O presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea),
Daniel Sottomaior, denuncia que os casos de bullying religiosos dentro
de instituições de ensino estão cada vez mais comuns "e acontecem todos
os dias nas escolas do País". "Na maioria das vezes somos procurados por
jovens que sofrem preconceito em sala de aula e não sabem como agir.
Passamos orientações e alguns embasamentos. Infelizmente, os próprios
educadores não estão cientes das leis e acabam discriminando esses
estudantes", disse.
O caso mais recente e que tomou repercussão nacional na última semana
foi o do estudante Ciel Vieira, 17 anos, aluno da Escola Estadual Santo
Antônio, que fica na cidade de Miraí, região da Zona da Mata de Minas
Gerais. Em vídeos postados no Youtube, ele relatou ter sido discriminado
por professores e colegas pelo fato de não acreditar em Deus. O Terra conversou com Ciel e a mãe dele, Márcia Cristina Vieira.
"Tudo teve início quando uma professora de geografia disse que faria
orações antes de começar suas aulas. Eu, por ser ateu, ficava em
silêncio e ela começou a notar e disse que 'quem não tem Deus no
coração, não será nada na vida.' Eu achei um absurdo o que ela falou,
mas fiquei na minha. Depois, procurei a Atea para relatar o que havia
acontecido. Então, eles me enviaram parte da Constituição que fala que o
Estado é laico e ela não poderia pregar em instituição pública. Mostrei
a ela, que disse desconhecer esta lei, e resolvi fazer o vídeo como
forma de protesto", disse Ciel.
"Quando somos procurados, tentamos orientar e nos colocar a
disposição para dar outros tipos de andamentos, como por exemplo entrar
com ação no Ministério Público, se for da vontade da pessoa", afirmou
Sottomaior. Ciel postou dois vídeos na internet nas duas últimas
semanas. No primeiro, relatou, com uma gravação feita por ele dentro de
sala de aula, que durante a oração do pai-nosso, os colegas o
hostilizaram dizendo: "mas livrai-nos do Ciel. Amém".
"Sou kardecista e há dois anos, depois de muito estudar, ele resolveu
ser ateu. Não vejo nada de errado. Cada um tem suas opiniões e essas
precisam ser respeitadas. Fiquei muito triste com a situação porque
colegas começaram a dizer que ele tinha parte com o demônio. Ele é um
garoto que sempre foi muito respeitoso e íntegro e fiquei chateada pelo
ocorrido", afirmou a mãe dele, Márcia Cristina.
O Terra tentou várias vezes contato com a direção da escola,
que não quis se pronunciar sobre o caso. A professora citada por Ciel
não foi localizada. A Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais
(SEE-MG) informou que ainda apura o que aconteceu para tomar medidas.
A mãe do estudante esteve na escola na última sexta-feira para
conversar com a direção sobre o ocorrido. "Ele (o diretor) disse que ia
mudar a professora de horário, porque ela só faz orações no primeiro
período. Mesmo assim, falei que ele poderia rever alguns conceitos. Eles
se mantiveram um pouco irredutíveis quanto às orações, talvez por
desconhecerem a lei. Acho que poderiam falar sobre bulliyng de uma
maneira mais esclarecedora aos estudantes e não da forma como foi",
relatou ela.
Em 2009 outro caso parecido ganhou repercussão em Minas Gerais. Foi
na cidade de Aimorés, no Vale do Rio Doce. Um estudante teria sido
retirado de sala de aula por não querer tirar o boné durante uma oração.
O estudante, de 17 anos, foi levado até a sala da direção e gravou o
momento em que conversava com uma mulher, que seria vice-diretora. Ela
exigia que não usasse o acessório no momento das orações.
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