Dica de Augusto Martins 
INTRODUÇÃO
 A Homofobia é um tema que está além de pertencer apenas a um debate  paroquial de militantes LGBT[1]. O tema ganhou as ruas,  a “arena pública”, com manifestações de variados setores (artístico, político,  religioso etc.).
 Primeiramente, esclareça-se que o 
termo “homofobia” não pode ser limitado a  uma visão reducionista: 
“homossexualidade + fobia” (isto é, como aversão a  homossexuais). 
Homofobia se marca pela rejeição ou negação – em múltiplas  esferas, 
materiais e simbólicas – da coexistência, como iguais,  com seres afetivo-sexuais que diferem do modelo sexual dominante. Violência não se dá apenas de forma física, mas igualmente em  discursos que não reconheçam uma minoria como tal.
 Desde 2006 no Brasil o Congresso 
Nacional se vê às voltas com o “problema” de ter de tomar posição quanto
 ao PLC 122, que prevê a criminalização da  homofobia por sua colocação 
entre aqueles critérios que estabelecem quem pode  ser vítima de 
“racismo”, a saber, “cor, etnia, religião ou procedência nacional” (art.
 1º da lei 7716/89). O que o PLC 122 faz nada mais é do que  incluir, na já vigente lei do racismo, a mesma proteção que já possuem
  negros, judeus, mulheres e, inclusive, religiosos: o direito de ser, 
de existir  e de poder buscar sua felicidade de forma digna. Por que é 
que ninguém propõe  retirar da lei do racismo a proteção aos negros? 
Será que, quando a lei fala em  proteção contra discriminação por cor, 
não está dando “superdireitos” aos  negros? Ou aos religiosos? Pois é 
este um dos argumentos contra o PLC 122.  Entretanto, basta uma leitura 
rápida do mesmo para se ver que ele não coloca  nenhuma minoria com mais
 direitos que outra, ao contrário, diz expressamente que  deve ser dada 
aos homossexuais a mesma liberdade que aos  heterossexuais.
O Projeto já foi aprovado na Câmara e
 agora tenta ser aprovado no Senado,  onde vem encontrando muita 
resistência por parte da bancada religiosa que  enxerga ali uma violação
 à sua “liberdade religiosa”.
Entendemos que o PLC 122/06 não 
viola, quer a liberdade de expressão, quer a  liberdade religiosa, uma 
vez que o exercício destas é e continuará sendo  legítimo, desde que não
 configure abuso (o que independe da aprovação do  referido projeto). É 
dizer, denominações religiosas que (ainda) pregam que a  
homossexualidade seja um “pecado”/“abominação”, poderão continuar 
fazendo-o, o  que elas não podem fazer é atribuir à homossexualidade 
características que nada  têm a ver com questões religiosas, como dizer 
que homossexuais são promíscuos,  pedófilos etc[2].
 É preciso situarmos o que é (e quais  os limites) da liberdade de 
expressão e da liberdade religiosa. Por exemplo, o  Pacto de San José da
 Costa Rica, em seu art. 13 trata da “liberdade de  pensamento e de 
expressão”, estabelecendo:
1. Toda pessoa tem o direito à 
liberdade de pensamento e de expressão. (...)  2. O exercício do direito
 previsto no inciso precedente não pode estar sujeito à  censura prévia,
 mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente  
previstas em lei e que se façam necessárias para assegurar: a) o 
respeito dos  direitos e da reputação das demais pessoas; b) a proteção 
da segurança nacional,  da ordem pública, ou da saúde ou da moral 
públicas.
  A Constituição de 1988, por sua vez, dispõe em seu art. 5º:
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
  V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da  indenização por dano material, moral ou à imagem;
  VI - é inviolável a liberdade de 
consciência e de crença, sendo assegurado  o livre exercício dos cultos 
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção  aos locais de culto
 e a suas liturgias; (...)
  VIII - ninguém será privado de 
direitos por motivo de crença religiosa ou  de convicção filosófica ou 
política, salvo se as invocar para eximir-se de  obrigação legal a todos
 imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa,  fixada em lei;
Percebe-se que, tanto a liberdade de
 expressão quanto a liberdade religiosa  são direitos fundamentais, mas,
 como tal, não são absolutas – afinal, nenhum  direito fundamental é 
absoluto, nem o direito à vida[3].  Estas liberdades estão no mesmo nível que a vedação à discriminação (art. 3º, IV) e também do direito de igualdade[4] e das demais  liberdades civis.
