quinta-feira, 4 de setembro de 2014

"O que explica a obsessão de Malafaia e da direita religiosa com os homossexuais?" Por Kiko Nogueira


 

 

Por *Kiko Nogueira para o Diário do Centro do Mundo
 
Silas Malafaia declarou seu voto em Marina num eventual segundo turno. Há dias,
 ele “denunciou” nas redes sociais a abordagem da questão LGBT no programa da
 candidata do PSB.
 
Causou rebuliço. Em menos de 24 horas, Marina mudou o texto, alegando “erro
 da coordenação”, para júbilo do pastor e de suas ovelhas. “Claro que apoio Marina.
 Depois que o ativismo gay retirou apoio a ela, vou de cabeça”, disse à Folha.
 
A motivação política de Malafaia está sempre ligada à sua obsessão pelos homossexuais
 (e, em segundo plano, pelo aborto). É uma briga antiga. Em 2012, apoiou Serra
 para a prefeitura em São Paulo porque não podia deixar que Haddad, “autor do kit
 gay”, fosse eleito.
 
De cada dez frases histéricas, onze falam em homossexualidade, doze são para
 atacar ativistas LGBT ou algo que o valha. É sua bandeira, sua razão de vida, seu evangelho.
 
Malafaia, porém, não está sozinho. Esta se tornou uma questão central para 
evangélicos fundamentalistas no mundo todo. (A própria Marina, assembleísta,
 fica visivelmente constrangida quando encara o assunto. No Jornal da Globo, depois de
 muita insistência, declarou que casamento é como está na Constituição, “apenas 
para pessoas de sexo diferente”.)
 
De acordo com o professor americano Austin Cline, da Universidade da 
Pensilvânia, “o ‘pecado’ da homossexualidade é importante porque a direita 
evangélica precisa de algum grupo para atacar como parte de seu esforço para restaurar
 sua dominação social, cultural e política”.
 
A desculpa é a defesa dos “valores da família”, como insistia o saudoso Marco Feliciano. “Não é mais socialmente aceitável atacar judeus, os antigos bodes expiatórios destes cristãos”, diz Cline. “Ateus e humanistas continuam alvos fáceis, mas eles não têm o mesmo impacto emocional dos gays (embora os três possam ser alvejados da mesma maneira que os judeus costumavam ser)”.
 
Um pastor episcopal chamado Tom Ehrich, escritor, baseado em Nova York, fez
 uma autocrítica. Afirma que a “agenda política ‘cristã’ tornou-se nada mais do que 
eleger candidatos que irão lidar corretamente com temas como o aborto
 e a homossexualidade”.
 
“Nós falamos que nos importamos com as Escrituras, mas os versos que pegamos da
 Bíblia sobre, digamos, homossexualidade são significam reverência pelas Escrituras.
 Prova: nós nos sentimos livres para ignorar o que o resto da Bíblia prega”.
 
Para ele, “denominações religiosas inteiras reduziram sua mensagem pública
 a regulamentações sobre sexo. É como se os quatro evangelhos não fossem suficientes.
 Seria necessário escrever um novo livro para Deus, em que o propósito da humanidade
 se reduzisse aos genitais e aos gêneros”.

*Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi
 fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; 
diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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