sábado, 9 de junho de 2012

Preconceito não impede maternidade de mulheres lésbicas



Por Victor Francisco Ferreira | Agência USP
Dica de Augusto Martins 

A maternidade é um direito de todas as mulheres e o sonho de algumas. Contudo, quando se trata de mulheres lésbicas que buscam a gravidez – por meio de doadores de sêmen, sejam eles conhecidos ou desconhecidos – o preconceito fica evidenciado.

Uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP entrevistou 12 mães ou futuras mães lésbicas e constatou casos de preconceito por parte de alguns profissionais da saúde quando buscavam o serviço de reprodução assistida. “Houve um relato de um médico que se recusou a fazer o serviço por questões religiosas. E também uma das mulheres, cuja parceira queria engravidar, foi chamada de ‘gala-rala’ por um médico”, conta a pesquisadora formada em enfermagem Maria Eduarda Cavadinha Correa. “‘Gala-rala’ é uma expressão utilizada no nordeste brasileiro que se refere pejorativamente a um homem infértil.”

Maria Eduarda é autora do estudo de doutorado Duas mães? Mulheres lésbicas e maternidade, apresentado na FSP em abril. Ela conta que, das 12 entrevistadas, 11 disseram ter desejado em algum momento da vida ser mãe. “Quando elas se assumiam como homossexuais, algumas disseram ter refletido sobre a possibilidade de ser ou não mãe, se elas ainda teriam esse direito”, conta a pesquisadora. “Mas isso não as fez desistir desse sonho.”

O preconceito, muitas vezes, vinha também da relação das mulheres com a família. Maria Eduarda explica que havia três níveis de aceitação familiar à homossexualidade: aquelas que aceitavam bem, as que aceitavam razoavelmente e também as famílias que não aceitavam. “A reação de alguns familiares ao verem as mulheres grávidas era dizer ‘que bom que você se curou’. A homossexualidade seria uma doença e a gravidez, a cura. Isso porque existe aquela imagem da mãe como uma personificação da pureza.”
Métodos

Os métodos conceptivos buscados foram variados. As mulheres preferiam ir a alguma clínica para fazer reprodução assistida — que engloba inseminação artificial, fertilização in vitro e a injeção intracitoplasmática do espermatozóide — onde poderiam escolher um doador de esperma anônimo, para que a experiência de criar uma família fosse exclusivamente do casal, e que tivesse algumas características físicas desejadas pelas futuras mães. “Em um dos casais, por exemplo, a mãe que não engravidaria tinha descendência japonesa. 

Por isso, elas escolheram um doador que fosse descendente de japoneses, para que a criança parecesse fisicamente com as duas mães. Isso ajuda a criar a identidade do núcleo familiar e facilita também na aceitação da criança pelos familiares das mulheres”, afirma Maria Eduarda.

Além da reprodução assistida, outros possíveis métodos a serem utilizados são a inseminação caseira ou a relação heterossexual ocasional para fins reprodutivos. Na inseminação caseira, a mulher usa a tabelinha para controlar seu período fértil, compra o equipamento necessário e precisa contar com a doação de esperma, geralmente de alguém de confiança, para fazer aplicação.

Todos esses métodos, porém, são caros e exigem uma boa condição financeira de quem deseja utilizá-los. Cada tentativa de inseminação artificial pode custar até R$ 25 mil. Por isso, quem não tem muito dinheiro precisa usar outros métodos.

Entre as participantes do estudo, uma teve uma trajetória diferente das outras. “Todas as outras vinham de classe média, tinham desejado ser mães em algum momento da vida. Mas uma delas nunca tinha desejado ser mãe e tinha uma condição social inferior”, conta. Solteira, ela resolveu ter um filho pois havia sido diagnosticada com câncer de útero. “Ela teria que retirar o útero. Então, até um pouco por pressão da família e da equipe médica, resolveu engravidar”. Como não possuía condições de pagar uma clínica, ela pediu a ajuda de um amigo, também homossexual, que aceitou ter relações sexuais para que ela engravidasse. “Ela contou que foi horrível. Depois de três tentativas já não aguentava mais e pensou desistir, mas na terceira vez ela engravidou.”