 Dessa forma, não há conflito real entre estes direitos – ainda que se possa  falar em conflito aparente (prima facie)[5].
 No caso  concreto tal possível conflito desaparece quando se percebe 
que uma das  pretensões se mostra abusiva – quando a realização de um 
“direito” significa a  negação de outro.
 É dizer, quanto à “liberdade de expressão  religiosa”, quando o portador desta pretensão não considera o  outro como igual portador dos mesmos direitos, não há liberdade, não há  uso legítimo de um direito mas um abuso do mesmo, conhecido como hate  speech[6]. No caso da homossexualidade, há “hate  speech” ao não se reconhecer o direito do outro como igual, naquilo que  o outro se reconhece como indivíduo.
 Há um caso recente sobre isso no Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Em fevereiro/2012 o TEDH confirmou decisão do Judiciário sueco que  condenou 4 cidadãos a pagar multa por manifestações  homofóbicas:
 panfletos que alegavam que a homossexualidade era um  desvio sexual, 
que teria um efeito moralmente destrutivo nas bases da sociedade  e que 
era responsável pela expansão do HIV. A defesa deles era que eles não  
queriam “desprezar os homossexuais”, mas promover um debate sobre a 
educação  sueca. O Judiciário sueco os condenara entendendo que havia no
 discurso deles “desprezo” e os condenou por agitação contra um grupo 
por motivo de sua  nacionalidade ou etnia. O TEDH deixou claro que a liberdade de expressão  tem limites e um deles é a reputação e o direito dos outros[7].
 De toda sorte, em razão das 
críticas ao Projeto original, a Senadora Fátima  Cleide, então Relatora,
 ofereceu um Substitutivo aprovado em 2009 pela Comissão  responsável no
 Senado. Nesse Substitutivo questões “polêmicas” foram retiradas,  
restando, basicamente, a questão da equiparação da homofobia ao racismo.
 Nosso objetivo aqui está direcionado a mostrar
 que outros países,  bem como Organismos Internacionais já têm se 
atentado para a necessidade de  proteção da minoria LGBT contra crimes 
praticados em razão de orientação sexual  ou identidade de gênero[8]. Tais resoluções  internacionais – que, aliás, têm no Brasil ou o Estado propositor ou,  ao menos, subscritor de sua apresentação – importam consequências  diretas para nosso País,
 em razão do que estabelece a Constituição da  República de 1988 a 
respeito da vinculação do Brasil com a promoção dos Direitos  Humanos – 
inclusive se submetendo a Cortes Internacionais e outros organismos  
similares (art. 4º, II e art. 5º, §4º), com a proteção da dignidade da 
pessoa  humana (art. 1º, III), com a vedação da discriminação (art. 3º, 
IV) e com a  cláusula geral de abertura do nosso Sistema de Direitos 
Fundamentais contida no  §2º do art. 5º.
DIREITO COMPARADO
 Diante de uma série de 
manifestações que temos visto sobre a “exoticidade” da proposta contida 
no PLC 122/06, entendemos que, mais do que nunca, é  necessário mostrar 
como outros países vêm aprovando leis com conteúdos muito  similares. O 
objetivo não é trazer um quadro exaustivo, mas apenas mostrar  alguns 
exemplos.
 Nos EUA foi aprovada em 2009 uma 
alteração no U.S. Code, Seção 16, Título  18, §249 – conhecido como 
“Matthew Shepard Hate Crimes Prevention Act”. Em seu  preâmbulo se lê:
 (1)
 The incidence of violence motivated by the actual or perceived race,  
color, religion, national origin, gender, sexual orientation, gender 
identity,  or disability of the victim poses a serious national problem.
 (…)
  (3) State and local authorities 
are now and will continue to be responsible  for prosecuting the 
overwhelming majority of violent crimes in the United  States, including
 violent crimes motivated by bias. These authorities can carry  out 
their responsibilities more effectively with greater Federal assistance.
