Por Marcelo Gerald para o Eleições Hoje
A
Avon Brasil está no meio de uma polêmica que coloca em risco a imagem
da marca de 125 anos no país. O motivo é o fato da empresa
disponibilizar em seu catálogo mais de 400 títulos de livros de Silas
Malafaia, pastor que mostra ter orgulho de ser o inimigo número um dos
ativistas que lutam por direitos e pela igualdade de homossexuais no
Brasil.
Segundo o pastor existe um
plano do ativismo Gay para instaurar a “ditadura gay” (sic) no Brasil. A
falácia é apoiada por parlamentares como Magno Malta e o atual ministro
nomeado por Dilma, Marcelo Crivella.
A
polêmica acirrou depois que a editora do pastor trouxe para o Brasil o
livro, “A estratégia: o plano dos homossexuais para transformar a
sociedade’’. O livro escrito pelo pastor Louis Sheldon é uma proposta
pseudo-científica contra a causa LGBT. A obra usa de charlatanismo e
conclusões baratas para colocar a população contra homossexuais. Sheldon
Chega ao desatino de incluir a homossexualidade como o maior dos
problemas em bairros mais pobres. Esse é o tipo de absurdo que teocratas
falam e parece que ninguém levará a sério. Mas infelizmente sempre tem
que leva. Aqui no Brasil, Crivella com discurso bem parecido com o de
Malafaia foi nomeado ministro pela presidenta, tornando-se dessa forma
mais influente no Planalto.
No
Brasil, embora a Constituição Federal não permita discursos e apologia a
práticas que firam a dignidade humana, vem crescendo entre grupos
conservadores a reivindicação por uma suposta liberdade absoluta de
expressão, no caso a deles, pois todos que pensam diferente devem ser
processados. Apesar de se orgulhar em ser inimigo número um do PLC122 e
da causa Gay, hoje em seu programa, o pastor ameaçou processar quem o
chama de homofóbico.
O que a Avon ganha promovendo livros de um autor que dedica a maior parte de sua vida contra o direito de uma minoria?
Se
estivesse analisando programas de TVs eu diria que se ganha polêmica e
provavelmente audiência, mas estou falando da imagem de uma marca e
quando uma mulher compra batons, maquiagens ou produtos anti-idade ela
compra junto a marca.
Fica então a pergunta, que imagem a empresa terá vendendo maquiagem e apoiando alguém que se dedica a pregar contra uma minoria?
Alguns
podem dizer que tudo isso é bobagem, que protestar contra a AVON seria
radicalismo de ativistas, que ela apenas revende os livros do pastor,
mas vamos imaginar que uma grande livraria colocasse como destaque em
suas vitrines o livro de Adolf Hitler, Mein Kampf como grande sugestão
de leitura. Alguém diria que isso é liberdade de expressão? Alguém
ousaria dizer que essa livraria vende apenas o livro e que as opiniões
escritas por Hitler não representam a filosofia da empresa? Pois é,
quando a obra contra judeus foi escrita o autor estava apenas se
expressando, o massacre que veio depois nós hoje conhecemos.
O
Brasil está em primeiro lugar do mundo em assassinatos de LGBTs e nem
mesmo isso parece sensibilizar a Multinacional AVON, No exterior a empresa foi premiada por promover a igualdade.
Parece que por aqui prefere focar no público conservador, mas será que
associar maquiagem à dogmas religiosos é mesmo um bom negócio?
O
mercado de cosméticos é um dos que mais cresce no mundo e o Brasil é o
segundo consumidor, um erro estratégico pode ser fatal pra permanência
de uma marca no mercado. Mesmo que o livro citado não apareça no
catálogo da AVON é estranho a empresa apoiar outra que promove este tipo
de ideologia.
Eu conversei com o
maquiador Emanuel Silva, que trabalha com diversas marcas internacionais
e é consultor estrela na AVON. Ele declarou:
“Assim
que soube que a Avon não pretendia retirar o livro de Silas Malafaia do
catálogo, apesar de toda campanha anti-gay que ele vem fazendo
publicamente, decidi que precisava me manifestar. Escrevi para a empresa
demonstrando minha indignação e pedi cancelamento do meu cadastro. (…) é
uma empresa que está no mercado há mais de 125 anos e sempre prezou
pelo bom nome, mas enquanto isso não acontece, não cooperarei com a
emrpesa.”
Confira abaixo a resposta genérica que a AVON tem dado a vários ativistas:
“A
Avon tem como um de seus mais importantes pilares o respeito à
diversidade, em todos os seus aspectos, e busca atender de forma ampla e
democrática aos consumidores de mais de 100 países, oferecendo uma
ampla variedade de cosméticos e outros produtos – entre eles os livros
-, para atender à pluralidade de preferências, ideias e estilos de vida.
No
que se refere aos livros, oferecemos títulos já consagrados pelo
público que espelhem essa diversidade, ainda mais forte em um país
multicultural de dimensões continentais. Entendemos que não nos cabe
questionar posicionamentos religiosos, políticos ou ideológicos dos
autores dessas publicações, mas estamos sempre atentos a opiniões e
pontos de vista como os seus, que serão considerados por nossa equipe
para aperfeiçoar nossa seleção. Agradecemos por compartilhar sua opinião
conosco.”
Para ler o abaixo-assinado elaborado por ativistas LGBTs. Clique aqui. A campanha não é contra a marca , mas sim um apelo para que a empresa reveja o seu catálogo.
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