terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Morre a ativista Welluma Brown, única travesti a ser chacrete



Publicado pela NLucon
 
Ícone na luta em prol da comunidade trans e única travesti a ser chacrete nos anos 70, Welluma Brown morreu na última sexta-feira, 11, vítima de queimaduras em um acidente doméstico. Ela chegou a ser internada, mas não resistiu aos ferimentos. Seu corpo será sepultado na segunda-feira, 14, às 14h, no Cemitério do Caju, mas a história de luta e arte da estrela permanece nos corações dos fãs, admiradores e amigos.
 
“Só exijo uma coisa: respeito”. Essa era uma das reivindicações de Welluma, que nos últimos anos de vida atuou fortemente como militante da causa trans. Era vice-presidente da Associação de Travestis e Transexuais do Estado do Rio de Janeiro, conselheira da ética da Associação Brasileira de LGBTTI e conselheira fiscal da Articulação Nacional de Travestis e Transexuais.
 
O tato diante dos problemas, a crítica diante do óbvio, a veia artística e as chagas que carrega no corpo – afinal, inúmeras vezes foi vítima de transfobia – se uniram à conscientização e realização de importantes projetos. Tanto que, unida à Claudia Celeste (primeira atriz trans a fazer uma novela no Brasil), Welluma deixou engatado o Instituto Associativo Brasileiro de Entretenimento e Cultura LGBT, que visa ressaltar a cultura LGBT e rememorar os grandes e luxuosos shows de travesti.
 
Na carreira artística, esbanjou talento nos palcos, brilhou como diretora da casa de espetáculos “Le Galaxie”, em Paris, e se tornou parte da história da televisão brasileira, ao entrar para o elenco das chacretes, as cobiçadas assistente de palco do programa “A Buzina do Chacrinha”, da TV Tupi, nos anos 70. Durante sua rápida permanência, ninguém suspeitava que aquela moça alta e bonita era na verdade uma travesti. O nome Welluma foi dado pela atriz Elke Maravilha, jurada do programa.
 
“Como eu entrei lá? A chacrete Ivone pediu para ser substituída durante quatro dias por motivos de doença. Eu, que já frequentava o programa, fui chamada 30 minutos antes de o programa começar pelo Chacrinha. Ensaiei, me deram um aplique, botas e estive no meio das 20 mulheres. Me sinto vitoriosa, pois era época da ditadura e a palavra travesti sequer poderia ser dita”, afirmou Welluma sobre o momento ímpar. “Até hoje, sou conhecida como chacrete”.
 
Exemplo de sobrevivência, a trans conseguiu transformar dor em amor. Ainda criança, foi deixada em um colégio interno por seus trejeitos femininos, depois foi buscar a mãe no Rio de Janeiro, mas saiu de casa para evitar ser agredida pelo padrasto machista. Conheceu a prostituição aos 12 anos, também a violência dos policiais e o preconceito da população. Carregou no corpo as cicatrizes de ser diferente, na memória as feridas da ditadura, mas no coração a esperança de que tudo poderia ser melhor. Welluma lutou e brilhou por tod@s, fez arte, amor e militância.
 
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