Publicado no G1
Por Anna Lúcia Silva
Todo Dia das Crianças é comemorado com muita festa na casa de um casal 
homoafetivo de Uberaba, no Triângulo Mineiro. A artesã Ana Claudia 
Santos, de 45 anos, e a enfermeira Cecília de Ávila, de 53 anos, têm 
três filhos adotivos. E este ano a data será comemorada com a família 
ainda maior. Isso porque as duas aguardam a adoção definitiva de Arthur,
 de 4 anos, que é o quarto filho que o casal obteve a guarda provisória 
em dezembro do ano passado. 
Para Cecília  a data será marcante, com todos reunidos. “Já temos quatro
 crianças maravilhosas conosco. O que temos que fazer agora é festejar 
cada momento juntos e cuidar de dar aquilo que a vida tirou deles quando
 pequenos, uma família, um lar. Esse Dia das Crianças será mesmo 
especial, pois estamos com uma família completa e acho que a felicidade 
maior é ver o quanto eles se dão bem",  disse. 
Adotar uma criança implica enfrentar uma série de dificuldades, 
processos, análises e longos períodos de espera. Para as duas não foi 
diferente. Ana Cláudia contou que a primeira adoção demorou mais de um 
ano para se concretizar. "Eu já morava com a Cecília há quatro anos 
quando decidimos que queríamos ter filhos. Em 2006 fizemos a habilitação
 para o cadastro, que foi feito apenas no nome da Cecília, o processo 
foi longo e só em 2007 entramos para a fila de interessados em adotar. 
Logo neste mesmo ano, um mês depois fomos chamadas para conhecer Laura 
de Ávila, que hoje tem 10 anos, e Ezequiel de Ávila, que tem 8 anos. 
Eles foram os nossos primeiros filhos", lembrou. 
Ainda conforme as mães, eles fugiam dos padrões de adoção, eram irmãos, 
negros e com idades já avançadas, critérios que não foram empecilho para
 o casal. "Não tivemos nenhuma restrição para adoção, eles estavam fora 
do perfil e quando vimos os dois quisemos logo de cara. O olhar dos dois
 era encantador, o sorriso no primeiro encontro foi especial e por isso 
não tivemos como deixá-los.  Ali, naquele encontro,  já sabíamos que 
eles eram nossos", disse. 
Depois de enfrentar burocracias e derrubar barreiras, a vida das duas se
 transformou e a adoção não parou por aí, foi quando veio a notícia que 
ainda estavam cadastradas no sistema de adoção e, por isso, receberam 
uma ligação de que havia uma criança em um abrigo que precisava ser 
adotada com urgência. "Disseram que era urgente porque ele havia sido 
retirado do hospital porque a mãe tinha problemas mentais graves. Além 
disso, ele tinha refluxo, precisava de cuidados especiais. Foi então que
 decidimos ficar com ele também. O nome dele é André Santos de Ávila, e 
está agora com três anos", contou. 
Mas não parou por aí. O destino tratou de colocar Arthur na vida das 
duas. "O Arthur foi uma surpresa. Fiquei sabendo através do grupo "De 
volta pra casa", de Divinópolis, no Centro-Oeste do estado, que ele 
também precisava ser adotado com urgência, pois tinha problemas 
neurológicos. O grupo já havia colocado o caso dele em nível nacional e 
ninguém o quis. Então eu e Cecília já queríamos adotar uma criança que 
merecesse cuidados especiais. Ficamos sabendo dessa história e entramos 
em contado. Foi quando disseram que não podíamos mais adotar porque a 
habilitação havia vencido, mas renovamos através da promotoria de 
Itaúna, cidade da região Centro-Oeste, que nos reabilitou. E em uma 
semana recebemos uma ligação do promotor agendando para conhecermos o 
Arthur. Eu disse que já íamos para buscá-lo. Foi aí que ficamos com o 
Arthur e fechamos nossa família. Agora estamos aguardando a guarda 
definitiva dele”, disse. 
Barreiras 
As barreiras não foram maiores que o desejo de ter uma família feliz. 
“Barreiras todos que querem adotar enfrentam, mas nós nunca enfrentamos 
preconceitos, pelo menos na nossa frente. Se houve foi oculto. Somos 
todos muito bem tratados onde quer que vamos", refletiu. 
Quanto à condição sexual das mães, os filhos sempre souberam e as duas 
informaram que sempre conversam e deixam a verdade acima de tudo. “Para a
 gente a verdade está acima de tudo, as mães dos colegas sabem, na 
escola todos sabem, não temos diferença nenhuma de uma família 
heterossexual. A gente só percebe só quando as outras pessoas falam”, 
finalizou. 
(As fotos de Arthur e nem seu sobrenome não puderam ser divulgados, pois o garoto ainda está em guarda provisória).


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