Por Allan Johan para a Revista Lado A
Há uma dificuldade de se entender os direitos gays. Para algumas
pessoas, é inconcebível que gays possam andar de mãos dadas nas ruas,
manifestar carinho, se casar, serem felizes, da mesma forma que é
permitido aos heterossexuais. O direito do outro não diminui o meu
direito, ele precisa sim se igualar ao meu.
Há diversas concepções de Deus. Da mesma forma que eu tenho o
direito de ter e manifestar a minha fé, o outro deve ter. Isso inclui o
respeito e direitos de quem não acredita em nenhum Deus, ou que cultue
deuses antagônicos aos meus, ou demônios, espíritos ou até mesmo
unicórnios e duendes. O meu direito à fé não pode interferir no direito
do outro. Nenhuma fé pode ser colocada como superior, por mais que isso
faça parte dos ensinamentos de tal religião. O Deus único e supremo não
pode sair das portas dos templos e das consciências das pessoas. Não
pode interferir no Estado ou ser usado para julgar o outro, ou o Deus do
outro, ou a ausência de fé alheia.
O mesmo vale para a orientação sexual. Eu posso crer que ser
heterossexual é melhor, mas jamais posso subjulgar qualquer outra
orientação sexual. Posso desejar que meu filho seja heterossexual, mas
não posso dizer que homossexuais não são dignos ou não são cidadãos
merecedores de direitos iguais aos meus. O mesmo vale para o fato de
vantajoso ser homem em nossa sociedade, mesmo assim, as mulheres não
podem ser discriminadas ou prejudicadas por serem mulheres. Mesmo que
haja um livro afirmando isso e que você foi ensinado a segui-lo.
No Brasil, perdemos um pouco a noção do que é o direito do outro
pois somos acostumados com uma sociedade de vantagens maiores a
determinados grupos, seja econômicos, raciais, famílias tradicionais ou
mesmo cargo ou relacionamento interpessoal. Somos acostumados a ceder, a
não exigir nossos direitos, e acabamos perdendo esse referencial de
espelho. O outro, sou eu.
Ficamos calados ao ver uma injustiça e nos conformamos com o “azar”
alheio ou nosso, alegando que somos brasileiros e não desistimos nunca
ou apelando para o tal jeitinho depois. Por isso, algumas lutas não são
de grupos individuais, são de todos. Pois a construção da igualdade de
direitos é um exercício cívico e traz benefícios a toda sociedade. Ao
conhecermos o caminho da promoção da igualdade teremos oportunidades
para todos, lutaremos pelas nossas semelhanças e deficiências comuns,
mesmo hoje estando separados pelas diferenças.
É um jogo de ceder, de ganhar e perder, com um objetivo maior. É
fazer política de forma correta. Mas não é possível negociar direitos,
esses não se negociam e a igualdade é o único resultado aceitável.
Vivemos em uma sociedade na qual direitos e deveres não são iguais a
todos, mas caminhamos a conquistas em que uma leva a outra. Começou com o
fim da escravidão, o voto feminino, o divórcio e temos ainda alguns
direitos a virem, como o respeito a comunidade LGBT e o aborto. São
temas polêmicos, mas são direitos terrenos, que impactam sobre a
felicidade diretamente dos envolvidos e não afetam a vida em sociedade.
Devemos olhar o outro sob a ótica de que se eu posso, ele também
deve poder. E não nos gabarmos do que podemos mais por poder econômico
ou qualquer outro que seja. Ou pior, não me ver no outro pois a situação
dele não me é familiar, ou seja, renegar aceitar a mudança por
acreditar que a pessoa é culpada pela própria situação em que se
encontra. Esse olhar “socialista” deve permear as relações entre as
pessoas e daremos então mais valor a conquistas reais e coletivas, ao
invés de objetivos pessoais ou privilégio de pequenos grupos.
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