sábado, 8 de setembro de 2012

"A opressão que mata gays aqui e no Irã", por Daniel Lélis


 
 
Por que? Não há como ver a foto acima e não se perguntar o que leva um ser humano, atropelando qualquer resquício de benevolência, tirar a vida de outro ser humano simplesmente pelo fato de esse outro ser homossexual. Supostamente em defesa de valores um tanto ultrapassados, humilha-se, discrimina-se e mata-se. Dizem que fazem isso abençoados por um deus soberano, senhor da razão e da sabedoria. Quantas lágrimas são necessárias para fazer valer uma ideia, não é mesmo? Se deus existe, estou certo de que ele deve ter vergonha de quem, em seu nome, tira o direito do outro de viver. Mas vamos aos fatos. A imagem é só uma das dezenas que circulam na internet mostrando o fim trágico a que estão sujeitos os iranianos homossexuais. Lá, gays são enforcados em público a fim de que sirvam de exemplo. São os bons costumes daquele país, governado por uma teocracia islâmica.
 
Imagino, com tristeza e vergonha, a cena: o rapaz, na flor da sua juventude, descobrindo-se homossexual. Num belo dia, é pego em flagrante beijando outro homem. Algum tempo depois, os dois estão lá, no alto de guindastes, com cordas em seus pescoços. Sem vida, sem dignidade. Longe, quem sabe, talvez uma mãe chore e lamente o destino doloroso do seu filho. Outros gays, vendo aquilo, talvez se desencorajem de serem quem são e optem por esconder no fundo do armário o sonho de serem felizes.
 
É, amigos, mas se vocês pensam que a opressão é um inimigo distante, está enganado. No Brasil, é claro, não vivemos tempos de opressão como aqueles vividos em terras iranianas. Mas aqui, assim como lá, a homofobia continua matando. São tantos casos, de Norte a Sul, de homossexuais enforcados, esfaqueados, degolados ou que se livram da dor da rejeição optando pelo suicídio. Milhares de brasileiros gays perdem a vida por serem gays. Até ontem era manchete em todos os jornais os ataques sofridos por homossexuais em ambientes públicos. Chegamos ao cúmulo de um pai e um filho serem atacados por que demonstraram afeto um pelo outro.
 
Não faz muito tempo soube de uma história absurda. Um jovem, com pouco mais de 15 anos, foi expulso de casa depois de se assumir gay. Em seu corpo, haviam marcas de facão. O pai dele tentou matá-lo quando soube da orientação sexual do filho. Ou seja, não lhe bastou expulsá-lo do lar, era preciso dá-lhe uma surra. Não acho oportuno nesse texto discutir a necessidade de termos uma lei para criminalizar a homofobia em âmbito nacional. Isso é assunto para outra hora. O que quero é deixar claro para quem lê esse texto que não dá para entender como num país como o Brasil, democrático, laico, republicano, o ódio ainda esteja por trás de tantos crimes.
 
É certo que por conveniência ou puro preconceito, seja difícil reconhecer a sanguinolenta marcha do horror em terras brasileiras. Mas o fato é que provavelmente enquanto você ler esse texto, alguém é ferido, seja verbal, moral ou fisicamente. Temos a opção de nos fazer de cegos, fingindo que os tempos cruéis fazem parte do passado, ignorando os guindastes que foram montados em frente a nossa casa. Ou podemos escolher fazer a diferença, reconhecendo o problema e buscando, apoiando, sugerindo soluções para ele. Quem sabe assim, muitas cordas sejam afrouxadas, permitindo que haja vida e vida em abundância.
 

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