Visto no IG
Marina Reidel viveu em Montenegro, distante a 66 quilômetros de Porto
Alegre, por 29 anos, como Mário. Com essa idade se mudou para a capital e
iniciou a transformação que lhe encheu de curvas e moldou um rosto
feminino. Revolução semelhante, a professora promoveu no exercício da
profissão ao fazer uma escola pública abolir o ensino religioso do
currículo e adotar as aulas de ética. Agora, estuda para terminar o
mestrado em Educação e fazer a cirurgia de troca de sexo.
Descendente de alemães, Marina foi criada pela família com amor, porém,
não com o diálogo que precisava para tratar da sua orientação sexual,
que era claramente expressa em suas brincadeiras de criança. Ela se
identificava muito mais com as “coisas de menina”. Mas isso nunca foi
encarado pelos pais.
Assim, ao final da adolescência, Marina iniciou sua formação no
magistério, no Instituto de Educação São José, em Montenegro,
administrado pelas Irmãs de São José. Foi justamente em um colégio de
freiras que ela concluiu o Curso Normal em 1986 e teve a habilitação
para ensinar crianças do ensino fundamental.
O passo seguinte foi começar uma graduação. De Montenegro até Novo
Hamburgo eram 44 quilômetros percorridos cinco dias por semana para ir e
outros 44 quilômetros para voltar. O esforço rendeu o diploma em Artes
pela Universidade Feevale.
Nesta época, Marina já era professora da rede pública do Estado e dava
aulas em sua cidade natal. Contudo, na cidade que hoje tem pouco mais de
30 mil habitantes, sentia que jamais poderia ser, por completa, quem
gostaria. Então, desfez laços e foi para Porto Alegre. “Eu precisava
desse rompimento para começar minha transformação”, relembra.
O processo foi gradual. Começou pelo cabelo, que deixou crescer. Passou a
usar brincos e, finalmente, adotou definitivamente Marina como o seu
nome social. O passo mais importante veio em 2006, após três anos
ensinando na escola estadual Rio de Janeiro, novamente em Montenegro,
sua cidade natal. Ela tirou licença para promover uma verdadeira
metamorfose com ajuda de hormônios, cirurgias plásticas e o implante de
protestes de silicone no busto.
Precavida, a direção da escola promoveu palestras sobre o tema e
comunicou aos alunos que a professora não seria a mesma quando
retornasse. Mesmo sabendo das conversas, Marina ficou cautelosa. "A
gente aprende a sempre esperar o pior", admite ao falar da expectativa
que tinha antes de voltar a dar aulas.
Mas a surpresa foi positiva e Marina não enfrentou grande resistência de
alunos, pais ou colegas e direção. "Claro que causou espanto, mas em
nenhum momento houve problemas sérios", conta.
A “vitória” deu força a Marina que, então, propôs, desta vez, uma
revolução pedagógica. Quando voltou às aulas, coube-lhe ensinar a
disciplina de ensino religioso. Ela sugeriu uma mudança no currículo:
trocar religião por ética. A escola chamou pais e alunos, realizou
debates e chegou a conclusão de que Marina tinha razão. E assim foi.
"Eu sou de religião africanista e entre os alunos da escola existe uma
variedade grande de credos", justifica. "Além disso, eu também não
poderia ensinar sobre uma religião que sequer me aceita como sou". Hoje,
o programa da disciplina de Ética e Cidadania aborda temas como
homofobia, aborto, racismo e drogas.
Para o próximo ano, Marina tem duas novas etapas importantes na vida.
Até agosto de 2013 ela deve defender a dissertação de mestrado em
Educação pela Universidade do Rio Grande do Sul. Sua pesquisa é baseada
em depoimentos de 40 professoras travestis e transexuais espalhadas por
escolas de todo País. Quando conseguir o título, irá se submeter à
cirurgia de mudança de sexo. “Estou esperando esse momento, que
considero o melhor”.
Depois disso, Marina deve deixar as salas de aula e ir trabalhar na
Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul e seguir o mesmo caminho da
cearense Luma Andrade, primeira travesti a ingressar em um doutorado no
Brasil.
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