domingo, 12 de agosto de 2012

'Ter uma filha era meu sonho de pai e mãe', diz transformista do ES


Publicado no G1
O fato de ser homossexual e trabalhar como transformista não impediu o ator Jurandi Gusmão de realizar o sonho de ser pai, em Vitória, no Espírito Santo. Ele afirma que precisou de coragem para tal feito, mas valeu a pena: Mayra, que completa 11 anos no mês que vem, quebrou paradigmas e mudou a vida de Jurandi. Neste domingo (12), eles comemoram mais um Dia dos Pais em família.
"Ter uma filha era meu sonho de pai e mãe. Sempre sonhei em educar, crescer ao lado, ensinar e aprender junto. Eu queria que ela saísse de dentro de mim, literalmente, mas para isso tem que ter coragem. Não tinha atração por mulher, mas fiz para realizar o meu sonho. Fazer é delicado, criar é mais ainda. Fiquei junto os nove meses, morei junto com a mãe, cuidei do resguardo, do umbigo, do andar, do falar, do caminhar e procuro ser o mais presente possível diariamente", afirma.
Mayra nasceu justamente na época em que Jurandi mais trabalhou, tendo inclusive premiações nas principais boates e casas de show do Espírito Santo. "Foi um momento complicado. Precisava de dinheiro, então trabalhei ainda mais. Nunca parei para ouvir a opinião dos outros, eu saía para trabalhar e ganhar a vida. Quando ela começou a andar e a falar, viu minhas apresentações. Em alguns números, eu já saia maquiado", lembra o ator.
Desde cedo, a filha acompanhou o pai nos ensaios e nas apresentações. Segundo Jurandi, Mayra nunca estranhou o fato do pai ser homossexual ou trabalhar como transformista. "Essa fase do 'ridículo, feio, não estou entendendo', ela ainda não viveu. Acredito que essa fase possa surgir agora, que ela está quase com 11 anos. A gente conversa com tranquilidade. Ela conheceu meu ex-namorado, por exemplo, e tinha uma amizade com ele. Isso nunca foi uma barreira", diz.
A preocupação do pai, segundo ele, sempre foi em passar valores para a filha e educá-la para que ela soubesse amar e respeitar as pessoas. "Ela é nova, mas já convive com as diferenças, até mesmo na escola. Digo a ela que tem que ter respeito, que homossexual lê, estuda, paga imposto, tem pai e mãe. As pessoas podem mudar ou não, mas a escolha é de cada um e sempre tem que haver respeito", afirma.
O maior desafio, na opinião de Jurandi, é a educação da filha. Ele se preocupa em levar e buscar na escola, em ter qualidade no tempo em que passam juntos nos finais de semana, em acompanhar o crescimento e as descobertas de Mayra.
"Procuro dizer para ela que ser pai não é somente fazer uma criança, tem que amar e estar perto. Faço questão de estar com ela na praia, no mercado, no cotidiano, para que ela veja o mundo como é. Como pai, tenho grande preocupação com a puberdade, com a sexualidade, em instruí-la, para que a curiosidade natural da adolescência não a leve para caminhos errados, como as drogas", conta.
Jurandi não mede esforços para realizar, diariamente, o sonho de ser pai. E incentiva a filha a sonhar e a alcançar seus sonhos. "Ela sempre curtiu o lado artístico e acredito que ela tenha essa veia artística. Ela pensa em ser cantora, tem um lado musical forte. E eu incentivo. Ela deve participar de um espetáculo de dança e teatro que estamos montando. Ela tem paixão por arte e, se seguir esse caminho for o sonho dela, eu vou incentivar", afirma.

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