sábado, 29 de setembro de 2012

Mostra celebra a obra de Rosa von Praunheim, cineasta e ativista gay alemão



 
Publicado pelo Estadão
Por Luiz Carlos Merten
 
Rosa Von Praunheim nunca foi mais ativo na Berlinale do que este ano. Da festa de abertura, após a projeção de Adeus à Rainha, de Benoit Jacquot, à de encerramento do Teddy Bear, o Urso de Ouro gay, e sempre vestindo modelitos extravagantes, o lendário experimentador de linguagem e defensor da diversidade sexual celebrou em alto estilo seus 70 anos e 42 de carreira. São dezenas de filmes a partir de Die Bettwurst, de 1970, ano em que também fez sua obra manifesto, Não É o Homossexual Que É Perverso, mas a Situação em Que Vive.
 
Com o título de Imagens Engajadas, Rosa Von Paunheim ganha agora a homenagem do Centro Cultural Banco do Brasil, que anuncia, até 7 de outubro, a revisão completa do autor, incluindo seu documentário longo O Rei dos Comics, que estreou no Panorama da Berlinale, em fevereiro. O 'rei', no caso, é o quadrinista Ralf Konig, que criou as tiras de O Homem Ideal, transpostas para o cinema em 1994. Konig ousou fazer, quando isso ainda não era moda, uma investigação sobre os casamentos gays e a sua série, ganhando o público hétero, virou um fenômeno mundial. Ao falar sobre ele, e sobre sua luta contra tabus, Von Praunheim não deixa de falar de si próprio.
 
 
Nascido Holger Mischwitzki, em 1942, ele adotou o codinome de Rosa Von Praunheim em homenagem - ou protesto - contra o emblema do triângulo cor-de-rosa que os gays eram obrigados a usar sob o nazismo. Por conta disso tornou-se duplamente incômodo - por remeter constantemente ao passado da Alemanha e por seu pioneirismo na defesa do movimento social pelos direitos civis das pessoas de minoria sexual ou LGBT na Europa. No Dicionário de Cineastas, Rubens Ewald Filho o define como 'John Waters teutônico'. O rótulo é válido somente em parte. Waters é mais escrachado - e virou sinônimo de kitsch -; Von Praunheim sempre foi mais politizado, e com certeza não arrefeceu o ânimo nem deixou de apontar o dedo acusador com o tempo.
 
No Brasil, ele se tornou conhecido e adquiriu reputação de cult na Mostra. Na Alemanha, foi estigmatizado com o rótulo de 'marginal'. Boa parte, senão toda sua obra foi produzida na TV, mas a rede ZDF com frequência cancelou de última hora seus filmes por considerá-los impróprios para a audiência 'straight'. O que o público poderá ver, agora, em bloco, poderá ser um choque. Os Garotos do Bahnhof Zoo é um documentário sobre garotos de programa; Memórias de Nova York retoma a experiência de sobreviver em Nova York e volta sobre os rastros do próprio Rosa, quando viveu nos EUA e se envolveu com a cena underground; Gays Mortos, Lésbicas Vivas contrapõe memórias de militantes homossexuais que morreram nos campos de concentração do nacional-socialismo à força de mulheres que desfraldam a bandeira do amor de Safo; Minhas Mães é um documento particularmente complexo.
 
 
 
Embora nascido em Riga, na Letônia, Rosa foi criado na Alemanha. Em 2000, sua mãe, aos 94 anos, lhe revelou que não era filho biológico. Rosa partiu para Riga, tentando reorganizar no imaginário a existência de duas mães. Vários outros filmes tratam de aids, violência punk, sadomasoquismo. A Viagem de Rosa para o Inferno é uma enquete muito pessoal sobre a 'alma'. Rosa entrevista teólogos e fundamentalistas de várias religiões para tentar entender os conceitos de 'inferno' e 'além', antecipando os castigos que o esperam por ter vivido sempre fora das normas. Mas ele não se intimida - essa é sua vida, e ele a vive com destemor.
 
MOSTRA ROSA VON PRAUNHEIM
CCBB. Rua Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651.
4ª a dom., a partir das 15 h. R$ 4. Até 7/10.

O Guia da Folha publicou a programação: clique aqui!

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