Por Daniel Lélis
Por que? Não há como ver a foto acima e não se perguntar o que leva um 
ser humano, atropelando qualquer resquício de benevolência, tirar a vida
 de outro ser humano simplesmente pelo fato de esse outro ser 
homossexual. Supostamente em defesa de valores um tanto ultrapassados, 
humilha-se, discrimina-se e mata-se. Dizem que fazem isso abençoados por
 um deus soberano, senhor da razão e da sabedoria. Quantas lágrimas são 
necessárias para fazer valer uma ideia, não é mesmo? Se deus existe, 
estou certo de que ele deve ter vergonha de quem, em seu nome, tira o 
direito do outro de viver. Mas vamos aos fatos. A imagem é só uma das 
dezenas que circulam na internet mostrando o fim trágico a que estão 
sujeitos os iranianos homossexuais. Lá, gays são enforcados em público a
 fim de que sirvam de exemplo. São os bons costumes daquele país, 
governado por uma teocracia islâmica.  
Imagino, com tristeza e vergonha, a cena: o rapaz, na flor da sua 
juventude, descobrindo-se homossexual. Num belo dia, é pego em flagrante
 beijando outro homem. Algum tempo depois, os dois estão lá, no alto de 
guindastes, com cordas em seus pescoços. Sem vida, sem dignidade. Longe,
 quem sabe, talvez uma mãe chore e lamente o destino doloroso do seu 
filho. Outros gays, vendo aquilo, talvez se desencorajem de serem quem 
são e optem por esconder no fundo do armário o sonho de serem felizes.  
É, amigos, mas se vocês pensam que a opressão é um inimigo distante, 
está enganado. No Brasil, é claro, não vivemos tempos de opressão como 
aqueles vividos em terras iranianas. Mas aqui, assim como lá, a 
homofobia continua matando. São tantos casos, de Norte a Sul, de 
homossexuais enforcados, esfaqueados, degolados ou que se livram da dor 
da rejeição optando pelo suicídio. Milhares de brasileiros gays perdem a
 vida por serem gays. Até ontem era manchete em todos os jornais os 
ataques sofridos por homossexuais em ambientes públicos. Chegamos ao 
cúmulo de um pai e um filho serem atacados por que demonstraram afeto um
 pelo outro.  
Não faz muito tempo soube de uma história absurda. Um jovem, com pouco 
mais de 15 anos, foi expulso de casa depois de se assumir gay. Em seu 
corpo, haviam marcas de facão. O pai dele tentou matá-lo quando soube da
 orientação sexual do filho. Ou seja, não lhe bastou expulsá-lo do lar, 
era preciso dá-lhe uma surra. Não acho oportuno nesse texto discutir a 
necessidade de termos uma lei para criminalizar a homofobia em âmbito 
nacional. Isso é assunto para outra hora. O que quero é deixar claro 
para quem lê esse texto que não dá para entender como num país como o 
Brasil, democrático, laico, republicano, o ódio ainda esteja por trás de
 tantos crimes. 
É certo que por conveniência ou puro preconceito, seja difícil 
reconhecer a sanguinolenta marcha do horror em terras brasileiras. Mas o
 fato é que provavelmente enquanto você ler esse texto, alguém é ferido,
 seja verbal, moral ou fisicamente. Temos a opção de nos fazer de cegos,
 fingindo que os tempos cruéis fazem parte do passado, ignorando os 
guindastes que foram montados em frente a nossa casa. Ou podemos 
escolher fazer a diferença, reconhecendo o problema e buscando, 
apoiando, sugerindo soluções para ele. Quem sabe assim, muitas cordas 
sejam afrouxadas, permitindo que haja vida e vida em abundância.  

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