Publicado pela coluna Blogay da Folha
Por Vtor Angelo 
A militância gay e os defensores dos direitos humanos estão preocupados 
com o PLC122/2006, o projeto de lei que criminaliza a homofobia. Ele 
estava no Senado Federal nas mãos de Marta Suplicy (PT-SP).  Com a saída
 dela para ocupar o cargo de ministra da Cultura, com quem ficará o 
projeto? 
A movimentação é para que Lídice da Mata (PSB-BA) seja o nome indicado 
para cuidar dos encaminhamentos do projeto de lei. Uma reunião foi feita
 na tarde de quarta-feira, 9, com o senador Paulo Paim (PT-RS) e 
integrantes da Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT e o 
movimento social. 
Uma petição também está rolando para que a senadora seja a pessoa certa para levar adiante a PLC122. Clique aqui. 
O Blogay conversou com o militante Marcelo Gerald que cuida de um site 
sobre o assunto e é uma das pessoas por trás da proposta de ter da Mata 
como relatora do projeto de lei. 
Blogay – Como está o PLC122, em que estado se encontra? 
Marcelo Gerald - A última vez que o PLC122 andou foi quando Fatima 
Cleide apresentou seu novo texto em outubro de 2009 na Comissão de 
Assuntos Sociais, o novo texto atendia a demanda de religiosos, sem que o
 projeto saísse prejudicado. Foi aprovado naquela comissão e seguiu pra 
Comissão de Direitos Humanos do Senado, onde está parado até hoje. Foi 
arquivado no início de 2011 e desarquivado por Marta Suplicy um mês 
após. Tivemos audiências, mas o projeto não foi colocado em votação. 
Do que se trata a petição? 
A petição que ativistas LGBTs organizaram é pra que tenhamos um 
relator(a) que seja favorável ao projeto e entenda as demandas do 
movimento LGBT, que defenda Direitos Humanos. Depois que Marta Suplicy 
deixou o Senado ficou em seu lugar (seu suplente) um senador que votou a
 favor do dia do orgulho hétero, enquanto era vereador.  Além disso, 
senadores contrários ao PLC122 já manifestaram desejo de pegar a 
relatoria. O que se busca é que alguém que participe das reuniões da 
Frente Parlamentar LGBT e que defenda Direitos Humanos assuma a 
relatoria e nesse sentido Lídice da Mata atende os requisitos. A 
senadora tem sido bastante contundente na defesa de direitos das 
mulheres e de LGBTs na discussão do novo Código Penal. 
Como foi o encontro com o Paulo Paim e quais são os maiores receios dos LGBTs com a saída da Marta do Senado? 
O senador Paulo Paim recebeu integrantes da Frente Parlamentar LGBT e 
Graça Cabral, representante do grupo “Mães Pela Igualdade”. Segundo 
Paim, a decisão sobre a relatoria ficará com a bancada do PT. Me 
preocupa essa lentidão que faz com que opositores ao projeto ganhem 
tempo, os meses passam e nada se faz e em janeiro de 2015 o projeto será
 arquivado definitivamente e parece que é exatamente isso que alguns 
querem. 
A senadora Lídice da Mata topou? Qual a posição dela? 
Lídice da Mata tem se mostrado favorável a assumir a relatoria do 
Projeto. Nas redes sociais e no Twitter, ela tem feito várias 
declarações a favor da cidadania LGBT e, no dia 24 de setembro, ela 
disse: “Solicitei relatoria assim que @MartaSuplicy assumiu 
ministério.Vamos aguardar decisão pres.CDH,@paulopaim.” 
Ainda há chances para a PLC ou ela foi demonizada demais? 
Essa coisa de dizer que o PLC122 foi demonizado é a maior armadilha que 
pessoas do movimento caíram no ano passado, não adianta mudar o nome, a 
sigla, ou seja lá o que for, qualquer projeto de lei que defenda a 
cidadania LGBT será perseguido por fanáticos e pessoas que não pregam 
amor e sim ódio a LGBTs. Eu acompanho discussões sobre o projeto há anos
 e antigamente os opositores diziam que tínhamos que lutar por medidas 
educativas e não por leis. Aí veio o kit anti-homofobia e essas mesmas 
pessoas promoveram gritaria contra o material educativo que visava 
apenas promover aceitação e igualdade dentro das escolas. Pra mim, 
qualquer projeto terá recusa dessas pessoas, eles não querem sequer 
discutir o tema e não vejo como negociar algo tão sério com quem diz que
 todo homossexual é pedófilo, afirmações desse tipo deveriam ser crime.
Na sua opinião, como sair deste impasse, como pressionar Paulo Paim? 
Eu não gosto de pensar que realmente teríamos que pressionar Paim, ele 
assumiu um cargo importante, preside a Comissão de Direitos Humanos, ele
 sabe da importância desse projeto, antigamente banalizavam as mortes, 
alguns diziam que era invenção do Grupo Gay da Bahia, mas agora temos os
 dados da Secretaria de Direitos Humanos que confirmam a violência 
física, emocional e psicológica que LGBTs sofrem todos os dias. Se Paim 
virar as costas pro projeto, deixa-lo morrer ou entrega-lo nas mãos 
erradas enfrentará um custo politico grande, não só pra ele, mas para o 
PT que se elegeu por anos sob a fama de partido progressista e defensor 
de Direitos Humanos. 
O PLC122 é um projeto para além da defesa dos homossexuais. Você pode esclarecer melhor isto? 
Pra finalizar eu gostaria de dizer que tanto ativistas do movimento LGBT
 e os opositores ao projeto devem entender é que esse não é um projeto 
de lei gay, ou que atende somente gays, alguns dizem isso por má fé, ou 
até por desconhecimento. O PLC122 defende contra a discriminação por 
orientação sexual, se um hétero for discriminado numa boate gay, se for 
proibido de entrar ou de beijar a sua namorada haverá punição idêntica a
 que protegeria um homossexual na boate hétero, ou seja o PLC122 visa 
proteger gays, héteros e bissexuais. 
Outra coisa absurda que dizem é que não poderiam proibir gays de se 
beijarem em igrejas, eu tenho formação religiosa rígida, frequentava a 
igreja desde muito cedo e nunca vi casais se beijando dentro delas, se 
héteros não podem se beijar dentro de igrejas, gays também não podem. 
Também é bem comum dizer que teremos que conviver com gays se beijando 
dentro de restaurantes, pra resolver isso é bem simples, não quer ver 
ninguém se beijando? Basta colocar uma placa bem grande que diga que ali
 é proibido manifestar qualquer tipo de afeto, nem gay, nem hétero 
poderão reclamar. Eu não pretendo frequentar esse tipo de restaurante, 
mas ai vai da liberdade de escolha de cada um. 

Nenhum comentário:
Postar um comentário