Por *Kiko Nogueira para o Diário do Centro do Mundo
Silas Malafaia declarou seu voto em Marina num eventual segundo turno. Há dias,
ele “denunciou” nas redes sociais a abordagem da questão LGBT no programa da
candidata do PSB.
Causou rebuliço. Em menos de 24 horas, Marina mudou o texto, alegando “erro
da coordenação”, para júbilo do pastor e de suas ovelhas. “Claro que apoio Marina.
Depois que o ativismo gay retirou apoio a ela, vou de cabeça”, disse à Folha.
A motivação política de Malafaia está sempre ligada à sua obsessão pelos homossexuais
(e, em segundo plano, pelo aborto). É uma briga antiga. Em 2012, apoiou Serra
para a prefeitura em São Paulo porque não podia deixar que Haddad, “autor do kit
gay”, fosse eleito.
De cada dez frases histéricas, onze falam em homossexualidade, doze são para
atacar ativistas LGBT ou algo que o valha. É sua bandeira, sua razão de vida, seu evangelho.
Malafaia, porém, não está sozinho. Esta se tornou uma questão central para
evangélicos fundamentalistas no mundo todo. (A própria Marina, assembleísta,
fica visivelmente constrangida quando encara o assunto. No Jornal da Globo, depois de
muita insistência, declarou que casamento é como está na Constituição, “apenas
para pessoas de sexo diferente”.)
De acordo com o professor americano Austin Cline, da Universidade da
Pensilvânia, “o ‘pecado’ da homossexualidade é importante porque a direita
evangélica precisa de algum grupo para atacar como parte de seu esforço para restaurar
sua dominação social, cultural e política”.
A desculpa é a defesa dos “valores da família”, como insistia o saudoso Marco Feliciano. “Não é mais socialmente aceitável atacar judeus, os antigos bodes expiatórios destes cristãos”, diz Cline. “Ateus e humanistas continuam alvos fáceis, mas eles não têm o mesmo impacto emocional dos gays (embora os três possam ser alvejados da mesma maneira que os judeus costumavam ser)”.
Um pastor episcopal chamado Tom Ehrich, escritor, baseado em Nova York, fez
uma autocrítica. Afirma que a “agenda política ‘cristã’ tornou-se nada mais do que
eleger candidatos que irão lidar corretamente com temas como o aborto
e a homossexualidade”.
“Nós falamos que nos importamos com as Escrituras, mas os versos que pegamos da
Bíblia sobre, digamos, homossexualidade são significam reverência pelas Escrituras.
Prova: nós nos sentimos livres para ignorar o que o resto da Bíblia prega”.
Para ele, “denominações religiosas inteiras reduziram sua mensagem pública
a regulamentações sobre sexo. É como se os quatro evangelhos não fossem suficientes.
Seria necessário escrever um novo livro para Deus, em que o propósito da humanidade
se reduzisse aos genitais e aos gêneros”.
*Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi
fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo;
diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
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