Publicado pelo Terra
Por Allan Brito
A maioria dos atletas de MMA teve a primeira luta em cima do octógono. Mas com a brasileira Jessica Andrade foi diferente. Nascida no interior do Paraná, desde cedo ela fez trabalhos braçais, na roça, em uma farmácia, como motorista e até em um Pesque-pague. Depois disso, quando virou lutadora, enfrentou também lutas contra o preconceito, tanto por ser mulher quanto por ser homossexual. Mas tudo foi superado e agora ela fará história: neste sábado, em Washington, Jessica estreará na maior organização de MMA do mundo e fará a primeira luta inteiramente gay na história do Ultimate Fighting Championship (UFC), contra a americana Liz Carmouche.
Jessica tem apenas 21 anos e se tornará a quarta pessoa mais jovem competindo atualmente no UFC. Realmente tudo sempre foi rápido para ela: além de ter trabalhado desde cedo, a paranaense começou a lutar há apenas dois anos. Começou com o judô na escola, passou para o jiu-jitsu, experimentou o muay-thai e logo começou a fazer sucesso no MMA por misturar todas essas artes marciais. Mas não sem antes enfrentar outra pequena "luta" em casa: "minha mãe sempre teve medo de mim, que eu me machucasse", contou ela, em entrevista ao site do UFC.
Assim como todos lutadores de MMA, Jessica tem um apelido, "Bate Estaca", que já virou comum. É o nome de um golpe permitido no UFC, mas proibido no jiu-jitsu. E foi exatamente em uma luta da "arte suave" que ela resolveu utilizá-lo, batendo as costas da adversária no tatame. Então criaram o apelido, que ela não gostou no início e por isso rapidamente "pegou".
O que também funcionou rapidamente foi a vontade de entrar no UFC - Jessica estreou no MMA no final de 2011, fez uma sequência incrível de onze lutas em pouco tempo e conquistou nove vitórias. Por causa desse bom cartel ela foi chamada em cima da hora para enfrentar Carmouche. Coincidentemente, a americana também é assumidamente gay e ativista da causa homossexual.
Jessica é casada com Ana Carolina e diz que sua
orientação sexual costuma ser respeitada no MMA
Jessica sempre falou abertamente sobre sua orientação sexual, assume publicamente no Facebook e é casada com Ana Carolina Celeri. "Bate Estaca" se preocupa com o preconceito que outros gays sofrem, mas diz que no MMA isso não é um problema: "todos lutadores me respeitam. Apenas uma vez, em uma entrevista, algumas pessoas me falaram algumas coisas. Mas não foi nada se comparado com o que a comunidade (gay) tem que lidar", contou ela, em entrevista ao site MMA Junkie.
E o mais importante é que a questão da sexualidade não entrará no octógono. O essencial é o espetáculo que as duas prometem fazer em Washington, por causa dos estilos de ambas - elas têm poder de nocaute, devem ficar em pé, mas são versáteis e podem partir para um combate dinâmico. "Acho que vai ser uma luta mais explosiva e vou focar no erro dela", aposta Jessica, que parece não ter medo, até porque já enfrentou lutas piores na vida.
Ativista, ex-fuzileira e respeitosa
Ao contrário de Jessica Andrade, Liz Carmouche já tem alguma fama internacional. Ela lutou na primeira vez em que duas mulheres subiram em um octógono pelo UFC - perdeu para a campeã Ronda Rousey, mas deu trabalho e ganhou moral. Agora precisa se recuperar e é favorita absoluta contra a desconhecida e promissora brasileira. Mas prega respeito, inclusive por ter algumas semelhanças com sua adversária.
Assim como Jessica, Liz teve outra profissão antes de virar atleta - foi fuzileira naval e só começou a lutar em meados de 2010. Sempre assumiu que era gay e faz questão de mostrar isso até no protetor bucal que usa no octógono, com as cores do arco-íris, um símbolo gay universal.
Liz sabe inclusive que só é apontada como favorita por ser mais conhecida que Jessica: "ela é uma lutadora veterana, a diferença é que ela é de outro país, então as pessoas daqui (EUA) não estão familiarizadas com ela", analisou, em entrevista ao UFC, antes de completar com outra promessa de um grande combate neste sábado: "ela vai ser uma boa adversária para uma grande luta".
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