Publicado na Gazeta do Povo
Artigo de Rogerio Waldrigues Galindo
Indicado por Augusto Martins
Liberdade de expressão. Direito de opinião. Claro que temos todos de
defender. Não quero um mundo em que apenas aqueles que pensem como eu
possam escrever ou publicar. Isso seria censura. É preciso haver
pluralidade, mesmo porque só assim aprendemos algo, só assim o debate
avança. Nem por isso aqueles que participam da arena pública estão
autorizados a vê-la como uma espécie de vale-tudo. Muito pelo contrário:
para sermos ouvidos, temos de ser civilizados.
O artigo de Carlos Ramalhete publicado na quinta-feira (leia aqui)
sobre a adoção de uma criança por um casal homossexual, autorizada pelo
Superior Tribunal de Justiça, causou fúria em muita gente (claro, houve
também os que o defenderam). Há basicamente dois motivos para a ira,
que levou inclusive à criação de protestos na internet (dizem que haverá
até uma manifestação, ou algo assim, pedindo que Ramalhete deixe de ser
publicado).
O primeiro motivo é a opinião propriamente dita. Ramalhete é contra a
adoção por homossexuais. Num assunto polêmico, as opiniões contrárias às
nossas normalmente nos irritam. E muita gente ficaria brava
simplesmente por se ver contrariada. Mas até aí Ramalhete não teria
nenhum motivo para se desculpar. Tem o direito à sua opinião, ainda que
eu, você ou quem mais for não concordemos com ela.
O segundo motivo para a revolta, porém, é de outro tipo. E diz respeito
ao tom, ao modo de falar. Diz respeito à grosseria. À falta de respeito
com os outros. Diz respeito à intolerância e à falta de civilidade que,
já em outras ocasiões, marcou os artigos de Ramalhete.
Em vezes anteriores, o colunista já havia destratado qualquer um que
fuja à sua visão de mundo. Quem defende direitos de homossexuais está
“esgarçando a tolerância” do brasileiro – o que justificaria ataques a
gays. Feministas são “gambás”. Agora, aumentando a lista de
preconceitos, pais adotivos são pais de mentira. E os gays continuam a
ser o alvo preferencial de sua campanha.
O problema está aqui. Não está em ele ser contra ou a favor de algo. Mas
sim em externar algo muito semelhante ao ódio, escrevendo de uma
maneira que perpetua o preconceito. Um preconceito que é responsável
pela formação de guetos, pela desgraça de muitos e até por assassinatos.
O discurso não é perverso por ser conservador. É perverso por ser
preconceituoso.
Precisamos de mais tolerância neste mundo. É preciso respeitar os
diferentes. É preciso, inclusive, respeitar aqueles que defendem pontos
de vista contrários aos nossos. Mas o limite da tolerância, como alguém
já disse, é a intolerância. Não podemos ser passivos a ponto de colocar
em risco as vidas de pessoas e a nossa própria civilização.
Rogerio Waldrigues Galindo é reporter e colunista da editoria de Vida Pública, e blogueiro da Gazeta do Povo.
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