Ropa

Outro aspecto considerado positivo pelas mulheres era a técnica de Recepção dos Óvulos da Parceira (ROPA), que permite a participação das duas mães na geração da criança. Uma cede o óvulo e a outra tem a gestação. Na época das entrevistas, realizadas entre 2009 e 2011, um casal estava tentando engravidar com a ROPA, mas não obteve sucesso, e outra mulher já tinha uma criança nascida com a utilização da técnica. “Todas viam a ROPA como uma ótima possibilidade de as duas parceiras participarem da gravidez”, afirma Maria Eduarda. De acordo com a legislação brasileira, mãe é aquela que gerou e pariu o filho. Com a ROPA, porém, a maternidade genética é da mãe que cedeu o óvulo e a maternidade biológica é da mãe que gestou e pariu a criança. A técnica acaba sendo, também, uma forma de auxílio em questões jurídicas de reconhecimento de maternidade.

Mesmo assim, a ROPA não é garantia de que a dupla maternidade seja reconhecida. Uma das mulheres que participou do estudo estava, à época das entrevistas, passando por um processo de separação. Como a parceira foi quem gestou a criança, ela foi proibida de visitar a filha.

A dificuldade encontrada pelas lésbicas para exercer o direito à maternidade se deve, em grande parte, à falta de uma legislação reguladora para o caso. “Cada juiz, clínica ou cartório acaba agindo da forma que decidir. As clínicas podem, por exemplo, não aceitar realizar o processo de reprodução, fazendo com que as lésbicas precisem procurar o serviço como solteiras. Os cartórios podem também não aceitar que a criança tenha o sobrenome das duas mães”, conta Maria Eduarda. Segundo ela, entre as entrevistadas, todas as mulheres que tentaram conseguiram “empurrar” o sobrenome das duas mães no nome da criança. “Apesar de muitas terem êxito em colocar os dois sobrenomes, é bom salientar que isso não implica em ganhos de direitos”, completa.

"A paternidade revelava que afeto não tem cor" Por Andréa Pachá



Por Andréa Pachá para o Consultor Jurídico

Dica de Augusto Martis
— Qualquer homem decente teria feito a mesma coisa, dona juíza. Imagina se eu ia deixar o moleque morrer sem atendimento porque não tinha registro. Não era meu filho, mas era como se fosse.

Antes de completar um ano, Juninho precisou de uma intervenção cirúrgica. Não tinha certidão de nascimento. O pai sumiu e nunca providenciou o documento. Cristiane e Emerson foram vizinhos durante a infância. Na adolescência, cada um tomou seu rumo. Poucas vezes se encontraram.

Em momento de desespero, sem o apoio da família, rejeitada pelo companheiro, reencontrou o amigo que, sem pestanejar foi ao cartório e declarou que era o pai. O único pedido era dar o seu nome à criança, no que foi prontamente atendido pela mãe, naquelas circunstâncias.

O que teria sido apenas um ato de solidariedade transformou-se em exercício real de paternidade. Nascia ali uma geração espontânea de pai, sem sêmen, sem cadeia genética. Apenas uma vontade inexplicável de cuidado e um vínculo fortalecido todos os dias pelo afeto.

Emerson permaneceu ao lado de Cristiane no hospital e, como seu trabalho era no turno da noite, não fazia qualquer sacrifício para cuidar de Juninho enquanto a mãe do menino trabalhava.

Nunca foram namorados. Jamais dividiram o mesmo teto. Uma ponta de amor platônico era percebida pela moça, que cultivava cuidadosamente a dependência, com manifestações de carinho que poderiam ser confundidas no máximo com proximidade fraterna.

Ele nunca foi capaz de abordar a amiga de uma forma mais ousada. Não sentia segurança e temia perder a intimidade que lhe fazia tão bem. Se Emerson tinha qualquer desejo, escondeu até mesmo de si, contrariando aquela verdade conhecida de que não há amizade sem mais nada entre um homem e uma mulher.

Emerson tinha uma vida previsível. A grana nunca sobrava. Trabalhava, namorava, estudava no supletivo. Incorporou Junior à sua rotina e, mesmo depois de casar com Selene, continuou a conviver com o menino que passava todos os fins de semana na sua casa.

Era tão natural o vínculo entre ele e Júnior que ninguém nunca se preocupou em ter uma conversa sobre o assunto. Mas, para Júnior, aos seis anos, ainda não era um incômodo a brincadeira das crianças mais velhas, no colégio, sobre o filho loirinho do pai negão. Crianças também sabem ser cruéis, nessa idade.

