Publicado no Estadão
Por Adriana Ferraz
A batalha travada há dois anos pelo casal de médicos Ricardo Tapajós, de
47 anos, e Mario Warde, de 41, para ser reconhecido como família no
tradicional Club Athletico Paulistano, nos Jardins, zona sul, tem
ajudado outros homossexuais a obter títulos de sócios em associações
esportivas da cidade, sem apelar à Justiça.
Nas últimas semanas, a reportagem procurou 13 clubes. Apesar de o
assunto ainda ser tratado como tabu pela maioria, 9 afirmaram respeitar
direitos assegurados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que reconheceu
a união homoafetiva em 2011.
A negativa do Paulistano em reconhecer Warde como dependente de Tapajós,
mesmo após condenação judicial, tem sido usada por outros clubes como
exemplo a não ser seguido. Na Sociedade Hebraica, as exigências são as
mesmas para gays e héteros e basicamente se resumem a documento de
comprovação da união.
"Imaginava que, por se tratar de clube com conceito religioso, a
aceitação seria difícil. Mas foi o contrário. Uma funcionária chegou a
comentar com minha mulher e comigo que não seríamos tratadas como no
Paulistano", conta uma sócia, que preferiu não se identificar. "Não sou
militante, mas acho que os direitos civis devem ser respeitados."
Há cerca de um mês, o Esporte Clube Banespa também deu título familiar a
dois homens e ao filho deles, após comprovação de união estável. O
presidente Nelson de Souza afirmou que a diversidade é respeitada pelo
conselho - posição adotada por outros clubes.
Presidente do Clube Esperia, Armando Perez Maria diz não ver motivo para
polêmica. "Se a lei admite relação entre pessoas do mesmo sexo e até
casamento, entendemos que não podemos deixar de reconhecer o direito do
associado de incluir companheiro ou companheira como dependente."
Segundo ele, o clube já tem sócios nessas condições.
A decisão de negar ou conceder títulos familiares a casais gays deve
seguir as regras estipuladas em estatuto, que, por sua vez, deve seguir a
lei vigente. No caso do Paulistano, a negativa foi confirmada em
assembleia em agosto de 2010, com a presença de 150 conselheiros. O
placar: 148 votos contra e 2 a favor. O clube nega que haja qualquer
discriminação na instituição e ressalta que, como entidade de Direito
Privado, segue o que determina o estatuto, que por sua vez segue o
Código Civil.
"O Código Civil expressa textualmente que a união civil se dá entre um
homem e uma mulher. O STF, ao conceder os direitos previdenciários,
ainda não abrange a mudança do Código. É preciso que haja uma emenda
constitucional", informou.
A polêmica segue na Justiça. Após ser condenado em 1.ª instância a
incluir Mario Warde e a filha como dependentes de Ricardo Tapajós, o
clube recorreu e aguarda julgamento previsto para o próximo mês.
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