sábado, 2 de março de 2013

Artigo: Por que os atores gays da Globo não saem do armário?


 
 
Por medo de perder papéis? Por medo da avó? O preconceito diminui quando isso deixa de ser uma questão. Pensei outro dia: por que quase não existe ator assumidamente gay na Globo? Os poucos de que sabemos alguma coisa, nem assumidos são – nós é que não somos tontos e logo percebemos que eles se mexem e gesticulam demais na TV. Não que eu me importe com a sexualidade alheia, mas todo mundo sabe que nesse meio boa parte ali gosta da coisa. Então por que só meia dúzia, em meio a centenas de atores, fala abertamente sobre isso? Por que nenhum apresenta o namorado e o poodle do casal?
 
E tudo aquilo que sempre ouvi sobre artista ser liberal e mente aberta, jogo onde? Não é possível que no elenco de uma novela não tenha pelo menos uns cinco ali que beijam rapazes. Na Malhação, pelo menos uns dezoito.
 
Por alguma razão, talvez o medo de perder papéis importantes nas novelas, talvez porque a avó não desconfia de nada ainda, dificilmente um ator comenta o assunto. Mais fácil discutirem política, religião, padrões de tomadas e outras dessas polêmicas de sempre.
 
Está certo, é claro que eles estão no direito de não compartilhar suas intimidades. O que fazem na cama interessa somente a eles, e olhe lá. Sexualidade é um assunto privado. Como a opinião sobre a minha barba também deveria ser. Mas a questão nem é essa. Assumir a homossexualidade tem lá suas vantagens hoje em dia, mesmo para um ator da Globo com fama de comedor.
 
A mídia, por exemplo, adora quando uma pessoa famosa sai do armário. O público também. Cantores esquecidos e atores mortos já foram ressuscitados assim. Veja Ricky Martin. Agora espie a revista Serafina do último domingo: Miguel Falabella fala e não fala do assunto. “Detalhes não interessam a ninguém”, diz. Depois, em destaque: “Meus personagens são a minha maneira de fazer ativismo. Não preciso sair sacudindo bandeira na parada gay.”
 
Ficar dentro do armário não é um bom negócio. Levante as estatísticas; este é um assunto que gera muitos comentários e compartilhamentos de vídeos no Youtube.
 
Não sei do que um ator da Globo tem medo. Neil Patrick Harris, de How I Met Your Mother, um dos seriados mais populares hoje, faz papel de pegador e nem por isso se intimida de aparecer em público com o namorado e os bebês. A carreira dele não vai ser arruinada por sua sexualidade. Pelo contrário, os dois – ele e o namorado – sempre aparecem em capas de revistas.
 
Jodie Foster sacou muito antes as vantagens de se assumir. Gostamos mais dela também por causa disso. Os exemplos em Hollywood não faltam. Já no Brasil, mesmo com a fama de um povo que costuma despejar intimidades para a primeira pessoa que encontra na rua, poucos são os atores mais conhecidos que resolvem se abrir. Não sabem tirar proveito da coisa.
 
De repente estou sendo otimista com a reação do público aqui. Mas não consigo ver de outro jeito. Mesmo que uma celebridade perca fãs porque se assumiu, ora, esses eram fãs que nunca deveria ter. Assumir a homossexualidade também serve para isso, afastar os demônios. Todo mundo, uma vez na vida, deveria interromper um jantar em família e contar que é gay, mesmo que não seja. Quem sair correndo da mesa, já sabe, nunca serviu para você.
 
Marco Nanini disse que se assumiu como um ato político – há quem sustente que sair do armário seja um ato político. Não sei, de repente é. Eu acho mais é que todo mundo deveria se assumir de uma vez, com hora marcada. Virar bagunça. Deixar o assunto banalizado a ponto de ninguém mais se importar com celebridade que resolveu se abrir. Podia começar com os atores da Globo. Toda semana um deles se assumiria no Faustão, até que o povo não aguentasse mais.
 