Cristiane precisou viajar repentinamente. Disse que ia cuidar de uma avó doente, em outra cidade. Durante oito meses, o menino morou com Emerson. Na volta, as grandes e profundas transformações exigiram do rapaz uma postura menos tolerante e dócil com a mãe da criança.

Cristiane, na verdade, partira para reencontrar Túlio, o pai de seu filho. Ele mudou muito nesses anos. Deixou a vida errada e estava pronto para assumir sua família. Já alugara uma casinha e estavam morando juntos.
A resistência feroz de Emerson obrigou Túlio a ajuizar um processo de reconhecimento da paternidade. Ele queria anular o registro de nascimento e mudar o nome do filho. Não era razoável o filho ser dele e ter o nome de outro homem.

Nem foi preciso um exame de DNA. Juninho e Túlio, branquinhos e loiros, tinham o mesmo cabelo encaracolado e a mesma covinha na bochecha direita.

Na audiência, Cristiane preferia não opinar. Era louca por Túlio. Já perdoara o abandono. Em nome dessa paixão, deixou o filho, sem notícias suas, durante meses.

Por outro lado, era grata a Emerson. Sabia que, se não fosse por ele, Juninho não estaria vivo.

O seu lugar de mãe estava preservado, reinava hegemônica do alto de seu trono, sem qualquer ameaça. A decisão sobre quem era o pai era um problema da Justiça. Para isso existiam os juízes.

Testemunhas foram ouvidas, psicólogos entrevistaram os pais, a mãe e o menino. Parecia uma decisão simples. Não era.

Enquanto os fatos e as versões desfilavam na minha frente, a dúvida foi se aprofundando. Era justo condenar o pai biológico à impossibilidade de assumir seu filho por uma decisão impensada da juventude? Era correto, depois de tanto tempo, negar a Emerson o direito de ser pai, ainda que o registro tenha sido feito de maneira ilegal e falsa?

No auge das minhas reflexões silenciosas, pedi para Juninho entrar na sala. Já havia terminado a audiência.
Correndo, rindo muito, passou ao largo do lugar onde sentava Túlio e, de braços abertos, mergulhou no colo de Emerson, acariciando seu rosto.

O contraste entre as cores das peles e a intensidade do afeto era o quadro eloqüente de que o preconceito é uma invenção despropositada e decadente que não deveria encontrar eco na humanidade.

Juninho, aos seis anos, já era um indivíduo. Sabia seu nome. Reconhecia seu lugar. Tinha referência da figura paterna e identificava Emerson como seu pai.

Uma certidão de nascimento era somente um corte no enredo da existência. Um corte importante, é verdade, um instrumento de inclusão social. Mas...

Decidi preservar a história de Júnior escrita a partir do documento. Muito mais que um vínculo biológico, a paternidade é uma obra de construção cotidiana.

Mesmo insegura para definir a paternidade e as referências daquela criança, como se eu estivesse usurpando um de seus maiores direitos, o direito à identidade, conclui que, se preservada sua segurança, o tempo se encarregaria de contar outras histórias possíveis, que não cabiam numa certidão de nascimento.
Além disso, pareceu, naquele momento, que Túlio estava mais preocupado em consolidar sua relação com Cristiane.

Mantive a paternidade de Emerson. O convívio com o pai biológico viria naturalmente, com as portas abertas para o estabelecimento de mais esse vínculo afetivo.

A vida é muito maior e muito mais imprevisível do que a burocracia que cabe numa certidão.

As múltiplas formas de paternidade e as mais diversas manifestações de amor, se conjugadas, fortalecem uma sociedade mais democrática.

É, no fim, uma equação simples. Quanto mais afeto, maior a possibilidade de justiça.

