Publicado pelo Terra
No baile promovido pela principal associação de defesa dos direitos 
homossexuais nos Estados Unidos, realizado na noite de segunda-feira em 
homenagem a Barack Obama, os convidados ainda se emocionavam quando 
repetiam as cinco palavras que foram pronunciadas no discurso de posse 
do presidente: "Nossos irmãos e irmãs gays". 
Há apenas um ano, Obama ainda não havia se posicionado a favor do 
casamento gay. Estava "evoluindo neste assunto", segundo ele. Era maio 
de 2012 quando o presidente oficialmente concluiu sua reflexão e afirmou
 publicamente que as pessoas do mesmo sexo deveriam ter o direito de se 
casar. 
A Campanha de Direitos Humanos (HRC, na sigla em inglês), que reúne os 
maiores grupos de direitos dos gays, convidou inúmeras pessoas na noite 
desta segunda para celebrar a posse do presidente, que, por sua vez, 
esteve presente em apenas dois bailes realizados em diferentes partes da
 cidade. 
No salão de festas do Hotel Mayflower Renaissance, em Washington, o 
democrata Cory Booker, o popular prefeito de Newark, em Nova Jersey, 
estava em êxtase. "Temos muito o que comemorar esta noite!", declarou 
ante centenas de convidados de smoking, que pagaram 350 dólares cada um 
pela entrada. 
"Estive lá e assisti meu presidente, um homem verdadeiramente evoluído 
agora", continuou Booker. "Pronto para enfrentar a política conhecida 
como 'Não pergunte, não fale', pronto para defender a igualdade de 
casamento, pronto para dizer a verdade ao nosso povo, que não importa 
quem você é, sua cor, seu credo, sua raça, sua religião, quem você 
escolhe amar, você é americano e faz parte dos Estados Unidos", 
discursou. "Ainda vivemos em um país desigual, ainda vivemos em um país 
onde existem cidadãos de segunda classe, com seus direitos e privilégios
 negados", destacou o prefeito. 
Este foi o caso de Jerri Berc, 64 anos. Atualmente aposentada, ela 
casou-se com Roni Posner em 2002, em Washington, porém as duas mulheres 
foram viver em Delaware, onde uniões civis já eram legalizadas. O 
governo federal não reconhece seu casamento, o que representa um 
problema na hora de resolver questões de herança e pensão. Jerri ficou 
comovida ao ouvir as palavras do discurso de posse do presidente. 
"Foi um momento de comoção para mim", destacou. "Saber que o presidente 
dos Estados Unidos coloca os direitos homossexuais em primeiro plano", 
comentou. "Sempre senti que ele era solidário, mas colocar o tema no 
centro da mesa dos direitos civis foi histórico e extremamente 
comovente", ressaltou Jerri. "Isso ajudará a reconhecer nosso casamento e
 assim poderemos compartilhar nossos benefícios de saúde". 
Em seu discurso, Obama declarou: "Nossa missão não estará completa até 
que nossos irmãos e irmãs gays sejam tratados como qualquer um sob a 
lei". Obama fez um paralelo entre as inúmeras lutas pelos direitos 
cívicos na história americana -- como o das mulheres no marco da 
convenção de Seneca Falls em 1848, a batalha pelos direitos civis em 
Selma, Alabama e finalmente no caso de Stonewall, em junho de 1969, 
quando militantes do movimento homossexual realizaram um protesto que 
foi violentamente reprimido. 
Roni Posner, a companheira de Jerri Berc, relembrou que, no período da 
escola, era inconcebível assumir abertamente a sua homossexualidade. "O 
presidente Obama entende que chegou nossa hora. Ele trouxe este assunto à
 tona hoje e se posicionou sobre esta mudança", salientou. Mas, além de 
palavras, que mudanças efetivamente estão sendo realizadas? 
No final de março, a Suprema Corte irá analisar a constitucionalidade 
das leis de estado que proíbem o casamento gay. O presidente da Campanha
 de Direitos Humanos (HRC), Chad Griffin, disse à AFP esperar que a Casa
 Branca decida usar de toda sua influência ante a Corte na defesa dos 
argumentos a favor do direito constitucional ao casamento entre pessoas 
de mesmo sexo. 
Outra fonte de preocupação do movimento gay é o status dos cônjuges de 
militares. As forças armadas não garantem os mesmos direitos das esposas
 de casais heterossexuais porque a lei federal proíbe o reconhecimento 
do casamento gay pelo governo federal.
"A política do 'Não pergunte, não fale' foi revogada. Mas ainda assim, 
gays e lésbicas continuam sendo discriminados todo dia, neste momento 
não há direitos iguais", destacou Griffin. "É algo em que o Pentágono 
poderia avançar e é minha esperança que (o secretário americano de 
Defesa Leon) Panetta também o faça antes de deixar o cargo". 
Durante seu primeiro mandato, Obama abandonou seu apoio à política do 
'Não pergunte, não fale' posta em prática durante a administração do 
presidente Bill Clinton. Esta política desencorajou gays que serviam na 
carreira militar a revelar sua orientação sexual sob o risco de serem 
expulsos. Griffin descreveu o discurso do presidente como 
"inacreditável" e "comovente", acrescentando que tinha profundas 
implicações políticas. 

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