E é assim mesmo que o assunto deveria ser encarado, como uma bobagem qualquer, como rotina. O preconceito diminui quando a homossexualidade deixa de ser uma questão. Homofobia não se combate revelando quem é gay, mas se esquecendo de que o cara é gay. Primeiro se assume, depois se esquece. O Brasil é tão atrasado que ainda não chegamos no primeiro passo.
 

Medida que facilita casamento civil homoafetivo entra em vigor em SP


 
Publicado pelo G1
Por Neide Duarte
 
Passou a vigorar nesta sexta-feira (1) em São Paulo medida que põe fim à burocracia para o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Antes, casais homossexuais tinham até que entrar na Justiça para oficializar a União.
 
Tirar os espinhos e deixar só as rosas. A luz delicada das velas. Silvio e Eduardo convidam: eles vão se casar. Os dois vivem juntos há 18 anos. Com o casamento, Silvio passará a usar o sobrenome de Eduardo. “Porque, para mim, carregando o sobrenome dele para mim, eu podia dizer que eu sou casado mesmo”, diz.
 
“Para mim, é uma honra passar o meu sobrenome para essa pessoa com que eu convivo há muitos anos, e pretendo conviver muito mais anos”, afirma Eduardo. Os costumes mais tradicionais dos casamentos heterossexuais alcançam também os homossexuais. Os procedimentos no cartório e os direitos de família passam a ser os mesmos: herança, partilha de bens, pensão alimentícia, seguro saúde.
 
“O artigo 5º da Constituição diz: todos são iguais perante a lei. Então, essa igualdade, estamos atingindo hoje em mais um ponto”, diz Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Agora, o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo não depende mais da decisão de um juiz, mas da vontade do casal.
 
“A grande conquista, portanto, está em tornar o afeto um elemento jurídico e dele poder se extrair direitos para os casais homoafetivos. E o afeto que é reconhecido para garantir que casais homossexuais saiam do limbo, saiam da invisibilidade jurídica, da invisibilidade do exercício de direitos”, afirma Dimitri Sales, advogado e membro da Comissão de Diversidade Sexual da OAB-SP.
 

MG: Representantes LGBT protestam na Praça 7 contra a morte de 128 travestis e transsexuais



Publicado pelo Estado de Minas
 
O quarteirão fechado da Rua Rio de Janeiro, na Praça Sete, Centro de Belo Horizonte, foi tomado, na tarde desta sexta-feira, por 28 pés de sapatos diversos, todos ornamentados com flores. Cada um simbolizava um travesti ou transexual que foi assassinado no país no ano passado. A manifestação foi organizada por representantes da Rede de Promoção da Cidadania de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT).
 
Ao promover o ato, a entidade teve como objetivo de despertar a consciência da sociedade e das autoridades para a necessidade de aprimorar políticas públicas de segurança voltadas para o público LGBT.
 
 
Vários órgçaos públicos apoiaram o protesto, entre eles a Secretaria Municipal Adjunta de Direitos de Cidadania. “A discriminação homofóbica tem sido uma das grandes preocupações em todas as regiões do mundo, a ponto de a Organização das Nações Unidas solicitar, em 2011, que a Alta Comissária de Direitos Humanos encomendasse um estudo para documentar leis e práticas discriminatórias contra as pessoas por motivo de sua orientação sexual e identidade de gênero”, afirmou o secretário adjunto José Wilson Ricardo.
 
Conforme relatório o Grupo Gay da Bahia (GGB), em 2012 128 travestis e transsexuais foram assassinados no Brasil. Para o coordenador do Centro de Referência pelos Direitos Humanos e Cidadania LGBT, Ramon Calixto, para impedir que essa situação se mantenha, são necessárias intervenções, como a ocorrida nesta sexta-feira, que promovam o debate público sobre a violação de direitos humanos. “Tornam-se cada vez mais importantes estas intervenções junto ao cotidiano da cidade, pois provocam uma leitura ampliada das lacunas sociais”, disse.
 