A partir disso, a lei prescreve:
§ 249. Hate crime acts
  (…) (2) OFFENSES INVOLVING ACTUAL 
OR PERCEIVED RELIGION, NATIONAL ORIGIN,  GENDER, SEXUAL ORIENTATION, 
GENDER IDENTITY, OR DISABILITY.—
(A) IN GENERAL — Whoever, whether or
 not acting under color of law, in any  circumstance described in 
subparagraph (B) or paragraph (3), willfully causes  bodily injury to 
any person or, through the use of fire, a firearm, a dangerous  weapon, 
or an explosive or incendiary device, attempts to cause bodily injury to
  any person, because of the actual or perceived religion, national 
origin,  gender, sexual orientation, gender identity or disability of 
any person —
(i) shall be imprisoned not more than 10 years, fined in accordance with this  title, or both; and
  (ii) shall be imprisoned for any term of years or for life, fined in  accordance with this title, or both, if —
(I) death results from the offense; or
  (II) the offense includes 
kidnapping or an attempt to kidnap, aggravated  sexual abuse or an 
attempt to commit aggravated sexual abuse, or an attempt to  kill.
  (B) CIRCUMSTANCES DESCRIBED — For purposes of subparagraph (A), the  circumstances described in this subparagraph are that—
(i) the conduct described in 
subparagraph (A) occurs during the course of, or  as the result of, the 
travel of the defendant or the victim—
(I) across a State line or national border; or
  (II) using a channel, facility, or instrumentality of interstate or foreign  commerce;
  (ii) the defendant uses a channel,
 facility, or instrumentality of  interstate or foreign commerce in 
connection with the conduct described in  subparagraph (A);
  (iii) in connection with the 
conduct described in subparagraph (A), the  defendant employs a firearm,
 dangerous weapon, explosive or incendiary device,  or other weapon that
 has traveled in interstate or foreign commerce; or
  (iv) the conduct described in subparagraph (A) —
(I) interferes with commercial or other economic activity in which the victim  is engaged at the time of the conduct; or
  (II) otherwise affects interstate or foreign commerce.
A menção à lei americana é 
particularmente importante uma vez que se trata de  uma lei federal, num
 sistema onde a legislação é altamente descentralizada nos  Estados. 
Ademais, trata-se de um país “liberal”, onde ainda é forte a ideia do  
mínimo de interferência do Estado na autonomia privada, particularmente 
na “liberdade de expressão”. Há grandes semelhanças entre esta lei e 
nossa lei de  racismo, principalmente com a alteração proposta pelo PLC 
122/06[9].
 Na Noruega o “Anti-Discrimination Act”, de 2006 estabelece como seu  objetivo “to
 promote equality, ensure equal opportunities and rights  and prevent 
discrimination based on ethnicity, national origin, descent, skin  
color, language, religion or belief”. De forma que esta lei, entre 
outras  disposições, altera o Código Penal norueguês, cuja seção 135 passou a  ter a seguinte redação:
Any person who willfully or 
through gross negligence publicly makes a  discriminatory or hateful 
statement shall be liable to fines or imprisonment for  a term not 
exceeding three years. If a statement has been made in such a way as  to
 make it suitable to reach a large number of people, it shall be 
considered  equivalent to a statement that has been made publicly, cf. 
section 7, no. 2. The  use of symbols is also considered to be a 
statement. An accessory to the act  shall be liable to the same penalty.
A “discriminatory or hateful
 statement” means the act of threatening  or insulting a person, or 
promoting hatred or persecution of or contempt for a  person because of 
his or her
a) skin color or national or ethnic origin
b) religion or belief, or
c) homosexual preference, lifestyle or orientation.
No Reino Unido, o Equality Act de 
2010 é uma lei de proteção ampla contra  discriminações por idade, 
deficiência, gênero, casamento (ou uniões civis),  raça, religião ou 
crença, sexo e orientação sexual. O art. 13 trata da  discriminação 
direta: “(1) A person (A) discriminates against another (B) if,  because
 of a protected characteristic, A treats B less favorably than A treats 
 or would treat others” e o art. 19 da discriminação indireta: “(1) A 
person (A)  discriminates against another (B) if A applies to B a 
provision, criterion or  practice which is discriminatory in relation to
 a relevant protected  characteristic of B’s”.
