gays, ou afastadas por uma forma mais sutil de assassinato: o desprezo ou a indiferença.
 
 
 
Sem saber, os participantes da Parada Gay repetirão uma forma de manifesto organizada pela primeira vez na história em 1970, nas ruas de Los Angeles, nos Estados Unidos, por um pastor protestante. Ordenado pastor batista quando tinha apenas 15 anos, numa pequena congregação no Estado da Flórida, onde se casou e teve dois filhos, o reverendo Troy Perry se afastara do trabalho após divorciar-se da esposa e admitir ser gay.
 
Depois de entrar numa crise existencial, que o levou perto do suicídio, Perry diz ter recebido um chamado divino para voltar a pastorear – desta vez, com a atenção voltada às pessoas que, como ele, eram discriminadas por causa da orientação sexual. Assim nasceu a Metropolitan Community Churches (MCC), a primeira denominação inclusiva dos Estados Unidos. A MCC reúne hoje 43 mil membros, em 222 congregações espalhadas por 37 países. Está no Brasil desde 2009, onde conta com oito comunidades. O trabalho do pastor carioca Márcio Retamero está vinculado à MCC.
 
O chamado pastoral de Perry deu origem à controversa teologia inclusiva, também denominada teologia queer (outra palavra para gay, em inglês), ou afirmativa. Trata-se de uma reinterpretação bíblica contestada pelos teólogos tradicionais.
 
Um exemplo dessa releitura está na conhecida história sobre a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra, narrada no livro de Gênesis. Os inclusivos usam uma passagem bíblica do livro do profeta Ezequiel (Ezequiel 16:49) para reforçar sua teoria de que o grande pecado das duas cidades não foi a devassidão homossexual, mas a falta de hospitalidade e de justiça social. O texto bíblico afirma: “Eis que essa foi a iniquidade de Sodoma, fartura de pão e próspera ociosidade teve ela e suas filhas, mas nunca amparou o pobre e o necessitado”. Ausência de interesse por justiça social e de preocupação com os viajantes numa cultura nômade, onde ser hospitaleiro era um dos traços de generosidade mais importantes, são os grandes pecados que os teólogos gays atribuem a Sodoma e Gomorra.
 
Os pesquisadores tradicionais contestam. Dizem que aqueles que advogam apenas falta de cortesia ou de preocupação social por parte da população de Sodoma ignoram a passagem do livro de Judas, que afirma: “De modo semelhante a estes, Sodoma e Gomorra e as cidades em redor se entregaram à imoralidade e a relações sexuais antinaturais. Estando sob o castigo do fogo eterno, elas servem de exemplo”.
 
“Há uma tradição de 5 mil anos de história judaico-cristã-islâmica e até agora não surgira nenhum teólogo, nenhum exegeta que tivesse feito outra leitura desses textos. De Abraão até o século XX, não houve releituras. De repente, surge um grupo que teve uma iluminação”, afirmou, com ironia, em entrevista para o livro Entre a cruz e o arco-íris, de minha autoria, Dom Robinson Cavalcanti, arcebispo da Diocese de Olinda da Igreja Anglicana do Cone Sul da América. Dom Robinson, morto em 2012, acreditava que esse debate estava inserido num movimento cultural global, de caráter ideológico. “A Igreja teve os pais apostólicos, os pais da Igreja, os reformadores, a filosofia oriental ortodoxa, e ninguém nunca viu isso. Agora chegam os americanos e fazem uma releitura”, afirmou. “Trata-se de uma grande pirueta teológica.”
 
A discussão teológica é apenas uma das questões que pautam o difícil relacionamento entre as igrejas cristãs e os fiéis homossexuais. Quando se mergulha nesse universo, como eu fiz, fica claro que as igrejas ainda não estão dispostas nem preparadas para desenvolver uma pastoral adequada aos homossexuais, uma minoria que, como os leprosos nos tempos de Jesus, é deixada à margem e condenada ao isolamento.
 
O pastor Ricardo Barbosa, da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília, um experiente conselheiro de casais cristãos, resume bem a questão: “Ouvi de um rapaz que foi homossexual praticante durante muito tempo que nós afirmamos que a graça de Deus basta, que Deus ama o pecador. Cantamos para que eles venham como estão. Mas não no caso dos gays. No caso dos gays, pedimos que mudem primeiro. A Igreja deve manter o mesmo convite para todos, para que todos possam caminhar em direção à vida que Cristo nos oferece. A Igreja precisa se preparar para isso”.
 
Não se trata de uma conversa fácil e, nessa arena, muitos lutam com as armas de que dispõem em favor daquilo em que acreditam. Pastores surgem na televisão, inflamados, amaldiçoando a homossexualidade como o pecado sem perdão. Ativistas gays, por outro lado, combatem a postura das igrejas, na tentativa de amordaçá-las e impedi-las, por via legal, de ensinar o que as Escrituras Sagradas estabelecem a respeito do assunto. Assim descreve o teólogo e escritor Richard Foster: “A homossexualidade é um problema tão difícil de tratar dentro da comunidade cristã que tudo o que for dito será severamente criticado”.
 
Por mais que pareça estranho, muitos cristãos ignoram o fato de que há um rebanho formado por homossexuais que congrega, nas igrejas, anônimos, sem poder assumir quem são, levando vidas que Henry David Thoreau definiu como de “silencioso desespero”. São pessoas comuns, cristãos sinceros que nutrem o desejo de servir ao mesmo Senhor adorado pela maioria heterossexual. São homens e mulheres que foram aceitos pelo amor incondicional de um Deus que, segundo a Bíblia, não faz distinção entre as pessoas, mas que descobriram, na prática, igrejas que a fazem.
 
Por essa razão, é de esperar que as igrejas inclusivas continuem crescendo também no Brasil. Os líderes das comunidades evangélicas amigas dos gays preveem o dobro do número de fiéis nos próximos cinco anos. Mesmo essas congregações podem não ser a resposta ideal para alguns. A arquiteta Fátima Regina de Souza, um dos personagens de meu livro, frequentou por um tempo uma dessas comunidades, onde fez amigos. Ela não se adaptou. Não gostou da sensação de ficar confinada a um gueto.
 
Para Fátima, o lado mais difícil em sua viagem de autoconhecimento e autoaceitação é enfrentar o preconceito. Ela tem a impressão de que as pessoas sempre pensam que o homossexual cristão não fez tudo o que podia para mudar, não buscou a Deus o suficiente. “É como se a gente estivesse sempre em falta”, diz ela. “As pessoas lançam esse olhar de desconfiança sobre nós sem nem antes encarar os próprios problemas. Isso machuca muito. Com o tempo, a gente vai aprendendo a se proteger.”
 
Há alguns anos, Fátima voltou a reunir-se numa pequena e acolhedora congregação, em Ribeirão Preto, onde mora. Ali, diz ter encontrado cristãos que a amaram do jeito que ela é e, segundo diz, tornaram sua vida viável.
 
*A jornalista Marília de Camargo César, do jornal Valor Econômico, é autora de Feridos em nome de Deus. Seu novo livro, Entre a cruz e o arco-íris, foi lançado pela Editora Gutenberg em 14 de outubro