 

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Documentário acompanha vida LGBT nas favelas do Rio


 
Publicado pelo O Globo
 
O cineasta Rodrigo Felha estava filmando o tradicional jogo de queimado organizado pela MC Tati Quebra Barraco, em 2008, na Cidade de Deus, quando percebeu que, apesar de a brincadeira ser extremamente feminina, era a turma gay que chamava a atenção e fazia a diferença, dando graça e humor às partidas. Foi ali que surgiu a ideia de filmar “Favela gay”, um documentário que acompanha a rotina e as dificuldades de nove pessoas em assumir a homossexualidade nas comunidades de Vidigal, Rocinha, Complexo da Maré, Alemão, Andaraí, Rio das Pedras e Cidade de Deus.
 
Com produção de Cacá Diegues e Renata de Almeida Magalhães, que também apoiaram as duas incursões anteriores de Rodrigo no cinema (em “5xFavela — Agora por nós mesmos”, de 2010, e “5xPacificação”, de 2012), o filme vai ser exibido, no segundo semestre, no Canal Brasil.
 
Fora da militância
 
 
 
Além de a abordagem ser inédita — investigar como é a vida da comunidade gay nas favelas do Rio — “Favela Brasil” é um dos poucos filmes sobre a cultura homossexual feitos e pensados por um hétero.
 
— Não ser uma voz militante traz uma outra sensibilidade ao filme. Fiz várias descobertas durante a pesquisa, principalmente a de que existem mais gays do que nós percebemos, e nem todos seguem estereótipos de comportamento ou são visivelmente gays — conta Rodrigo.
 
A equipe vai trabalhar durante o carnaval acompanhando um dos personagens na Sapucaí: Carlinhos Borges, coreógrafo do Salgueiro. Bailarino desde os 14 anos, ele teve que esconder a orientação, durante um bom tempo por medo do tráfico, ao qual sua família estava relacionada. Outro personagem bem-sucedido é Jackie Brown, atriz do Nós do Morro e MC de um grupo de rap. Ela mostra a rotina ao lado da parceira Dejanete, no Vidigal.
 
No Complexo do Alemão, o presidente da Associação de Moradores é o Sombra, ex-travesti que, agora, tem uma figura supermasculina e comanda bailes funk com sua equipe de som. Já a travesti Rafaella emocionou a equipe, em Rio das Pedras, ao mostrar como tem conquistado a família, evangélica e tradicional, cursando faculdade de Biblioteconomia, na UFF, para vir a sustentar o núcleo familiar.
 
— O filme mostra como o mercado de trabalho recebe os travestis, oferecendo como opções salões de cabeleireiro e a prostituição. Rafaella, por exemplo, namora um homem e frequenta os churrascos e reuniões da família dele sem revelar a sua real condição. Apesar de toda a emoção que vem destes depoimentos, o filme também é muito divertido — garante o diretor, que diz ter percebido, nas comunidades pesquisadas, o aumento de meninas lésbicas e adolescentes que têm saído do armário, cada vez mais cedo, diante de uma comunidade não tão violenta pós-UPPs.
 
Sem guetos
 
Diferentemente da Zona Sul, onde a comunidade gay tem faixas bem delimitadas na areia da praia e bares e points específicos para frequentar, Rodrigo disse ter encontrado nas favelas uma comunidade gay bem inserida no convívio social, onde todos se misturam sem problemas.
 
— Apenas em Rio das Pedras encontramos o Energy Pub, que é frequentado pela turma LGBT, inclusive com casais trocando carinhos e manifestando afeto na calçada do bar.
 
Na área da militância, o filme acompanhou Gilmar dos Santos, presidente da ONG Conexão G, da Maré, que comanda o projeto “Aids e pobreza”, para minimizar a incidência de casos de HIV na comunidade e em outras favelas do Rio.
 
Outro personagem de destaque é a transexual Martinha, que organizou a primeira parada gay da Rocinha.