Em 2007 Portugal alterou seu Código 
Penal para colocar, entre as  circunstâncias que agravam o crime de 
homicídio (previsto no art. 131): “Ser  determinado por ódio racial, 
religioso, político ou gerado pela cor, origem  étnica ou nacional, pelo
 sexo ou pela orientação sexual da vítima” (art. 132, “f”). Ainda, 
previu no art. 240 o crime de “Discriminação racial, religiosa ou  
sexual”, prevendo:
1 — Quem:
  a) Fundar ou constituir 
organização ou desenvolver actividades de  propaganda organizada que 
incitem à discriminação, ao ódio ou à violência contra  pessoa ou grupo 
de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou  nacional, 
religião, sexo ou orientação sexual, ou que a encorajem; ou
  b) Participar na organização ou 
nas actividades referidas na alínea  anterior ou lhes prestar 
assistência, incluindo o seu financiamento;
  é punido com pena de prisão de um a oito anos.
  2 — Quem, em reunião pública, por 
escrito destinado a divulgação ou através  de qualquer meio de 
comunicação social ou sistema informático destinado à  divulgação:
  a) Provocar actos de violência 
contra pessoa ou grupo de pessoas por causa  da sua raça, cor, origem 
étnica ou nacional, religião, sexo ou orientação  sexual; ou
  b) Difamar ou injuriar pessoa ou 
grupo de pessoas por causa da sua raça,  cor, origem étnica ou nacional,
 religião, sexo ou orientação sexual,  nomeadamente através da negação 
de crimes de guerra ou contra a paz e a  humanidade; ou
  c) Ameaçar pessoa ou grupo de 
pessoas por causa da sua raça, cor, origem  étnica ou nacional, 
religião, sexo ou orientação sexual;
  com a intenção de incitar à 
discriminação racial, religiosa ou sexual, ou  de a encorajar, é punido 
com pena de prisão de seis meses a cinco anos.
Na França, o “Code du Travail” 
prevê, em seu artigo L122-45 a vedação contra  discriminação por vários 
fatores, inclusive “orientação sexual”:
 Article
 L122-45. Aucune personne ne peut être écartée d'une procédure de  
recrutement ou de l'accès à un stage ou à une période de formation en  
entreprise, aucun salarié ne peut être sanctionné, licencié ou faire 
l'objet  d'une mesure discriminatoire, directe ou indirecte, notamment 
en matière de  rémunération, de formation, de reclassement, 
d'affectation, de qualification, de  classification, de promotion 
professionnelle, de mutation ou de renouvellement  de contrat en raison 
de son origine, de son sexe, de ses moeurs, de son  orientation 
sexuelle, de son âge, de sa situation de famille, de ses  
caractéristiques génétiques, de son appartenance ou de sa 
non-appartenance,  vraie ou supposée, à une ethnie, une nation ou une 
race, de ses opinions  politiques, de ses activités syndicales ou 
mutualistes, de ses convictions  religieuses, de son apparence physique,
 de son patronyme ou, sauf inaptitude  constatée par le médecin du 
travail dans le cadre du titre IV du livre II du  présent code, en 
raison de son état de santé ou de son handicap.
Aqui na América do Sul, destaque para a recente alteração do Código Penal da Colômbia pela Lei n. 1482, de 2011, que acrescentou o Cap. IX  ao Título I do CP:
 Artículo
 134 A. Actos de Racismo o Discriminación. El que arbitrariamente  
impida, obstruya o restrinja el pleno ejercicio de los derechos de las 
personas  por razón de su raza, nacionalidad, sexo u orientación sexual,
 incurrirá en  prisión de doce (12) a treinta y seis (36) meses y multa 
de diez (10) a quince  (15) salarios mínimos legales mensuales vigentes.
  Artículo 134 B. Hostigamiento por 
motivos de raza, religión, ideología  política, u origen nacional étnico
 o cultural El que promueva o instigue actos,  conductas o 
comportamientos constitutivos de hostigamiento, orientados a  causarle 
daño físico o moral a una persona, grupo de personas comunidad o  
pueblo, por razón de su raza, etnia, religión, nacionalidad, ideología 
política  o filosófica, sexo u orientación sexual, incurrirá en prisión 
de doce (12) a  treinta y seis (36) meses y multa de diez (10) a quince 
(15) salarios mínimos  legales mensuales vigentes, salvo que la conducta
 constituya delito sancionable  con pena mayor.
