Casamento coletivo seria realizado em CTG incendiado após ameaças. Segundo juíza, o
CTG vai funcionar no Fórum até a reforma ser concluída.
O casamento coletivo com 28 casais heterossexuais e um casal homossexual marcado
para este sábado (13), que vem causando polêmica em Santana do Livramento, na
Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, será realizado no Fórum de Justiça da cidade às
16h. A decisão foi informada pela juíza Carine Labres em entrevista coletiva na noite
desta sexta-feira (12). O evento ocorreria no Centro de Tradições Gaúchas (CTG)
Sentinelas do Planalto, alvo de um incêndio criminoso na madrugada de quinta (11).
O galpão foi incendiado após o patrão ter recebido ameaças de pessoas
contrárias à solenidade devido à presença do casal homoafetivo. Desde o
incidente, moradores da cidade faziam um mutirão para recuperar o local a tempo do casamento.
Inicialmente, a juíza havia dito que a cerimônia poderia ser realizada em uma
quadra esportiva. Segundo ela, a mudança de planos se deve à segurança dos familiares.
"Seria uma grande vitória", lamenta a juíza ao vislumbrar a realização da cerimônia no
CTG. "O único motivo que provoca a transferência é a questão da segurança, que
estaria comprometida na atual condição física da sede, e também pelos aspectos
climáticos", afirmou Carine na noite desta sexta.
O temente José Carlos Martins, comandante da Brigada Militar local, disse ter
ficado "preocupado" com a possível realização do casamento devido às condições do
local. "Seria difícil a obtenção de um PPCI (Plano de Proteção Contra Incêndios)", afirmou.
A juíza afirma que o CTG vai funcionar no Fórum até a reforma ser concluída.
"Será a casa deles até a reconstrução", afirmou.
Em entrevista coletiva, juíza anunciou mudança de local de casamento (Foto: Estêvão Pires/G1)
Carine evitou se manifestar sobre a possibilidade de o incêndio ter sido motivado
por homofobia. Porém, confirma que chegaram ameaças a seu gabinete, e considera
positiva a discussão sobre discriminação sexual que o evento levou à tona. "Transferir
não passa a mensagem de que o outro ganhou. Só o debate já é muito positivo", afirmou.
Durante a coletiva, Carine se mostrou incomodada com uma pergunta sobre a
sexualidade dos funcionários de seu gabinete. "Não sou homossexual, mas não
teria problema se eu fosse. Tomar uma posição frente a esse problema não depende
da opção sexual", afirmou, antes de criticar o jornalista por ter feito um
questionamento "carregado de preconceito".
O incêndio ocorreu na madrugada de quinta-feira (11). De acordo com o
Corpo de Bombeiros, o fogo começou por volta de 0h30, e as chamas foram
controladas cerca de três horas depois. Ninguém ficou ferido, mas o fogo atingiu a
parte interna da estrutura, justamente o palco, onde acontecerá o evento.
A Polícia Civil diz que o incêndio foi criminoso. Um garrafa com resquícios de
gasolina foi encontrada no galpão do CTG, que, segundo a polícia, pode ser um
coquetel molotov, artefato incendiário de fabricação caseira. Testemunhas relataram
que viram quatro pessoas próximas ao CTG antes do início das chamas, mas a polícia diz
que, por enquanto, não há suspeitos de autoria do incêndio.
Logo após o incêndio, um mutirão se formou para reconstruir a estrutura danificada
do galpão a tempo do casamento coletivo. Segundo o patrão do CTG, Gilbert Gisler, o
Xepa, a instituição recebeu mais de 40 doações de material de construção, de pessoas
físicas e jurídicas. A comunidade de Santana do Livramento também doou a mão de
obra para a reconstrução do local.
Entidades manifestam repúdio
O presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Manoelito Savaris, diz que o
local não é filiado ao MTG desde 2005. Ele foi desligado porque os integrantes da comunidade não seguiriam mais as regras do movimento. “Caso isso acontecesse dentro de um CTG filiado, o Conselho do MTG, composto por 49 pessoas, iria se reunir para
avaliar o assunto”, declarou.
Por meio de nota, o MTG disse que os atos de vandalismo praticados contra o CTG
“merecem nosso repúdio” e que o movimento “é respeitador das leis e não tem
nenhuma restrição a preferências religiosas, ideológicas ou sexuais das pessoas”.
Ainda conforme o texto divulgado pela entidade, “qualquer tentativa de vincular o
episódio envolvendo aquela associação com o MTG também é repudiada”.
Também por meio de nota, a Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos do Rio Grande do Sul repudiou o que classificou como “atitude homofóbica de um pequeno grupo de
pessoas”. "Fica claro que a atitude configura-se em um crime de homofobia, pois havia
um casal homossexual que participaria da cerimônia”, diz o texto assinado pela a
secretária da pasta, Juçara Dutra Vieira, e a coordenadora da Diversidade Sexual,
Marina Reidel.
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