Publicado no UOL
Por José Ricardo Leite
A cada defesa, fortes vibrações e gritos com as companheiras. Muitos
abraços e carinho com as outras atletas na hora de dividir as emoções do
jogo. Esse é um pouco do jeito de ser em quadra e fora dela de Mayssa
Raquel de Oliveira Pessoa, goleira da seleção brasileira feminina de
handebol.
Mesmo começando os jogos na reserva, Mayssa tem se destacado na equipe
que está em franca evolução no cenário mundial. Entra no segundo tempo e
vira uma das protagonistas, como na vitória de segunda-feira sobre
Montenegro, por 27 a 25. Mas não reclama. E gosta de entrar quando o
jogo está tenso.
“Eu prefiro jogar depois, gosto do jogo quando está apertado.
Pressãozinha é bom”, diz a paraibana de 27 anos, natural de João Pessoa.
Mayssa é desenvolta e se expressa de maneira enfática. Até para falar
sobre o que para muitos é algo delicado e muitas vezes camuflado, a
homossexualidade. “É, é [verdade] sim”, responde ao ser questionada se é
homossexual. “Bom, eu sou bissexual”, completou.
A goleira da seleção mora na Europa há seis anos e joga na França. Lá,
foi convidada para ser madrinha de um torneio de homossexuais de várias
modalidades. Aceitou, mas não pôde comparecer em função de compromissos
com a seleção.
Mas Mayssa acabou falando sobre sua sexualidade para uma revista
francesa sobre homossexuais. “Eles fizeram matéria comigo e a gente
conversou abertamente. Eu não escondo. Por que vou esconder algo que eu
sou? Por que vou esconder?”, repetiu.
Nem o fato de disputar os Jogos Olímpicos faz a atleta deixar de lado seus ideais para evitar tocar no assunto.
“É uma coisa normal da sociedade. Se você é homossexual, tem que
esconder e obrigatoriamente se casar com um homem? Não. Se você é, tem
que assumir. Não sou mais uma criança. Não vou ficar escondendo porque
vou jogar as Olimpíadas. As pessoas me conhecem. Falei. Sou mesmo,
abertamente, sem problema nenhum.”
Durante a conversa com o UOL Esporte, que aconteceu após o jogo contra a
Montenegro, Mayssa disse que sua atitude pode ajudar a quebrar o tabu e
medo que alguns atletas têm em revelar sua sexualidade em um meio de
grandes repercussões como o esportivo.
“[O esporte] é muito preconceituoso. Entre os homens, principalmente,
muitos têm medo. Mas consegui tudo na minha vida e sigo conseguindo, e
isso não influenciou em nada. Sou homossexual? Sou. Tenho que aceitar
isso e todas as pessoas me respeitam”, falou.
Dentro do grupo, o impacto é inexistente, pelo menos no contato afetivo
observado da atleta com as demais. E também pelo seu discurso direto,
mas puro.
“Todas me respeitam. Meu técnico sabe, todo mundo na França sabe. Cada um tem sua vida, ninguém paga minhas contas”, finalizou.
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