Publicado pela Veja
João Batista Pereira da Silva foi o primeiro integrante da Marinha a se 
casar oficialmente com uma pessoa do mesmo sexo. Somente agora, mais de 
nove meses depois, órgão se dispõe a alterar a identidade militar 
Quando duas pessoas se casam, é necessário que seja feita a alteração do
 estado civil nos documentos de identificação oficiais, bem como a 
consequente atualização dos dados cadastrais em diversas instituições. 
Um procedimento corriqueiro e automático, certo? Sim, desde que o casal 
seja heterossexual. Para João Batista Pereira da Silva e Claudio 
Nascimento Silva a batalha dura mais de nove meses. 
 
João foi o primeiro militar da Marinha a se casar oficialmente com uma 
pessoa do mesmo sexo, em uma cerimônia realizada em agosto de 2011. 
Desde setembro daquele ano, briga para ter o novo estado civil 
reconhecido pelo órgão. Somente agora, depois de apelar para diversas 
frentes – entre elas a Presidência da República –, o cabo da reserva 
finalmente conseguiu um indicativo de que o caso será resolvido. Em nota
 enviada ao site de VEJA nesta quarta-feira, a Marinha afirmou que 
regularizará a situação até esta sexta, dia 29. O órgão informa que após
 o comparecimento dos dois ao Serviço de Identificação da Marinha (SIM),
 a nova identidade será expedida no prazo de quarenta e oito horas – o 
anúncio oficial dessa decisão para os interessados, entretanto, ainda 
não foi feito. 
 
Desde setembro de 2010, João e Claudio – que é superintendente de 
Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria de Assistência 
Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro – tem a união estável 
reconhecida. A disputa com a Marinha começou quando João solicitou a 
inclusão do parceiro como dependente para que ele tivesse acesso aos 
benefícios oferecidos para os cônjuges de militares. A resposta 
afirmativa ao requerimento só veio em outubro de 2011, mais de cinco 
meses depois do pedido. 
Nesse meio tempo, uma decisão da Justiça autorizou a conversão da união 
estável dos dois em casamento civil. No entanto, quando João tentou 
alterar seu estado civil no sistema de identificação da Marinha no ato 
do recadastramento anual obrigatório, teve o pedido negado. O órgão 
informou que seria necessário um requerimento específico para a 
alteração. “Um militar heterossexual não precisa fazer esse 
requerimento, basta apresentar os documentos e a certidão de casamento 
que os dados são alterados”, afirma Claudio. “Isso foi um tratamento 
diferenciado que gerou constrangimento, mostrando claramente que eles 
não estavam tratando com igualdade de direitos a nossa questão”. 
 
João chegou a fazer dois requerimentos diferentes e uma solicitação 
presencial direta aos superiores durante um período de mais de nove 
meses, mas só obteve uma resposta em maio deste ano. A Marinha, que já 
havia reconhecido a união estável dos dois, indeferiu os pedidos de 
mudança de estado civil e alegou “falta de amparo legal”, afirmando que o
 “ordenamento jurídico vigente só reconhece o casamento entre pessoas de
 sexo opostos”. 
Preocupado com uma norma do regulamento que diz que os militares devem 
ter seus dados cadastrais atualizados, sob o risco de sofrer punições 
caso não o façam, o casal resolveu entrar com uma ação na Justiça para 
garantir a mudança do estado civil na identidade militar. Também enviou 
uma carta à Presidência da República, através da Associação Brasileira 
de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), 
solicitando um posicionamento sobre o caso. 
Nesta quarta-feira, a Marinha mudou seu entendimento sobre a questão e 
garantiu ao site de VEJA que reconhecerá a certidão de casamento e 
emitirá as novas identidades militares com a mudança do estado civil. Em
 relação à demora, o documento afirma: "Devido à apreciação jurídica que
 o assunto requeria, foi necessária a análise detalhada do caso, a fim 
de assegurar a legalidade da alteração do estado civil nos assentamentos
 do militar". 
O casal afirmou à reportagem que ainda não foi comunicado oficialmente 
sobre o novo posicionamento da Marinha. “Se isso realmente acontecer, 
será um avanço não só para nós, mas para outros homossexuais nas Forças 
Armadas, que se sentirão encorajados a buscar os seus direitos”, afirma 
Claudio. Mesmo que a alteração seja feita, entretanto, ele diz que o 
casal pretende continuar com a ação por danos morais. “De qualquer 
forma, o dano continua, pois houve o constrangimento”, disse. 

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