Visto na Band
Ânimos exaltados marcaram a primeira audiência pública realizada na
Câmara dos Deputados para debater o PDC (Projeto de Decreto Legislativo)
234/11, que pretende alterar a Resolução 01/99 do CFP (Conselho Federal
de Psicologia) proibindo tratamentos de reversão da homossexualidade.
Manifestantes discutiram com a psicóloga Marisa Lobo, defensora de que a
mudança da orientação sexual é possível e deve ser tentada se o
paciente estiver de acordo.
O PDC 234 é de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), pertencente à
bancada evangélica, e tramita na Comissão de Seguridade e Família da
Câmara. A proposta, cujo relator é o deputado Roberto de Lucena (PV-SP),
ainda não foi apreciada em outras comissões. Para João Campos, os
artigos 2º e 3º da resolução do CFP, que vedam a chamada “cura gay”, são
abusivos. “Ela [a resolução] fere a autonomia do paciente, pois proíbe o
atendimento no caso de ele ser homossexual”, afirmou.
Também contrária à resolução do conselho, Marisa Lobo afirmou que o
psicólogo não pode negar atendimento ao paciente que deseje mudar sua
orientação sexual. “Eu tenho que dar ouvidos a esse sofrimento
psíquico”, disse a psicóloga. A fala de Marisa provocou reações
acaloradas em parte da plateia. Irritada com as manifestações, a
psicóloga rebateu. “Todo mundo que discorda de vocês, vocês dizem que é
homofóbico”.
O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), coordenador da Frente Parlamentar
Mista pela Cidadania LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais), defendeu que o motivo real de sofrimento psíquico é o
preconceito da sociedade, não a orientação sexual. “Quem nasce em uma
cultura homofóbica e é injuriado desde criança, é lógico que vai ter uma
percepção negativa de si”, disse. Ele e a deputada Erika Kokay (PT-DF)
criticaram a ausência de representantes dos movimentos LGBT na mesa. “A
audiência foi composta de forma parcial. Há uma posição predominante dos
próprios autores do projeto”, reclamou Erika.
Conselho Federal de Psicologia recusou convite para participar das
discussões sob a mesma alegação de falta de diversidade. “Quatro dos
cinco profissionais convidados para a mesa indicam posicionamento
favorável à suspensão dos artigos”, justificou o órgão em nota de
repúdio.
Por telefone, a vice-presidente do CFP, Clara Goldman, negou que a
Resolução 01/99 traga alguma forma de cerceamento no atendimento a
pacientes com identidade LGBT. “O que ela proíbe é que [a
homossexualidade] seja trabalhada como doença”, afirmou.
Representante da Companhia Revolucionária Triângulo Rosa, o estudante de
serviço social Luth Laporta, 19 anos, estava entre os manifestantes
contrários à suspensão da resolução do CFP. “As pessoas não conseguem
ser felizes com sua sexualidade por causa da opressão. Isso vem de a
sociedade não permitir que elas sejam como são e não do fato de ser
homossexual”, disse.
A psicóloga Lorena Lucena, 26 anos, também acompanhou a audiência e
classificou como “fraca” a argumentação de Marisa Lobo. “Estamos
desconstruindo o ser ou não homossexual como algo patológico. O papel do
profissional [da psicologia] é dar ouvidos ao sujeito, não reforçar o
preconceito da sociedade”.
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