Dica de Augusto Martins
Uberlândia é a cidade de Minas Gerais com o maior número de candidatos a
vereador que declararam pertencer ao grupo de lésbicas, gays,
bissexuais, travestis, transexuais ou transgêneros (LGBTs). Dados do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indicam que o município tem cinco
candidatos que utilizam a causa gay como bandeira nas eleições deste
ano. No país, a cidade fica atrás somente de São Paulo, que tem dez
candidatos, e de Salvador, com oito integrantes do grupo LGBT que
concorrem a uma vaga no Legislativo.
Na disputa por uma cadeira na Câmara Municipal de Uberlândia estão os
gays Leandro Baronny (PRP) e Marquim do Shama (PC do B), a lésbica Odete
Afonso de Castro (PMDB) e as travestis Pamela Volp (PSDB) e professora
Sayonara (PSB). Na última eleição, em 2008, somente Odete Afonso havia
se candidatado para defender os interesses do movimento LGBT.
Em números proporcionais, considerando o dado do Censo 2010 de que
Uberlândia tem 70 mil homossexuais e o número de eleitores da cidade,
444.656, o público LGBT votante – estimado 51 mil – poderia eleger três
vereadores, caso todos votassem em candidatos LGBT.
Para a secretária da Associação Homossexual de Ajuda Mútua (Grupo
Shama), Tânia Martins, é importante que a classe tenha consciência do
poder de voto. “O aumento no número de candidatos foi expressivo. Os
eleitores LGBT precisam se politizar para escolher bons representantes”,
afirmou.
A união da classe não se aplica na política. Segundo Sayonara Nogueira,
os candidatos pertencem a partidos de ideologias distintas, fato que
inviabilizou uma aliança entre os cinco para a escolha de um nome que
representasse o grupo. “Sou de um partido de esquerda. A Pâmela Volp e o
Leandro Baronny, por exemplo, são de direita. Isso motivou a
candidatura de cinco pessoas em prol dos interesses de um público
comum”, disse a travesti.
A maior visibilidade do público LGBT e a necessidade de um representante
em processos decisórios são apontadas pelo cientista político João
Batista Domingues Filho como alguns dos fatores que explicam o aumento
do número de candidatos e um cargo no legislativo. “O público LGBT
percebeu que, para ser reconhecido em uma democracia, é preciso ter
representação política”, disse.
Candidatos falam de suas propostas
Nas propostas apresentadas pelos cinco candidatos do grupo LGBT ao cargo
de vereador em Uberlândia estão contemplados interesses do público gay e
da população em geral.
Representante dos professores transexuais de Minas, Sayonara Nogueira
afirmou que, além da bandeira GLBT, também vai atuar em prol da rede de
educação estadual. “Como profissional da área, conheço as carências do
setor”, disse.
Precursora do envolvimento GLBT na política, a candidata Odete Afonso,
funcionária pública municipal há 29 anos, também concorreu a uma vaga na
Câmara em 2000 e em 2008. “Em 2008 fui a única a levantar a bandeira do
movimento. Fico feliz por ter plantado uma ideia que está se
multiplicando”, afirmou.
Estreante no meio político, Leandro Baronny disse que é especulado há
quatro eleições, mas somente agora recebeu o convite de um partido
menor. “O PRP consegue eleger um vereador com menos votos, cerca de 2,3
mil. Acredito que é mais fácil”, disse.
Militante da classe LGBT há 26 anos, a travesti Pamela Volp é candidata a
vereadora pela primeira vez. Segundo ela, se houvesse acordo para a
escolha de um único candidato, a chance de ter um representante na
Câmara Municipal seria maior. “Com um nome o movimento poderia ser mais
forte, mas a política também envolve vaidade e ideias divergentes”,
afirmou.
À frente do Grupo Shama durante vários anos, Marcos André Martins, cujo
nome de urna é Marquim do Shama, afirma que somente agora se sente mais
maduro para concorrer ao cargo de vereador. “Surgi dentro do movimento
LGBT organizado. Pretendo defender causas das pessoas que ficam à margem
da sociedade, como negros e portadores de HIV.”
Candidaturas em âmbito nacional batem recorde
O aumento no número de candidatos a vereador que utilizam a causa LGBT
como bandeira também é percebido em âmbito nacional. Segundo a
Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (ABGLT), neste ano, o total é recorde no Brasil, com 144
concorrentes. Em 2008, a ABGLT registrou 79 candidatos. Para identificar
o ideal na campanha, muitos dos LGBTs inseriram o 24 no número da
candidatura.
Com o objetivo de instruir o grupo e estimular o voto consciente, os
homossexuais elaboraram a Cartilha LGBT para as eleições deste ano e a
de 2014. Entre as orientações, estão recomendações como “não votar em
candidatos de coligações que envolvam partidos que concentram a maioria
de deputados homofóbicos”, “desconfiar das legendas com integrantes na
Frente Parlamentar Evangélica”, “votar em candidato LGBT ou pró-LGBT”.
Principais Propostas
Leonardo Baronny (PRP)
Implantar a 1ª Delegacia de Intolerância Homofóbica de Uberlândia
Combater a homofobia
Criar calendário de atividades voltadas ao público LGBT
Marquim do Shama (PC do B)
Criar um centro de referência de direitos humanos LGBT
Incluir a Parada Gay no calendário oficial dos eventos de Uberlândia
Criar uma lei municipal que puna cidadãos e empresas por atos discriminatórios por orientação sexual
Odete Afonso (PMDB)
Propor legislação que prevê cassação de alvará de estabelecimentos que discriminem público LGBT
Identificação pela identidade de gênero com o nome social
Prevenção da homofobia nas escolas
Pâmela Volp (PSDB)
Inclusão social de direitos e garantias específicas do público LGBT
Assistência a grupos em situação de vulnerabilidade
Garantir a utilização do nome social na rede municipal de saúde
Professora Sayonara (PSB)
Criação de um centro de referência de diversidade sexual
Política de inclusão das travestis e transexuais nas escolas
Criação de uma carteira de identidade social