Publicado no Correio Braziliense
Descrente de que o Congresso Nacional aprove projeto de decreto 
legislativo que, entre outras coisas, permitiria que psicólogos 
tratassem homossexualismo como doença, o Conselho Federal de Psicologia 
(CFP) promete continuar punindo, com base no Código de Ética da 
categoria, profissionais que recomendarem tratamentos terapêuticos com o
 objetivo de reverter a orientação sexual de seus pacientes. 
“O conselho tem agido com rigor para enquadrar os profissionais que 
pregam a cura da homossexualidade, levando para seus consultórios, como 
um atrativo, o sofrimento psíquico daqueles que não tem seus direitos 
respeitados”, afirmou nesta quinta-feira (28/6), a vice-presidente do 
órgão, Clara Goldman. Para Goldman, o Projeto de Decreto Legislativo 
nº234/11, de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), além de 
inconstitucional, é produto do pensamento homofóbico que persiste em 
parcelas da sociedade brasileira. “A proposta de curar só existe porque a
 sociedade ainda vê a homossexualidade como uma doença, disseminando o 
preconceito em relação aos homossexuais. Quando a sociedade entender o 
direito humano à livre orientação sexual, estas supostas terapias não 
terão mais sentido”, disse Clara logo após se reunir, em Brasília, com a
 ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário. 
O projeto de Campos, que já vem sendo chamado de Projeto da Cura Gay, 
propõe a suspensão da validade de dois artigos de uma resolução do 
Conselho Federal de Psicologia, em vigor desde 1999. Um dos trechos da 
Resolução nº 1/99 que o deputado quer suprimir é o Artigo 3º, que 
estabelece que os psicólogos não deverão exercer qualquer ação que 
favoreça que comportamentos ou práticas homoeróticas sejam vistas como 
patologias (doenças), nem adotarão ação coercitiva a fim de orientar 
homossexuais para tratamentos não solicitados. O outro artigo, o 4º, 
proíbe os psicólogos de se pronunciarem, participarem ou se expressarem 
publicamente ou nos meios de comunicação de massa de modo a reforçar 
preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como 
portadores de qualquer desordem psíquica. 
Clara Goldman disse não acreditar que o Congresso aprove as mudanças 
defendidas por Campos e outros parlamentares que, segundo ela, visam 
“facilitar a liberação das supostas terapias de reversão da 
homossexualidade”. “A resolução do conselho não vai ser alterada. Isso 
exorbitaria o papel do Parlamento, que não tem o poder de interferir na 
definição de um corporação profissional. Os psicólogos continuarão a 
prestar seus serviços profissionais com base no Código de Ética da 
categoria e atendendo a todas as pessoas. O conselho não deixará de 
enquadrar todos os profissionais que venderem a ideia da cura da 
homossexualidade”. 
Para o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, 
Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, o projeto 
parlamentar é um acinte à cidadania. “Querer curar o que não é doença é 
charlatanismo. É uma iniciativa de um grupo restrito de 
fundamentalistas, totalmente inconstitucional. Temos muitas doenças a 
serem curadas, urgências que justificariam uma audiência pública, como a
 questão do crack e da mortalidade infantil. Nos recusamos a discutir 
com esse povo”. Já para o deputado João Campos, inconstitucional é a 
resolução do conselho. “Ela fere a autonomia do paciente”, disse o 
parlamentar durante audiência pública realizada pela Comissão de 
Seguridade da Câmara dos Deputados para discutir sua proposta. 

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