Por Marise Felix da Silva para a Revista Lado A
Descobrir que uma filha ou filho é homossexual, é como engolir
uma pedra, pesa no estômago e se espalha por todo o corpo. A primeira
pergunta é: por quê? Por que isso esta acontecendo com minha filha ou
filho? Por que isso está acontecendo comigo? O que a minha família vai
dizer? E a gente se sente mais culpada ainda, pois estamos sendo
egoístas – 'comigo' é o pensamento.
Esquecemos a personagem principal: a filha ou filho que sempre
esteve ao nosso lado se mostra, agora, diferente – ela ou ele é
homossexual. Mas pare aqui! O que é ser homossexual? A primeira coisa
que nos vem à cabeça é que 'elas e eles' são errados, estão na contra
mão do que EU SEI que é certo, afinal, meus outros filhos não são
homossexuais então, essa ou esse jovem não deveria se-lo também.
Ser homossexual assumido implica em se expor para a sociedade, e
logo vem o pensamento: tenho que proteger minha ou meu rebento, tenho
que protegê-la/o da família, tenho também que me proteger. E começamos
um novo caminho de descobertas de um mundo paralelo. Sim, paralelo,
pois estava ao nosso lado desde sempre mas a gente não viu, não nos
interessava. E agora que interessa não sabemos por onde começar, mas de
alguma forma começamos e encontramos outros iguais nessa busca.
De repente, a vida fica diferente, a gente começa a perceber coisas
–sons, cores, pessoas- que nunca tínhamos reparado antes. O que? O
mundo mudou? Não, nós mudamos, e nossa forma de ver o mundo muda com a
gente.
Tem a fábula do rei que vai escolher seu conselheiro e põe
no centro da sala um rico vaso e diz: Esse é o problema que vocês vão
resolver. Todos circulam o vaso e pensam e pensam... até que o mais novo
e mais desacreditado dos candidatos vai lá e quebra o vaso em mil
caquinhos. Pronto, foi o escolhido, pois o problema não existia mais.
Nossos jovens ao se assumirem homossexuais muito cedo estão resolvendo
um problema, pois viver se escondendo é abrir portas pra violência que a
sociedade infringe a cada um em situação marginal pois sua própria
família o rejeita. Ao 'quebrar o vaso' e dizer eu sou homossexual o
nosso jovem esta sendo muito corajoso, esta dizendo que tem mil e uma
qualidades e que é também homossexual, vai fazer dos caquinhos do vaso
um lindo caleidoscópio para enfeitar sua vida.
Nessa caminhada desde que se engole a pedra passando pela quebra
do vaso e fazendo um caleidoscópio, muita coisa muda na nossa vida, se
nos permitirmos sermos humanos além de pais, perceberemos que somos
feitos do mesmo material que nossos filhos, que também tínhamos um vaso
chamado preconceito e, ao quebrá-lo, nos tornamos melhores pessoas. Ao
usarmos o caleidoscópio da vida haverá dias de imagens ruins mas na
maioria da vezes as formas e cores formadas por essa nova composição de
vida será sim muito mais prazerosa.
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