*Esta crônica faz parte de uma experiência literária da juíza Andréa Pachá que, junto com outros textos, deverá em breve se transformar em livr

Pesquisa revela que quase 35% dos participantes da Parada LGBT de SP do ano passado se disseram heterossexuais




Dica de Augusto Martins

Quase 35% dos participantes da Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros) de São Paulo do ano passado se disseram heterossexuais, segundo pesquisa realizada pelo Observatório do Turismo, núcleo de estudos da SPTurismo, empresa municipal de turismo e eventos. Os que se disseram homossexuais somam 49,5% e bissexuais 15,8%.
A pesquisa foi realizada com o público do evento e também junto à cadeia produtiva para conhecer o impacto do segmento na economia da cidade. 
Segundo o levantamento, 16,2% do público da Parada era composto por não-residentes em São Paulo, sendo 11,3% da Região Metropolitana e 4,9% eram turistas vindos principalmente de cidades do interior do Estado de São Paulo e de Estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco, além de estrangeiros dos Estados Unidos, Inglaterra, África do Sul e Itália.
O estudo apontou também que os visitantes permaneceram, em média, 5,8 dias em São Paulo e gastaram durante o período cerca de R$ 1813.
Na avaliação da cidade feita pelos turistas, os aspectos que mais se destacaram foram os atrativos, compras e gastronomia. Já com relação à avaliação do evento feita pelo público como um todo, o local, a organização e os trios elétricos foram os itens melhores avaliados. Este ano, o levantamento será realizado novamente durante o megaevento.
Com relação à cadeia produtiva, a pesquisa mostrou o impacto da Parada na economia no comércio da cidade. Dentre os 86 estabelecimentos gay friendly contatados, verificou-se que esses locais têm aumento de 20 a 25% no faturamento devido à Parada e houve um aumento de 30% nas contratações, sendo principalmente nas áreas de atendimento, bar, cozinha, atividades artísticas e vendas.
Os empresários que participaram da pesquisa também afirmaram que, apesar de a Parada acontecer num feriado prolongado, o que geralmente faz com que seus clientes regulares saiam da cidade em viagem, esse fato é amplamente recompensado pela chegada de milhares de turistas atraídos pelos eventos e festas que fazem parte do calendário LGBT, com destaque também para as casas noturnas, que lotam todas as noites no período que compreende a semana da Parada.
Além da boa estrutura dos serviços, as compras, que vão da Rua Oscar Freire, ao bairro do Brás, são citadas como diferencial da cidade pelos turistas LGBT e contribuem de forma significativa no impacto econômico da Parada na receita turística da cidade. Entre os entraves, a cadeia produtiva apontou dois: as dificuldades nos aeroportos e a mobilidade urbana.
Acesse aqui a pesquisa na íntegra.
Confira outras informações sobre o perfil do público da Parada LGBT

Procedência do público
São Paulo – 83,8%
Não-residente em SP (visitantes) – 16,2%
Região metropolitana – 11,3%
Turistas – 4,9%

Gênero
Homem – 41,1%
Mulher – 58,9%

Faixa etária
18 a 24 anos – 38,1%
25 e 29 anos – 28,4%
30 a 39 anos – 19,1%
40 a 49 anos – 8,1%
50 a 59 anos – 5%
60 anos ou mais – 1,3%

Escolaridade
Pós-graduação – 3,3%
Superior completo – 21,2%
Superior Incompleto – 21,2%
Médio – 45,4%
Fundamental – 6,5%
Básico – 2,4%

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Professor é contratado e demitido horas depois por ser gay



Um professor de música foi contratado por uma escola cristã em Ohio. Horas depois, Jonathan Zeng foi demitido. Motivo: ser gay.

Durante uma conversa com os empregadores, foi perguntado a Jonathan, de 30 anos, qual a opção sexual dele. Como disse ser gay, sua carreira na Armleder School foi abreviada, contou o "Cincinnati.com".

A direção da escola disse ter agido de acordo com uma diretriz que impede a contratação de homossexuais, já que eles, como estariam no meio de crianças, poderiam afetar a santidade do casamento entre homens e mulheres.

"Falei a eles que nós, como seguidores de Cristo, temos que mostrar amor a todos, sem julgamento", comentou o professor à emissora WCPO.

