Faixas com frases racistas, machistas e homofóbicas encobriram nesta semana os vitrais e colunas do prédio histórico da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). A intervenção, feita pelo grupo feminista da escola, tinha o objetivo de revelar manifestações preconceituosas que teriam sido ditas pelos próprios professores em aulas da faculdade.
Entre as declarações nos cartazes estão a de que "gay não é confiável", "o assédio sexual é insignificante" e "homem não sabe por que bate, mas mulher sabe por que apanha". Segundo o grupo feminista da faculdade, chamado Dandara, as queixas sobre preconceito nas classes são recorrentes, mas aumentaram nos últimos meses. Nas faixas, não há identificação da autoria das frases.
"É absurdo. Fizemos a intervenção para mostrar que isso está errado, principalmente em um lugar onde se discutem os direitos e o cumprimento da lei", relatou a estudante Ana Lídia Cavalli, de 19 anos, que integra o grupo feminista. A iniciativa teve apoio do centro acadêmico da unidade.
Na opinião da aluna de Direito, a intervenção também ajuda a encorajar mais denúncias. "Muitos se calam porque não se sentem confortáveis para falar. Quando existe respaldo de um grupo, o medo diminui", afirma Ana Lídia. De acordo com a jovem, os universitários evitam levar o problema à diretoria, com medo de retaliações dos professores envolvidos.
O diretor da Faculdade de Direito, José Rogério Tucci, no cargo há pouco mais de um mês, afirmou que desconhece o conteúdo das reclamações das estudantes e vai procurar os envolvidos depois de amanhã. "Confesso que não soube, mas pretendo resolver esse problema no diálogo", declarou. "Não queremos atitudes discriminatórias", disse.
Polêmica. Uma denúncia de suposto racismo de um professor também acirrou na última semana os ânimos de alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP nas redes sociais. Mais de uma versão sobre o mesmo episódio repercutiu na internet.
O professor do Departamento de Geografia da FFLCH André Martin foi acusado de chamar haitianos de "macacada" durante uma classe noturna em que falava sobre a participação das tropas brasileiras no país da América Central. Segundo a versão de alguns estudantes, o docente teria dito que "se o exército brasileiro não estiver lá (no Haiti), quem vai por ordem na macacada?".
Martin rebateu a história em carta aberta, divulgada nas redes sociais. No texto, ele se disse "estupefato diante da repercussão do caso". Segundo a versão de Martin, a frase correta seria: "E se as tropas brasileiras não estivessem no Haiti? Eles iriam se pegar e aí o imperialismo norte-americano diria: "nós temos de intervir para pôr ordem nessa macacada".
O professor também se dispôs, na carta, a pedir desculpas a um estudante ofendido que teria abandonado a classe por causa da declaração. Dias após a polêmica, Martin também conversou com alguns alunos, autores da reclamação, para debater o problema. Nenhuma denúncia formal chegou à diretoria da FFLCH. Também não houve registro na Ouvidoria da USP, assim como sobre o caso da Faculdade de Direito. Segundo o órgão, todas as queixas devem ser repassadas por escrito para apuração com os responsáveis.
Publicado pelo Estadão
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