Publicado no Entre Nós
Dica de Augusto Martins
A circular do Ministério da Justiça da França facilitando a obtenção da 
nacionalidade francesa para bebês nascidos de uma barriga de aluguel no 
exterior, mas de pai francês, é o assunto em destaque na imprensa nesta 
quinta-feira. Os jornais destacam a polêmica que inflamou a classe 
política no momento em que os deputados analisam o projeto que autoriza o
 casamento gay na França.
O conservador Le Figaro diz que a circular emitida pelo ministério da 
Justiça provocou uma verdadeira tormenta no país. A iniciativa da 
ministra Christiane Taubira despertou a ira da direita e causou 
mal-estar na esquerda, segundo o jornal. Para Le Figaro, apesar de a 
ministra ter dito que a gestação por meio de uma barriga de aluguel 
continuará proibida na França, ela não convenceu ninguém. A direita vê 
na circular um primeiro passo para, no futuro, autorizar a procriação 
assistida, como pedem diversas associações de direitos dos homossexuais.
Para o progressista Libération, apesar de não estar no texto sobre o 
projeto de lei do casamento gay, a circular da ministra da Justiça caiu 
como uma luva nas mãos dos conservadores. Deputados dizem que o tema 
reforçou a mobilização da direita contra o casamento homossexual. Os 
deputados que entraram na batalha sem muita convicção de ganhar agora 
encontraram um argumento para torpedear o projeto.
Em seu editorial, o católico La Croix retoma uma pergunta feita por um 
político de centro: a circular do governo foi um erro involuntário ou 
uma provocação ? Muitos vão criticar a famosa hipocrisia francesa, 
escreve o jornal. Isso porque vai reconhecer uma criança concebida por 
meio de uma prática que é proibida na França.
La Croix indaga se a lei que proíbe a barriga de aluguel, criada para 
evitar o comércio do corpo e motivada pelo respeito devido às mulheres, 
principalmente as mais pobres, vai resistir por muito tempo.
Le Parisien considera que o tema da “barriga de aluguel” veio atrapalhar
 o debate sobre o casamento gay. O jornal publica também o depoimento de
 uma francesa que vive nos Estados Unidos e se diz feliz em poder ajudar
 casais franceses estéreis a realizarem o sonho de ter filhos.
Sandrine, de 41 anos, diz que para a sociedade americana, não cabe ao 
Estado dizer quem tem e que não tem o direito de ter filhos. Visto dos 
Estados Unidos, o debate na França é arcaico, escreve Le Parisien.
Reportagem: RFI

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