Publicado pelo R7
Por Gustavo Frasão
 
Transexuais do Distrito Federal que desejam fazer a cirurgia de mudança 
de sexo precisam esperar até seis anos para realização da operação. O 
procedimento pode ser feito por meio do SUS (Sistema Único de Saúde) e, 
atualmente, 20 transexuais — femininos e masculinos — estão na fila de 
espera do HUB (Hospital Universitário de Brasília) para receber 
acompanhamento médico. 
 
O hospital é um dos quatro credenciados pelo Ministério da Saúde no 
Brasil para o procedimento. No entanto, a psicóloga Sandra Studart, uma 
das responsáveis pelo Programa para Transexuais do HUB, explica que é 
necessário fazer um acompanhamento psicológico de pelo menos dois anos 
antes da operação. 
 
— É preciso ter esse laudo psicológico antes porque nem sempre as 
pessoas estão prontas para a cirurgia. Se a medida for tomada pela 
emoção, pode causar um problema grave, principalmente porque é uma 
mudança irreversível. Hoje nós temos seis pessoas que fizeram a operação
 e a fila vai andando à medida em que as cirurgias vão acontecendo. 
 
Em agosto de 2008, o Ministério da Saúde publicou a portaria nº 1.707, 
que regulamenta a cirurgia para mudança de sexo no SUS e determina que 
estas operações devem acontecer somente em hospitais universitários. A 
fundadora da AnavTrans (Associação do Núcleo de Apoio e Valorização à 
Vida de Travestis, Transexuais e Transgêneros do DF e Entorno), Sissy 
Kelly Lopes, de 55 anos, explica que é preciso cautela na hora de tomar a
 decisão. 
 
— Pode ser prioridade ou não. Depende da pessoa, mas isso é uma questão 
de análise e satisfação. Existem aquelas que acham que precisam da 
cirurgia para se sentirem completamente realizadas, mas também há quem 
prefira não fazer por se aceitar do jeito que é. Eu, por exemplo, optei 
por não fazer por conta da correria do dia-a-dia. 
 
Algumas transexuais aguardam na fila e alimentam o desejo de fazer a 
cirurgia há anos, em uma tentativa de se tornar "mais mulher". Este é o 
caso da servidora pública Roberta Mendes, de 34 anos, que está na fila 
do HUB. Ela contou à reportagem do R7 que se sentirá mais feliz quando 
fizer a cirurgia.
 
— Sou transexual porque gosto, nasci homem em corpo de mulher. Tomei 
hormônios, fiz diversas cirurgias, tenho silicone. Quem me vê não 
imagina que, na verdade, não sou mulher. E é isso que me deixa triste. 
Estou relativamente feliz como sou hoje, mas quando conseguir fazer a 
cirurgia para mudar de sexo ficarei 100% realizada, porque aí me 
sentirei mais mulher. 
 
Processo transexualizador do SUS 
 
O Ministério da Saúde, por meio da assessoria de imprensa, explicou que 
esse processo funciona para qualquer pessoa que procure o sistema de 
saúde público apresentando a queixa de incompatibilidade entre o sexo 
natural — homem ou mulher — e o sentimento de pertencimento ao sexo 
oposto ao do nascimento. 
 
Além disso, o ministério explica que pessoas que se enquadram nesta 
situação têm direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de 
qualquer discriminação, porque a Carta dos Direitos dos Usuários da 
Saúde assegura o direito ao uso do nome social e o paciente pode indicar
 o nome pelo qual prefere ser chamado, independentemente do nome que 
consta no registro civil. 
 
Para o Ministério da Saúde, o Processo Transexualizador no SUS apresenta
 situações que exigem a atenção continuada do paciente. A 
hormonioterapia requer o uso contínuo de hormônios por longos períodos 
e, por isso, há necessidade da assistência endocrinológica continuada. 
Os exames devem ser realizados com intervalo máximo de um ano, a fim de 
reduzir danos por efeitos colaterais do uso da medicação e para 
viabilizar diagnóstico precoce de câncer e problemas ósseos.  
Por isso, o acompanhamento pós-cirúrgico deve se estender por pelo menos
 dois anos após o procedimento e os tratamentos psicológico e social 
existem como possibilidade a todo usuário que retorne ao SUS com demanda
 de psicoterapia ou de assistência social.

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