Publicado na Gazeta do Povo
Dica de Augusto Martins
Um jovem foi agredido na noite de sexta-feira (10), no Centro de Curitiba, por ser homossexual, de acordo com a polícia. Os agressores – um casal de adolescentes, ele com 16 anos e ela com 15 - chegaram a ser apreendidos, mas foram liberados em seguida. Segundo a vítima, eles gritaram durante a agressão que queriam eliminar os “gays, negros e nordestinos”.
A vítima, que preferiu preservar sua identidade, disse que estava em
café do Centro, por volta das 23h30, quando saiu para fumar um cigarro
com uma amiga. Os agressores teriam se aproximado e começado a
violência. “Eles fizeram uma pergunta, que eu não lembro, sei que não
deu tempo de responder nada e eles começaram a me agredir.” A amiga dele
também foi agredida. “Eles bateram nela, mas o alvo ali era eu, eles
diziam que queriam acabar com aquele ‘veado’ que estava ali, que odiavam
gays, negros e nordestinos”, disse.
A amiga dele tentou separar a briga, mas cada vez que se aproximava era
agredida. “Eles me seguraram e me bateram muito, estavam com soco inglês
e tinham uma faca. Foi um ataque homofóbico, não houve provocação da
nossa parte, eles simplesmente chegaram e começaram a desferir golpes”,
disse o jovem.
Ele foi levado para o Hospital Cajuru com ferimentos por todo o corpo.
Levou sete pontos no supercílio direito e dois no couro cabeludo. Nesta
segunda-feira (13), o rapaz foi até o Instituto Médico Legal (IML) de
Curitiba fazer um exame de corpo de delito. A amiga dele teve ferimentos
leves e não precisou ir para o hospital. Ela mora em São Paulo, veio
para Curitiba para ver o pai, e já voltou para casa.
Um boletim de ocorrência sobre o fato foi registrado na noite de
sexta-feira, após a agressão. Os adolescentes foram localizados por
policiais militares e levados para a Delegacia do Adolescente, mas foram
liberados em seguida. Segundo a delegacia, por serem menores, os dois
foram liberados com a presença dos pais, que assinaram um termo de
compromisso para levar os filhos a uma audiência marcada para o próximo
dia 15. Na audiência, o juiz irá definir se os dois devem cumprir alguma
medida.
O jovem disse que não vai desistir até que os agressores sejam punidos.
“Não quero que nenhum gay, nenhum nordestino, nenhum negro, nenhum ser
humano seja agredido gratuitamente como eu fui. Vou seguir em frente
nessa briga, processar quem tiver que processar e denunciar quem tiver
que denunciar”, disse.
A ONG Dom da Terra, que desenvolve um trabalho de combate à violência
homofóbica em Curitiba e região, foi informada sobre a situação e está
prestando assistência jurídica e psicológica à vítima, segundo o
coordenador Márcio Marins. “A gente quer que isso seja apurado e que os
culpados, maiores ou menores, sejam punidos. Existem formas de pagar
pelo crime que se comete, mesmo sendo menor de idade”, disse.
Paraná entre os mais violentos
O Paraná ocupa a nona posição entre os estados brasileiros com maior
número de agressões contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais (LGBT), segundo levantamento sobre violência homofóbica
feito pelo governo federal, com base em denúncias realizadas em 2011. A
taxa média do Brasil é de 3,5 violações a cada 100 mil habitantes e no
Paraná o índice chega a 4,1.
Em 2009 e 2010, o estado esteve no topo da lista de registros de
homicídios contra a população LGBT. No ano passado, caiu para o 6.º
lugar. Em 2011, foram registrados 278 assassinatos no país relacionados à
homofobia.
O levantamento também mostrou que no ano passado foram feitas 6.809
denúncias em todo o Brasil, o que equivale a 19 por dia, e em 62% dos
casos, a violência ocorre em casa e envolve agressores conhecidos das
vítimas.
Delegacias especializadas
Está prevista a construção de 95 delegacias cidadãs em todo o estado até
2014, que serão espaços para o atendimento de vítimas de violência
homofóbica, com psicólogos e assistentes sociais, segundo a Secretaria
de Estado da Segurança Pública (Sesp). O plano é iniciar as obras até o
fim do ano, primeiramente em Curitiba.
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