Marcelo Tas comenta relação com a filha homossexual


Visto na Band
Em abril do ano passado, Marcelo Tas expôs a orientação sexual de sua filha, em rede nacional, em resposta às declarações homofóbicas do deputado federal Jair Bolsonaro. O apresentador foi extremamente elogiado por quebrar as barreiras e mostrar um grande orgulho por Luiza, que hoje está com 23 anos.
Segundo ele, a revelação da homossexualidade veio em uma conversa com a própria filha, que na adolescência seguiu uma tendência dos amigos da escola e passou a ficar tanto com meninos quanto com meninas. “Eu fui conversar com o diretor e, para me tranquilizar, ele contou que isso era normal”, explicou.
Luiza é fruto do primeiro casamento de Tas, que também tem Miguel, 10 anos, e Clarice, 6 anos, com Bel, a sua atual mulher. “Para os meus filhos, essa situação é a coisa mais normal do mundo, eles estão crescendo sem preconceito”, afirmou.
Quando a Luiza te falou que era homossexual?
Foi na adolescência, enquanto ela estava no colégio. Devia ter uns 16 anos.
Como você reagiu à notícia?
É sempre uma coisa que te deixa surpreso, mas a primeira coisa que eu fiz foi compartilhar isso com amigos, com a minha ex-mulher, mãe dela, e com a minha atual mulher. A segunda coisa foi ir até a escola conversar com o diretor e com orientadores.
Ela sofreu preconceito na escola?
Não, eu só quis saber como essa situação estava sendo levada pelos educadores e se aquilo tinha atrapalhado o desempenho dela. Claro que eu falei com ela se eu poderia conversar com o diretor, e ela achou ótimo! A minha surpresa foi descobrir que isso era algo muito comum na escola. Nessa idade rola muita coisa. Ela ficava com garotas e garotos, e isso acontecia com a maioria dos alunos.
E a sua família, como lidou?
O meu temperamento é tranquilo. Eu não consigo viver uma coisa pela metade. Na minha família houve quem ficasse mais chocado, mas eu conversei sobre isso de maneira muito direta. Tiveram outros casos na família que também são homossexuais e ficaram mais tranquilas em assumir. Eu ajudei a abrir essa porta. (risos)
Como é a sua relação com os seus três filhos?
Eu tenho uma proximidade muito grande com eles, que se sentem à vontade para dividir as coisas comigo. E eu sou um ótimo ouvido.
E mesmo separado da mãe da Luiza, você continuou presente na vida dela?
Sim, muito. A relação pai e filho tem que ser contínua. A proximidade depende do temperamento das pessoas. Eu não acho que o pai tem que ser totalmente próximo e saber tudo o que acontece com o filho, porque isso às vezes só vira uma polícia.
Tem muito pai que passa a temporada da infância mais próxima dos filhos e depois se distancia achando que estão criados. Aí quando o filho se mete numa roubada, o pai fica surpreso porque o filho está consumindo drogas ou envolvido com algo não muito bacana. Você tem que sair com eles, convidar para jantar, cultivar e manter uma conexão. Não adianta só ter o cargo “pai”.
A Luiza já te apresentou namoradas?
Sim, claro. A atual namorada da Lu é muito próxima de nós, fica lá em casa com a família... Ela é americana, pretende vir morar no Brasil, e as duas estão cheias de planos. Para os meus filhos pequenos, é a coisa mais normal do mundo. A Clarissa, de 6 anos, fala sobre isso com a maior naturalidade do mundo. Eles crescem sem preconceito.

