Por Angela Chagas para o JB 
Dica de Augusto Martins 
Passado um ano da suspensão do kit de combate à homofobia nas 
escolas, vetado pela presidente Dilma Rousseff no dia 25 de maio de 
2011, o Ministério da Educação (MEC) confirmou que a proposta não foi 
abandonada e que o material didático será distribuído nas instituições 
públicas de ensino. No entanto, segundo a assessoria do órgão, ainda não
 há um prazo para que isso ocorra, já que depende de uma avaliação do 
Comitê de Publicações da pasta.
A distribuição do kit, que estava 
prevista para ocorrer no segundo semestre de 2011 em 6 mil escolas de 
ensino médio, foi cancelada após pressão da bancada evangélica, que 
convenceu a presidente de que o material fazia propaganda de orientação 
sexual. De acordo com o MEC, o veto da presidente refere-se a três 
vídeos: Torpedo, Encontrando Bianca, Probabilidade. O restante do 
conteúdo, que inclui um caderno com orientações aos professores e 
boletins destinados aos estudantes, não foi engavetado.
A 
assessoria do MEC não quis disponibilizar o conteúdo dos materiais que 
ainda pretende distribuir, mas afirmou que compreendem "uma importante 
ferramenta para enfrentar a homofobia na escola". Sobre os três vídeos, o
 ministério disse que já foi descartada a utilização deles e que não 
está nos planos a elaboração de novos audiovisuais.
Para Carlos 
Laudari, diretor da ONG Pathfinder, responsável pelo convênio com o MEC 
do programa Escola sem Homofobia, o veto ao kit foi uma "surpresa e 
decepção", já que, segundo ele, as entidades envolvidas na produção do 
material sempre encontraram apoio governo federal. "Passado esse um ano,
 eu compreendo que o veto envolveu uma questão política, de 
governabilidade. Mas nós ainda esperamos uma resposta do governo", 
afirma ao ressaltar que espera que o conteúdo seja utilizado nas 
escolas.
"Nós não recebemos uma posição do MEC de quando isso 
possa ser feito, mas espero que seja logo porque o problema está cada 
vez mais presente", diz o médico especialista em saúde pública, que 
trabalhou durante 17 anos como consultor das Organização das Nações 
Unidas (ONU) na África. Segundo Laudari, após o veto todo o material foi
 revisto. "Os textos do caderno do professor e dos boletins para os 
alunos foram revisados. Algumas frases que poderiam gerar polêmica foram
 tiradas. Está tudo perfeito, somente aguardando uma posição oficial", 
afirma.
Laudari ainda demonstra indignação com deputados 
religiosos que classificaram o kit como uma apologia ao homossexualismo.
 "Eles nunca procuraram saber como foi feito esse trabalho, o número de 
profissionais envolvidos. Eles levam em conta que esses materiais são 
fruto de uma pesquisa qualitativa feita em 11 capitais que apontou os 
trágicos efeitos do bullying homofóbico na vida de crianças e 
adolescentes. Não ouviram relatos de meninos de apenas 6 anos que são 
chamados de 'veadinhos¿ pelos professores. De crianças que nunca 
mentiram, nunca roubaram, e que só pelo fato de não se adaptarem ao 
padrão de gênero que a escola tenta perpetuar sofrem cotidianamente com o
 preconceito", desabafa.
Entenda a polêmica sobre o kit anti-homofobia 
O
 kit de combate à homofobia foi desenvolvido por diversas entidades não 
governamentais, com a supervisão do Ministério da Educação, para ser 
distribuído a alunos do ensino médio de 6 mil escolas públicas 
previamente selecionadas. No entanto, após pressão das bancadas 
religiosas no Congresso Nacional, a presidente vetou o material em maio 
do ano passado. Segundo Dilma, o kit era inadequado e fazia propaganda 
de orientações sexuais.
O kit é composto de um caderno com 
orientações sobre atividades que podem ser desenvolvidas pelos 
professores em sala de aula; de seis boletins destinados aos estudantes;
 de cartazes para divulgar o programa na comunidade escolar, de cartas 
endereçadas a professores, além de três vídeos para serem trabalhados em
 sala de aula. O convênio para a preparação do material teve um custo 
total estimado de R$ 1,8 milhão e incluía também pesquisas, seminários e
 atividades de capacitação para os educadores que fossem utilizá-los nas
 escolas.
Integram a equipe responsável pelo kit a ONG Pathfinder 
do Brasil, a Global Alliance for LGBT Education (Gale), a Comunicação em
 Sexualidade (Ecos), a Soluções Inovadoras em Saúde Sexual e Reprodutiva
 (Reprolatina) e a ABGLT. Entidades como a Unesco e o Conselho Federal 
de Psicologia defenderam o conteúdo do material.

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