quinta-feira, 26 de abril de 2012

Maringá recebe musical com personagem trans dirigido por Evandro Mesquita

Visto no Gazeta do Povo
Estava escrito nas estrelas. Evandro Mesquita sequer tinha visto o filme Hedwig – Rock, Amor e Traição quando o produtor Jonas Calmon Klabin lhe propôs adaptar e dirigir um musical para os palcos brasileiros. A ópera rock caiu como uma luva no estilo e visão de arte deste ator, compositor e cantor, que apresenta o resultado no Teatro da Caixa de quinta a domingo.
A trama, que estreou em 1998 em Nova York, no circuito off-Broadway, fala de uma transexual da Berlim dos anos 80, que, na tentativa de seguir por amor um sargento do Exército norte-americano, se submete a uma cirurgia de mudança de sexo. A operação não dá certo – seu pênis não é completamente removido, de onde vem o subtítulo da peça, O Centímetro Enfurecido.
“Depois do convite, assisti e vi que não era um show de piadas de travestis. Tive interesse de contar essa história, do homem debaixo daquela peruca, que é superdramática”, contou Mesquita à Gazeta do Povo, por telefone.
O fato de ser um musical rock se encaixou com a experiência do cantor na banda Blitz, na qual sua veia de ator deu origem a clipes dramatizados. As músicas, originalmente compostas por Stephen Trask para a peça de John Cameron Mitchell, também caíram no seu gosto.
Passaram-se então dois anos de tradução e lapidação das letras em português. “Para rolar mais redondo na boca e na língua. Sou compositor, tinha essa preocupação de que a versões ficassem orgânicas.”
A batalha seguinte, como o astro a define, foi escolher o elenco. E aqui ele teve uma sacada que escapou às diversas outra versões surgidas mundo afora. Já que a protagonista não cabia em um só ator, que tal usar dois?
“Assim tive mais possibilidades de carpintaria cênica. Não ficou só um cara num bar falando. As histórias se materializaram.” Os escolhidos para a atuação foram Pierre Baitelli e Felipe Carvalhido, que usam saltos que os elevam a quilômetros de distância de Eline Porto, que, por sua vez, interpreta um adolescente por quem Hedwig se apaixona, já nos EUA.
A dramaticidade da obra aumenta a partir desse encontro, quando o garoto rouba as músicas da alemã e com elas se torna um astro popular. A partir daí, a vida do protagonista se resume a seguir o ex-amante por onde quer que ele se apresente, sempre fazendo um show paralelo em qualquer portinha da vizinhança.
Para Mesquita, duplicar a personagem central foi o “grande achado” de sua adaptação, para narrar o drama de “um jeito pop e ao mesmo tempo cruel”. Esta teria sido a opinião do compositor Stephen Trask, ao assistir o espetáculo em São Paulo.
Manter o fio de tensão que remete às histórias verídicas foi um “drible” no público, que, segundo Mesquita, muitas vezes busca o espetáculo esperando uma gozação com o tema da transexualidade. “A princípio, a pessoa acha que é uma coisa, mas vai entrando no universo da protagonista, vai se emocionando, e, de alguma maneira, se identifica com sua busca pelo amor sublime.”
O que é?
O musical rock traz 11 canções, todas retrabalhadas em português, ao longo das quais a protagonista Hedwig conta as “roubadas” em que se meteu. A peça, que tem som ao vivo, foi indicada em sete categorias do Prêmio Shell, incluindo melhor ator (Pierre Baitelli) e som (Danilo Timm e Evandro Mesquita).
Musical: Hedwig e o Centímetro Enfurecido - Teatro da Caixa, em Maringá, Paraná (R. Cons. Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Dias 26, 27 e 28, às 20 horas, e 29, às 19 horas. R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). Classificação indicativa: 16 anos. Sujeito a lotação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário