Publicado pela NLucon
Ícone na luta em prol da comunidade trans e única travesti a ser
chacrete nos anos 70, Welluma Brown morreu na última sexta-feira, 11,
vítima de queimaduras em um acidente doméstico. Ela chegou a ser
internada, mas não resistiu aos ferimentos. Seu corpo será sepultado na
segunda-feira, 14, às 14h, no Cemitério do Caju, mas a história de luta e
arte da estrela permanece nos corações dos fãs, admiradores e amigos.
“Só exijo uma coisa: respeito”. Essa era uma das reivindicações de
Welluma, que nos últimos anos de vida atuou fortemente como militante da
causa trans. Era vice-presidente da Associação de Travestis e
Transexuais do Estado do Rio de Janeiro, conselheira da ética da
Associação Brasileira de LGBTTI e conselheira fiscal da Articulação
Nacional de Travestis e Transexuais.
O tato diante dos problemas, a crítica diante do óbvio, a veia artística
e as chagas que carrega no corpo – afinal, inúmeras vezes foi vítima de
transfobia – se uniram à conscientização e realização de importantes
projetos. Tanto que, unida à Claudia Celeste (primeira atriz trans a
fazer uma novela no Brasil), Welluma deixou engatado o Instituto
Associativo Brasileiro de Entretenimento e Cultura LGBT, que visa
ressaltar a cultura LGBT e rememorar os grandes e luxuosos shows de
travesti.
Na carreira artística, esbanjou talento nos palcos, brilhou como
diretora da casa de espetáculos “Le Galaxie”, em Paris, e se tornou
parte da história da televisão brasileira, ao entrar para o elenco das
chacretes, as cobiçadas assistente de palco do programa “A Buzina do
Chacrinha”, da TV Tupi, nos anos 70. Durante sua rápida permanência,
ninguém suspeitava que aquela moça alta e bonita era na verdade uma
travesti. O nome Welluma foi dado pela atriz Elke Maravilha, jurada do
programa.
“Como eu entrei lá? A chacrete Ivone pediu para ser substituída durante
quatro dias por motivos de doença. Eu, que já frequentava o programa,
fui chamada 30 minutos antes de o programa começar pelo Chacrinha.
Ensaiei, me deram um aplique, botas e estive no meio das 20 mulheres. Me
sinto vitoriosa, pois era época da ditadura e a palavra travesti sequer
poderia ser dita”, afirmou Welluma sobre o momento ímpar. “Até hoje,
sou conhecida como chacrete”.
Exemplo de sobrevivência, a trans conseguiu transformar dor em amor.
Ainda criança, foi deixada em um colégio interno por seus trejeitos
femininos, depois foi buscar a mãe no Rio de Janeiro, mas saiu de casa
para evitar ser agredida pelo padrasto machista. Conheceu a prostituição
aos 12 anos, também a violência dos policiais e o preconceito da
população. Carregou no corpo as cicatrizes de ser diferente, na memória
as feridas da ditadura, mas no coração a esperança de que tudo poderia
ser melhor. Welluma lutou e brilhou por tod@s, fez arte, amor e
militância.
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