Publicado no Correio da Manhã
Mais de metade dos futuros profissionais das áreas da Saúde,
Educação, Direito e Psicossocial não tiveram contacto com qualquer
informação científica sobre homossexualidade e homoparentalidade nos
currículos universitários, indica um estudo da Universidade do Porto.
O estudo "Homoparentalidades num contexto heteronormativo", da Faculdade
de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto,
analisou as atitudes face à diversidade sexual de pessoas que, nas suas
áreas específicas de intervenção, lidarão com crianças, jovens e adultos
e averiguou o seu contacto pessoal e científico com a diversidade
sexual.
Para tal, inquiriu 1.288 estudantes de 12 instituições de ensino
superior de diversas regiões do país, que frequentavam os dois últimos
anos de nove licenciaturas de quatro áreas: Psicossocial (Psicologia,
Serviço Social, Educação Social e Sociologia), Saúde (Medicina e
Enfermagem), Educação (Ensino Básico e Educação de Infância) e Jurídica
(Direito).
O estudo alerta para a importância da formação de futuros médicos acerca
de temáticas LGBT e da sua consciencialização enquanto agentes
promotores da saúde de todas as pessoas, independentemente da sua
orientação sexual.
Em declarações à Lusa, o autor do estudo, Jorge Gato, adiantou que "54%
dos futuros intervenientes da rede social inquiridos não tiveram
contacto com nenhum tipo de informação sobre homossexualidade ou
homoparentalidade no âmbito das licenciaturas, um número que sobe para
80% no caso dos alunos de educação de infância".
Para Jorge Gato, "é fundamental que se intervenha ao nível da formação
dos professores e daquilo que é ensinado nas escolas para que as coisas
mudem, porque os professores têm um ascendente grande sobre os alunos".
"Considerando que os estudantes inquiridos frequentavam os últimos anos
dos respectivos cursos, parece claro que a presença destas temáticas no
currículo não constitui ainda uma preocupação na maior parte das
formações analisadas", refere o investigador.
Como tal, defende, os currículos das licenciaturas devem incluir
informação cientificamente validada e a consciencialização dos futuros
profissionais acerca das suas atitudes face à diversidade sexual.
"Sabemos que a informação só por si não muda as atitudes, mas é
responsabilidade dos cursos dar formação cientificamente validada a
estas pessoas", defendeu.
Para Jorge Gato, a falta de informação científica poderá explicar
"parcialmente" as atitudes dos estudantes perante estes temas.
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