Publicado pelo G1
Por Anna Gabriela Ribeiro
O talento para a comunicação acompanha Elias do Carmo, de 37 anos, desde
a infância. Ele começou a brincadeira com uma caixa de isopor, que
fingia ser uma câmera, e um microfone para entrevistar a comunidade.
Mais de 20 anos depois, Elias criou a TV GLS
e já acumula mais de 50 mil visualizações no Youtube. Ele aproveita a
nova ocupação para superar diversas dificuldades, como as drogas e a
constatação de que é soropositivo.
Natural de Pernambuco, Elias do Carmo vive em Santos, no litoral de São
Paulo, desde que era bebê. Como os pais eram pobres, eles moravam na
rua. Com isso, Elias e os irmãos foram recolhidos e levados para um
orfanato. Aos finais de semana, ele visitava os pais na favela Caldeirão
do Diabo, atualmente conhecida como Vila Santa Casa. Foi nesta
comunidade, onde vive até hoje, que Elias começou a brincar de repórter.
Ele improvisou uma caixa de isopor para usar como câmera e, com este
aparato, questionava aos moradores quais eram os problemas da
comunidade. “A TV GLS começou com um sonho. Sempre fui um artista
popular na minha comunidade. Meu dom artístico sempre foi satirizar o
cotidiano”, afirma Elias.
Pouco tempo depois, Elias passou a trabalhar na rádio Tam Tam, em
Santos. Nesta época, resolveu comprar um celular com câmera, para que as
reportagens ficassem mais sérias. Os vídeos eram jogados no Youtube e,
algumas semanas depois, passaram a ser acessados frequentemente. Em
2010, ele resolveu criar, oficialmente, a TV GLS. “Eu resolvi investir
em algo para esse público, que sofre muito preconceito. De início achei
que não ia dar certo, por causa da sigla da TV. Coloquei esse nome
porque eu sou gay. Achei que ia ser criticado, que iria ser agredido,
apanhar. Mas, por incrível que pareça, hoje meu público alvo não é gay.
Muitos héteros e crianças me acompanham. Recebo ligações do Brasil todo
para cobrir eventos”, diz Elias. Ele explica que a TV GLS cobre qualquer
tipo de evento, de cunho social, cultural ou de entretenimento.
Atualmente, Elias trabalha com uma câmera 3D, e acumula a função de
cinegrafista e repórter. Para Elias, o trabalho com a TV GLS é uma
reviravolta em sua vida. “Eu fico impressionado com a proporção que as
coisas tomaram. Eu só estudei até a 7ª série, fui faxineiro durante toda
a minha vida”, afirma. Elias, que é portador do vírus da aids, vive com
a verba de um auxílio doença. Ele conta que já foi dependente químico e
traficante. “Cumpri mais de dois anos de pena e posso afirmar que a
cadeia foi essencial para eu me redimir, refletir sobre a vida a
abandonar o vício e o crime. Por isso sempre falo que a TV GLS é a
reviravolta em minha vida, é a minha terapia, que me mantém ocupado e me
dá prazer”, relata.
Elias comenta que as pessoas o abordam para parabenizá-lo pela atitude.
“Eu não sei distinguir direito como é esse fenômeno, porque eu não
passei da 7ª série. Sou ex-usuário de drogas, depois me tornei um
traficante, fui condenado, sai da cadeia e criei a TV GLS. Ela é minha
salvação, tem me dado um avanço muito importante para o meu tratamento”,
diz Elias. Atualmente, o maior sonho do repórter é registrar o projeto,
com um número de Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).
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