Casamento gay realizado no exterior é reconhecido pela Justiça do RS


Visto no JusBrasil
A decisão permitiu o reconhecimento pela Justiça brasileira de um casamento gay realizado em Bristol, na Inglaterra, entre um brasileiro e um britânico. O juiz Luís Antônio de Abreu Johnson, membro do IBDFAM que atua na comarca de Lajeado (RS), é o responsável pela inovação.
Na ação, o autor requereu ao Oficio do Registro de Pessoas Naturais do município a adoção de providências para encaminhar o pedido de traslado de sua Certidão de Registro de União Civil mantida com um cidadão inglês, lavrada na Inglaterra, e legalizada no Consulado do Brasil em Londres. No assento do casamento, constará como regime matrimonial a comunhão parcial de bens, e o britânico passará a adotar o sobrenome do brasileiro. O parecer pela procedência do pedido, da promotora Velocy Melo (MP/RS), também sócia do IBDFAM, foi acatado na íntegra.
Segundo o magistrado Luís Antônio Johnson, "na mesma trilha do que decidiu o Supremo Tribunal Federal na ADI nº 4.277 e ADP nº 321, a decisão do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul reafirma a força normativa emanada do texto constitucional, notadamente a proibição de discriminação das pessoas em razão do sexo, seja no plano da dicotomia homem/mulher (gênero), seja no plano da orientação sexual de cada qual dos cidadãos brasileiros. Rende homenagem ao pluralismo como valor socio-político-cultural. Ademais, reafirma o princípio da liberdade da pessoa humana para dispor da própria sexualidade, inserido na categoria dos direitos fundamentais do indivíduo", disse.
Em relação à adoção por casais do mesmo sexo, Johnson defende que o tratamento deve ser igual ao outorgado a um casal heteroafetivo."No Estado do Rio Grande do Sul há inúmeras decisões do Poder Judiciário deferindo adoções a casais homoafetivos, respeitando o procedimento e os requisitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente", garantiu. Para ele, quando o Judiciário autoriza decisões inovadoras como esta não há uma afronta à separação dos Poderes porque "o juiz não está legislando, mas decidindo um caso concreto que lhe foi submetido e não se há de esquecer que o Código de Processo Civil ordena que o Juiz não poderá deixar de decidir alegando lacuna ou ausência de lei. Deverá decidir, na ausência de lei, de acordo com os princípios constitucionais e os gerais de Direito, com base no princípio da equidade e dos precedentes jurisprudenciais. E, no caso que julguei, há a laboriosa decisão do Supremo Tribunal Federal do ano passado, que é um verdadeiro tratado sobre a matéria", afirmou. De acordo com o juiz, as resistências do legislador em avançar em temas como o casamento gay "estão ligadas, ao que me parece, às bancadas religiosas, que se constituem em maioria no Congresso Nacional", afirmou.
Garantia de direitos 
Para a promotora Velocy Melo, as decisões judiciais que reconhecem e concedem os direitos homoafetivos são um passo importante. "Duas outras medidas essenciais precisam ser tomadas: a primeira delas deve advir do Poder Legislativo, de modo que sejam positivados em nossa legislação os direitos homoafetivos recorrentemente já reconhecidos pela tutela jurisdicional, atitude esta que pacificaria a matéria e evitaria o ingresso de muitas ações judiciais; a segunda, por sua vez, tem de ser promovida pelo Poder Executivo através de políticas públicas afirmativas destinadas à promoção da igualdade, da não-discriminação, do combate à homofobia etc", disse. Segundo Melo, há nas áreas do Direito que envolvem a família, o idoso e a criança e adolescente uma forte atuação extrajudicial do MP, muitas vezes desconhecida do público em geral, na qual o agente ministerial desenvolve o papel de integrador do núcleo familiar, conciliando e orientando as famílias na persecução de seus direitos.
Ela destaca que decisões como esta, nas quais vê a Justiça contemplando os ideais de Direito de Família pelos quais luta em 25 anos de carreira, lhe dão mais animação e mais fôlego. "É o reconhecimento do meu trabalho como promotora de Justiça e dos estudos e pesquisas sobre Direito de Família que participo, algumas das quais junto do IBDFAM. Além da união homoafetiva, já tivemos várias situações jurídicas excepcionais nos quais a opinião desta Promotoria serviu para embasar decisões judiciais, como foram os casos da interrupção de gravidez de feto com anencefalia, gravidez de substituição (popularmente conhecida como"barriga de aluguel") e a dupla paternidade registral", disse.
Na visão da promotora, o Estatuto das Famílias (PL 674/2007), em tramitação na Câmara dos Deputados e de autoria do IBDFAM, é um importante avanço porque supre inúmeras lacunas legislativas, sintonizando a lei e o Direito com as atuais e diversificadas famílias da sociedade moderna."Entretanto, só mudar a legislação não basta para contemplar todos os anseios sociais. Em relação às entidades familiares homoafetivas, por exemplo, temos uma circunstância muito delicada a ser tratada, que é a homofobia. Repito o que disse anteriormente: além de alterações legais, necessita-se da implantação de políticas sociais que busquem a conscientização e a tolerância. Infelizmente, no diaadia do meu trabalho, verifico que o preconceito, ainda mais que silencioso do que nos tempos de outrora, se mantém latente, não apenas em relação à orientação sexual da pessoa, mas também relativamente à sua idade, ao seu sexo, à sua raça. No final das contas, acabamos percebendo que a melhor solução dos problemas sociais é antiga e conhecida: educação", finalizou.
Autor: Assessoria de Comunicação do IBDFAM (Com informações da Assessoria de Imprensa do TJ-RS)