quarta-feira, 5 de março de 2014

Caboclas de maracatu assumem relação lésbica e enfrentam desafios em Pernambuco



Publicado pelo G1
Por Simone Graf
 
No grupo cultural e nas famílias, relação entre Marta e Sônia é respeitada. Como cortadoras de cana em Nazaré da Mata, sentem menor aceitação.
 
Vivendo em um meio essencialmente masculino, o casal Marta Maria da Silva e Sônia Maria de Santana procura ultrapassar um desafio de cada vez. Nascidas na Zona Rural do município de Nazaré da Mata, Mata Norte de Pernambuco, as duas assumiram o relacionamento afetivo que têm há quatro anos, diante de uma comunidade machista e muitas vezes hostil com aquilo que não é considerado convencional para a sociedade.
 
“Para que viver escondida o tempo todo?”. Esta é a pergunta e autoafirmação de Marta, mãe de dois adolescentes homens, de 13 e 17 anos, que resolveu se desfazer de um casamento, até então estável, após a morte de sua mãe. “Minha mãe não aceitava que eu gostasse de pessoas do mesmo sexo que o meu. Então eu a respeitava. Quando ela morreu, resolvi me libertar e ser feliz. Não tinha para que viver fingindo mais”, completou.
 
 
Já para a sua companheira, o rumo das coisas foi um pouco diferente. Sônia é mãe de Nataele Maria Santana, 6 anos, fruto de um casamento que durou pouco mais que um ano. “Sempre soube que meu gosto era diferente, mas quis tentar. Vi que não dava mais quando conheci Marta. Fiquei apaixonada por ela e pedi o divórcio. Minha família toda aceita e apoia a minha decisão”, afirmou.
 
Segundo as duas, os parentes e amigos próximos respeitam a união. Já na lavoura, onde trabalham como cortadoras de cana, a aceitação é menor, mas ninguém nunca as ofendeu. “Somos duas mulheres no meio de mais ou menos 30 homens. É complicado para eles entenderem o nosso relacionamento, mas nós enfrentamos qualquer coisa para ficarmos juntas. Desde um serviço que é considerado para homens a participar de um maracatu como caboclas de lança”, declarou Marta.
 
Há dois anos, o casal faz parte do Maracatu Rural Coração Nazareno, único no Brasil formado apenas por mulheres. Marta também conta que pertencer ao grupo é uma questão de orgulho e alegria, e que isso reafirma a escolha que fez para a sua vida, a de ser feliz. Ainda este ano, as duas pretendem oficializar a relação com uma cerimônia de casamento. “Vamos dar uma festa e mostrar para todo mundo que somos felizes juntas”, enfatizou, sorridente, Sônia.
 
Encontro de maracatus rurais
 
Nesta segunda-feira (3) de carnaval, o tradicional encontro de maracatus rurais de Nazaré da Mata, Mata Norte de Pernambuco, reuniu 35 grupos, sendo 23 nativos da cidade. Todos seguiram em comitiva para a apresentação na praça, onde as sambadas, marcadas pelos taróis e os tambores, sobem ao palco, juntamente aos mestres que entoam as loas.
 

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