  Artículo 134 C. Circunstancias de 
agravación punitiva. Las penas previstas  en los artículos anteriores, 
se aumentarán de, una tercera parte a la mitad  cuando:
  1. La conducta se ejecute en espacio público, establecimiento público o  lugar abierto al público.
  2. La conducta se ejecute a través de la utilización de medios de  comunicación de difusión masiva.
  3. La conducta se realice por servidor público.
  4. La conducta se efectúe por causa o con ocasión de prestación de un  servicio público.
  5. La conducta se dirija contra niño, niña, adolescente, persona de la  tercera edad o adulto mayor;
  6. La conducta esté orientada a negar o restringir derechos laborales.
As semelhanças entre as leis citadas
 e o PLC 122/06 é um dado que, mais do que  nunca, mostra que o projeto 
nada mais faz do que se colocar a par do que já existe em vários países do mundo. 
SISTEMAS INTERNACIONAL E INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS:
 Em um sistema constitucional que se
 apresenta como constante aprendizado, a  Constituição é (e deve ser 
tida, sempre como) um projeto aberto[10] a constantes novas inclusões. Isso  possibilita que novos direitos possam ser incorporados, como,  aliás, consta expressamente do parágrafo 2º de seu artigo 5º.
No que tange a Tratados Internacionais
 (e similares) sobre  Direitos Humanos de que o Brasil é signatário e 
que, de alguma forma, tratam da  igualdade (bem como da proibição de 
discriminação), podemos citar:
 1.                    a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
 de 1948,  especialmente o Art. 2º, 1. “Toda pessoa tem capacidade para 
gozar os direitos e  liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer  espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, opinião, ou de outra  natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou  qualquer outra condição”;
2.                    o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos,
  de 1966: art. 2º, 1: “Os Estados Partes do presente Pacto 
comprometem-se a  respeitar e a garantir a todos os indivíduos que se 
achem em seu território e  que estejam sujeito a sua jurisdição os 
direitos reconhecidos no presente Pacto,  sem discriminação alguma por 
motivo de raça, cor, sexo, religião, opinião  política ou outra 
natureza, origem nacional ou social, situação econômica,  nascimento ou 
qualquer outra condição”. Em consequência desta Convenção, lembra  RIOS,
 “o Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas considerou indevida a  
discriminação por orientação sexual no tocante à criminalização de atos 
sexuais  homossexuais, ao examinar o caso Toonen v. Austrália”[11]. Aliás, a partir desse caso se seguiram outros.
Lembrando que o Brasil ratificou em 2007 Protocolo  Facultativo a este Pacto que permite que qualquer cidadão  denuncie violações aos direitos civis e políticos diretamente ao Conselho de  Direitos Humanos da ONU.
 3.                    a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de  Discriminação Racial (1965):
 “Considerando que todas as pessoas são  iguais perante a lei e têm 
direito a igual proteção contra qualquer  discriminação e contra 
qualquer incitamento à discriminação” e seu Art. 1º. “(...) a expressão 
‘discriminação racial’ significará qualquer distinção,  exclusão, 
restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem  
nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o
  reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo pleno (em igualdade de 
condição), de  direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio 
político, econômico,  social cultural ou em qualquer outro domínio de 
sua vida”.
A responsabilidade por monitorar o 
cumprimento dessa Convenção é do Comitê de  Eliminação de Discriminação –
 CERD (art. 14 da Convenção). No Brasil, o Conselho  Nacional de Combate
 à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays,  Bissexuais,
 Travestis e Transexuais (CNCD/LGBT) acompanha, desde 2001, os casos  
que tramitam perante aquele Comitê.
 4.                    a Resolução n. 2435: Direitos Humanos, Orientação Sexual e  Identidade de Gênero,
 aprovada pela Assembleia Geral da OEA em 03 de  junho de 2008, 
mostrando preocupação com os “atos de violência e das violações  aos 
direitos humanos correlatas perpetradas contra indivíduos, motivados 
pela  orientação sexual e pela identidade de gênero”:
REITERANDO: Que la Declaración Universal de los Derechos Humanos afirma que todos los seres humanos nacen libres e iguales en dignidad y derechos, y que toda persona tiene todos los derechos y libertades proclamados en esta Declaración, sin distinción alguna de raza, color, sexo, idioma, religión, opinión política o de cualquier otra índole, origen nacional o social, posición económica, nacimiento o cualquier otra condición; (…)CONSIDERANDO que la Carta de la Organización de los Estados Americanos proclama que la misión histórica de América es ofrecer al hombre una tierra de libertad y un ámbito favorable para el desarrollo de su personalidad y la realización de sus justas aspiraciones;REAFIRMANDO los principios de universalidad, indivisibilidad e interdependencia de los derechos humanos;A partir disso, declarou:RESOLVE:1. Expressar preocupação pelos atos de violência e pelas violações aos direitos humanos correlatas, motivados pela orientação sexual e pela identidade de gênero.2. Encarregar a Comissão de Assuntos Jurídicos e Políticos (...) de incluir em sua agenda (...) o tema ‘Direitos humanos, orientação sexual e identidade de gênero’.
