segunda-feira, 21 de maio de 2012

TV brasileira ganha primeira repórter transexual em programa feminino



Por Neto Lucon  para o E+ (Estadão) 
Dica de Bru Waldorf (Via Facebook)

Pela primeira vez na história da televisão brasileira uma transexual se tornou repórter de um programa feminino. No programa Mulheres (TV Gazeta), a modelo mineira Carol Marra se destacou em um quadro, e foi convidada para desenvolver reportagens especiais sobre cultura, gastronomia e, claro, moda.

Formada em jornalismo, Carol foi descoberta no Fashion Rio 2011, entrou para o casting a agencia Wool Agency, participou de vários desfiles e, agora, se diz realizada com a oportunidade na TV. “O convite surgiu pelo meu talento e capacitação profissional, não pela minha condição sexual”, diz a top.

Ela falou ao E+:

Depois de um ano modelando, diria adeus à carreira nas passarelas pela carreira de apresentadora?
Nunca planejei ser modelo, aconteceu por acaso e abracei essa profissão com carinho e dedicação. Mas, diferente das outras modelos, eu comecei tarde na profissão. Não tenho mais 17 anos, tenho 24. Portanto, quero aproveitar as oportunidades e, até quando der, me dedicar a outras coisas sem abandonar as passarelas. 

Como surgiu o convite para ser repórter especial da TVGazeta? 
O diretor Rodrigo Riccó assistiu a entrevista que fiz ao programa e me achou articulada e desenvolta. Quando soube que eu era jornalista, fez o convite para o quadro Repórter Por um Dia. Acabou que já apresentei cinco matérias para o programa (ri). Acho que me saí bem, pois a produção elogiou bastante. Sinto que nasci pra isso, amo me comunicar, amo televisão.

Quais pautas você irá abordar no programa? 
A princípio, sou uma repórter especial, faço pautas de comportamento e cultura, mas não tenho nada definido. Fiz a cobertura da pré-estreia do musical Tim Maia, a exposição de Marylin Monroe, matérias de gastronomia e sobre o Minas Trend Preview, que é a primeira semana de moda no calendário da moda do Brasil. Tenho ideias de um quadro fixo. É um projeto que vou apresentar à direção do programa.

O programa se chama Mulheres. Isso lhe deixa lisonjeada?
Me sinto lisonjeada pelo convite, porque sei que sou competente e capaz, não por ser transgênera. Penso que o convite da emissora surgiu pelo meu talento e capacitação profissional, não pela minha condição sexual. Uma mulher não se resume a uma genitália. Ser mulher é algo grandioso, está na alma, é ter uma sensibilidade especial.

Já assistia ao Mulheres anteriormente?
Assisto a Cátia Fonseca (apresentadora do programa) desde quando era criança, no programa Note & Anote, da Record. Eu adorava as aulas de artesanato, já fiz  algumas travessuras em casa. Gosto desses programas femininos, embora não tenha tanto tempo para assistir por conta da carreira de modelo.

Diante de tantas apresentadoras, o que acha da Cátia?
Ela é uma pessoa incrível, de uma sensibilidade e alegria que nos contagia. Passei uma tarde no estúdio e é impressionante o poder de comunicação dela, que não usa o TP (telemprompter, aparelho que a apresentadora lê em frente das câmeras). Ela é gente como a gente, não tem frescuras, por isso é tão querida e respeitada.

Como os telespectadores encaram uma repórter transexual?
Por incrível que pareça, recebo muito carinho do publico. Só mensagens de incentivo e elogio. Cada dia mais percebo que donas de casa, mães de família  me respeitam e  admiram o meu trabalho. É impressionante: onde achei que teria uma barreira e preconceito, não encontrei. Isso se deve pela minha conduta profissional séria. Não quero ser uma repórter palhaça,  caricata. Quero mostrar conteúdo, de forma leve, sem ser pedante.

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