sábado, 13 de outubro de 2012

Casal homoafetivo comemora Dia das Crianças com os 4 filhos adotivos



Publicado no G1
Por Anna Lúcia Silva
 
Todo Dia das Crianças é comemorado com muita festa na casa de um casal homoafetivo de Uberaba, no Triângulo Mineiro. A artesã Ana Claudia Santos, de 45 anos, e a enfermeira Cecília de Ávila, de 53 anos, têm três filhos adotivos. E este ano a data será comemorada com a família ainda maior. Isso porque as duas aguardam a adoção definitiva de Arthur, de 4 anos, que é o quarto filho que o casal obteve a guarda provisória em dezembro do ano passado.
 
Para Cecília a data será marcante, com todos reunidos. “Já temos quatro crianças maravilhosas conosco. O que temos que fazer agora é festejar cada momento juntos e cuidar de dar aquilo que a vida tirou deles quando pequenos, uma família, um lar. Esse Dia das Crianças será mesmo especial, pois estamos com uma família completa e acho que a felicidade maior é ver o quanto eles se dão bem", disse.
 
Adotar uma criança implica enfrentar uma série de dificuldades, processos, análises e longos períodos de espera. Para as duas não foi diferente. Ana Cláudia contou que a primeira adoção demorou mais de um ano para se concretizar. "Eu já morava com a Cecília há quatro anos quando decidimos que queríamos ter filhos. Em 2006 fizemos a habilitação para o cadastro, que foi feito apenas no nome da Cecília, o processo foi longo e só em 2007 entramos para a fila de interessados em adotar. Logo neste mesmo ano, um mês depois fomos chamadas para conhecer Laura de Ávila, que hoje tem 10 anos, e Ezequiel de Ávila, que tem 8 anos. Eles foram os nossos primeiros filhos", lembrou.
 
 
Ainda conforme as mães, eles fugiam dos padrões de adoção, eram irmãos, negros e com idades já avançadas, critérios que não foram empecilho para o casal. "Não tivemos nenhuma restrição para adoção, eles estavam fora do perfil e quando vimos os dois quisemos logo de cara. O olhar dos dois era encantador, o sorriso no primeiro encontro foi especial e por isso não tivemos como deixá-los. Ali, naquele encontro, já sabíamos que eles eram nossos", disse.
 
Depois de enfrentar burocracias e derrubar barreiras, a vida das duas se transformou e a adoção não parou por aí, foi quando veio a notícia que ainda estavam cadastradas no sistema de adoção e, por isso, receberam uma ligação de que havia uma criança em um abrigo que precisava ser adotada com urgência. "Disseram que era urgente porque ele havia sido retirado do hospital porque a mãe tinha problemas mentais graves. Além disso, ele tinha refluxo, precisava de cuidados especiais. Foi então que decidimos ficar com ele também. O nome dele é André Santos de Ávila, e está agora com três anos", contou.
 
Mas não parou por aí. O destino tratou de colocar Arthur na vida das duas. "O Arthur foi uma surpresa. Fiquei sabendo através do grupo "De volta pra casa", de Divinópolis, no Centro-Oeste do estado, que ele também precisava ser adotado com urgência, pois tinha problemas neurológicos. O grupo já havia colocado o caso dele em nível nacional e ninguém o quis. Então eu e Cecília já queríamos adotar uma criança que merecesse cuidados especiais. Ficamos sabendo dessa história e entramos em contado. Foi quando disseram que não podíamos mais adotar porque a habilitação havia vencido, mas renovamos através da promotoria de Itaúna, cidade da região Centro-Oeste, que nos reabilitou. E em uma semana recebemos uma ligação do promotor agendando para conhecermos o Arthur. Eu disse que já íamos para buscá-lo. Foi aí que ficamos com o Arthur e fechamos nossa família. Agora estamos aguardando a guarda definitiva dele”, disse.
 
Barreiras
 
As barreiras não foram maiores que o desejo de ter uma família feliz. “Barreiras todos que querem adotar enfrentam, mas nós nunca enfrentamos preconceitos, pelo menos na nossa frente. Se houve foi oculto. Somos todos muito bem tratados onde quer que vamos", refletiu.
 
Quanto à condição sexual das mães, os filhos sempre souberam e as duas informaram que sempre conversam e deixam a verdade acima de tudo. “Para a gente a verdade está acima de tudo, as mães dos colegas sabem, na escola todos sabem, não temos diferença nenhuma de uma família heterossexual. A gente só percebe só quando as outras pessoas falam”, finalizou.
 
(As fotos de Arthur e nem seu sobrenome não puderam ser divulgados, pois o garoto ainda está em guarda provisória).

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