Desde 2008 a OEA vem reafirmando 
essa preocupação, aprovando a cada ano uma  nova Resolução com aquele 
mesmo título, mas com conteúdo cada vez mais enfático  quanto à 
erradicação de violência homofóbica no continente. Na reunião de 2009,  a
 Assembleia Geral aprovou a Res. 2504 pela qual:
RESUELVE:1. Condenar los actos de violencia y las violaciones de derechos humanos relacionadas, perpetrados contra individuos a causa de su orientación sexual e identidad de género.2. Instar a los Estados a asegurar que se investiguen los actos de violencia y las violaciones de derechos humanos perpetrados contra individuos a causa de su orientación sexual e identidad de género, y que los responsables enfrenten las consecuencias ante la justicia.3. Instar a los Estados a asegurar una protección adecuada de los defensores de derechos humanos que trabajan en temas relacionados con los actos de violencia y violaciones de los derechos humanos perpetrados contra individuos a causa de su orientación sexual e identidad de género. (…).
Na reunião de 2010, a Assembleia Geral aprovou a Res.  2600:
 TOMANDO NOTA CON PREOCUPACIÓN de 
los actos de violencia y otras violaciones  de derechos humanos, así 
como de la discriminación, practicados contra personas  a causa de su 
orientación sexual e identidad de género,
RESUELVE:1. Condenar los actos de violencia y las violaciones de derechos humanos contra personas a causa de su orientación sexual e identidad de género, e instar a los Estados a investigar los mismos y asegurar que los responsables enfrenten las consecuencias ante la justicia.2. Alentar a los Estados a que tomen todas las medidas necesarias para asegurar que no se cometan actos de violencia u otras violaciones de derechos humanos contra personas a causa de su orientación sexual e identidad de género y asegurando el acceso a la justicia de las víctimas en condiciones de igualdad.3. Alentar a los Estados Miembros a que consideren medios para combatir la discriminación contra personas a causa de su orientación sexual e identidad de género.4. Instar a los Estados a asegurar una protección adecuada de las y los defensores de derechos humanos que trabajan en temas relacionados con los actos de violencia, discriminación y violaciones de los derechos humanos contra personas a causa de su orientación sexual e identidad de género.
 O mesmo se repete na Res. 2653 da Assembleia Geral da OEA  de 2011. A partir disso a Comissão Interamericana de Direitos Humanos criou uma Unidad para los derechos de las personas LGBTI.
 No 2º Informe  sobre a Situação dos Defensores de Dir. Humanos na 
América (31/12/2011), a  Comissão Interamericana dedica um Capítulo 
somente ao problema dos defensores  dos direitos LGBT (§§ 325 e ss.):
325. Las defensoras y defensores de las organizaciones que promueven y defienden los derechos de las personas lesbianas, gays, trans, bisexuales e intersexo (LGTBI) desempeñan un rol fundamental en la región, tanto en el control social del cumplimiento de las obligaciones estatales correlativas a los derechos a la vida privada, igualdad y no discriminación como, en general, en el proceso de construcción social de una agenda global de derechos humanos que involucre el respeto y la garantía de los derechos de las personas lesbianas, gays, trans, bisexuales e intersexo.
326. De conformidad con la Declaración sobre Defensores de Naciones Unidas toda persona tiene derecho a promover y procurar la protección y realización de los derechos humanos y las libertades fundamentales, así como a “desarrollar y debatir ideas y principios nuevos relacionados con los derechos humanos, y a preconizar su aceptación”. La CIDH destaca que en virtud de la protección y desarrollo que ameritan tanto el principio de igualdad como el derecho a la vida privada, las actividades de defensa y promoción del ejercicio libre de una orientación sexual y de la identidad de género pertenecen al orden de defensa y promoción de los derechos humanos.
327. Al respecto, la CIDH reitera que la orientación sexual constituye un componente fundamental de la vida privada de todo individuo y, por lo tanto, existe un derecho a que esté libre de interferencias arbitrarias y abusivas por parte del poder público.
Asimismo, en virtud del principio de igualdad y de no discriminación toda persona tiene derecho a que el Estado respete y garantice el ejercicio libre y pleno de los derechos, sin discriminación de ninguna índole y toda diferencia de trato basada en la orientación sexual de una persona es “sospechosa”, en el sentido de que se presume incompatible con el principio de igualdad y no discriminación. Por lo tanto, ante una diferencia de trato de esta naturaleza en el goce de los derechos y libertades fundamentales, el Estado se encuentra en obligación de probar que la diferencia supera el examen o test estricto, es decir, ser objetiva y razonable, lo que incluye perseguir un fin legítimo, ser idónea, necesaria y proporcional.
328. En su informe de 2006, (…) la CIDH ha visto con preocupación un incremento de las agresiones, hostigamientos, amenazas, y campañas de desprestigio, tanto de actores estatales como no estatales en contra de defensores y defensoras de los derechos de las personas LGBTI. La anterior preocupación ha sido compartida por otros sistemas de protección a los derechos humanos. (…)
335. (…) La CIDH ha recibido información sobre grupos opositores o pertenecientes a las iglesias que promueven constantemente campañas de desprestigio contra organizaciones defensoras de las personas LGTBI, lo cual acentúa un clima de hostilidad y rechazo a sus actividades, y repercute seriamente en la posibilidad de reunirse para defender y promover sus derechos, así como a participar en la formulación de políticas públicas, o bien, obtener financiamiento para el desarrollo de sus actividades. (…)
337. Otro obstáculo frecuente para la debida investigación y sanción de los responsables de crímenes cometidos en contra de personas LGTBI que atraviesan la región es que la mayoría de los crímenes cometidos contra los miembros de estas comunidades suelen identificarse con crímenes pasionales sin que se abran líneas de investigación especializadas que permitan con claridad identificar si el delito fue cometido en el marco del mencionado supuesto o bien, en razón de la orientación o preferencia sexual de las víctimas. La Comisión valora la iniciativa de algunos Estados de la región de crear unidades especializadas en el análisis e investigación de los delitos cometidos por y en contra de miembros de las personas LGTBI.
 Não nos esqueçamos que o Brasil se submete à competência da Corte  Interamericana de Direitos Humanos,
 Corte esta que já condenou o Chile  por discriminação por orientação 
sexual – Sentença de 24/02/2012, Caso Atala  Riffo e Filhas vs. Chile[12].
 5.                    Em 2008 foi aprovada por 66 países (incluindo o Brasil) uma Declaração da ONU condenando violações dos direitos  humanos com base na orientação sexual e na identidade de gênero (A/63/635, de 22/12/08). Nessa Declaração os países signatários  reafirmaram a vigência do:
princípio da não discriminação, que exige que os direitos humanos se apliquem por igual a todos os seres humanos, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero (...)[e se mostraram] profundamente preocupados com as violações de direitos humanos e liberdades fundamentais baseadas na orientação sexual ou identidade de gênero.(...) Estamos (...) alarmados pela violência, perseguição, discriminação, exclusão, estigmatização e preconceito que se dirigem contra pessoas de todos os países do mundo por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero, e porque estas práticas solapam a integridade e dignidade daqueles submetidos a tais abusos.
 Sendo assim, os Declarantes condenaram
as violações de direitos humanos baseadas na orientação sexual ou na identidade de gênero onde queira que tenha lugar, em particular o uso da pena de morte sobre esta base, as execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias, a prática da tortura e outros tratos ou penas cruéis, inumanos ou degradantes, a detenção provisória ou detenção arbitrarias e a recusa de direitos econômicos, sociais e culturais incluindo o direito a saúde. (...)
 E ainda:
Fazemos um chamado a todos os países e mecanismos internacionais relevantes de direitos humanos que se comprometam com a promoção e proteção dos direitos humanos de todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual e identidade de gênero. (...).Urgimos aos Estados a que tomem todas as medidas necessárias, em particular as legislativas ou administrativas, para assegurar que a orientação sexual ou identidade de gênero não possam ser, sob nenhuma circunstância, a base de sanções penais, em particular execuções, prisões ou detenção. (...)Urgimos os Estados a assegurar que se investiguem as violações de direitos humanos baseados na orientação sexual ou na identidade de gênero e que os responsáveis enfrentem as consequências perante a justiça.(...) Urgimos os países a assegurar uma proteção adequada aos defensores de direitos humanos, e a eliminar os obstáculos que lhes impedem levar adiante seu trabalho em temas de direitos humanos, orientação sexual e identidade de gênero.
 6.                    Também no âmbito da ONU,
 a Assembleia Geral aprovou, em  17 de novembro de 2011, o “Informe 
Anual do Alto Comissariado das Nações Unidas  para os Direitos Humanos”.
 Entre os temas do Informe esteve o Documento: “Leis e Práticas Discriminatórias e Atos de Violência Cometidos contra  Pessoas por sua Orientação Sexual e Identidade de Gênero”
 – um  documento extenso que não apenas traz dados, mas também mostra 
que os organismos  da ONU e suas normas estão voltadas ao fim da 
homofobia:
La aplicación de las normas internacionales de derechos humanos se rige por los principios de universalidad y no discriminación consagrados en el artículo 1 de la Declaración Universal de Derechos Humanos, que dice que "todos los seres humanos nacen libres e iguales en dignidad y derechos". Todas las personas, incluidas las personas lesbianas, gays, bisexuales y trans, tienen derecho a gozar de la protección de las normas internacionales de derechos humanos, en particular con respecto a los derechos a la vida, la seguridad de la persona y la intimidad, el derecho a no ser sometido a torturas ni detenciones arbitrarias, el derecho a no ser sometido a discriminación y el derecho a la libertad de expresión, asociación y reunión pacífica.El Estado tiene la obligación de ejercer la diligencia debida para prevenir y sancionar la privación de la vida, ofrecer reparación al respecto e investigar y enjuiciar todos los actos de violencia selectiva.
 A respeito da violência homofóbica e
 transfóbica: “En todas las regiones se  han registrado episodios de 
violencia homofóbica y transfóbica. Esa violencia  puede ser física (a 
saber, asesinatos, palizas, secuestros, violaciones y  agresiones 
sexuales) o psicológica (a saber, amenazas, coacciones y privaciones  
arbitrarias de la libertad)”. A violência contra LGBT pode ser 
especialmente  implacável em comparação com outros delitos motivados por
 preconceitos. Segundo  a Organização para a Segurança e a Cooperação na
 Europa, os incidentes  homofóbicos se caracterizam por um alto grau de 
crueldade e brutalidade (ex. “violações corretivas”, mutilações, etc.).
CONCLUSÃO: CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO FRENTE OS COMPROMISSOS INTERNACIONAIS
 Todos esses vários Documentos 
Internacionais citados mostram que a aprovação  do PLC122/06 nada mais é
 do que resultado do Brasil estar inserido nos sistemas  internacional e
 interamericano de direitos humanos, de forma que a mora em sua  
aprovação coloca o País em uma situação de para-legalidade (em razão do 
que  dispõem o inciso II do art. 4º e o §2º do art. 5º da Constituição) 
Aliás,  qualquer cidadão poderia, atualmente, denunciar o Brasil junto 
ao Conselho de  direitos Humanos da ONU ou à Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos pelo  fato de não possuirmos mecanismos que garantam a 
integridade física e moral dos  LGBT, bem como punam de forma eficaz 
aqueles que atentam contra aqueles, o que  contraria os incisos I e IV 
do art. 3º (CR/88).
 Atentemos para isso. A Constituição
 de 1988 é o principal marco para a  defesa dos direitos da minoria LGBT
 no Brasil – inclusive porque a maior parte  daqueles Documentos 
Internacionais citados foram propostos pelo Brasil ou  ratificados 
apenas durante o atual regime.
 O §2º do art. 5º da Constituição 
mostra que o extenso elenco de direitos  fundamentais previsto não é 
taxativo, podendo (devendo) o regime ser ampliado  pela incorporação de 
novos decorrentes do sistema ou de compromissos  internacionais de que o
 Brasil seja parte; ao se somar a isso o que dispõe o  art. 3º da 
Constituição, isto é, se o Brasil adota como objetivos fundamentais  da 
República “construir uma sociedade livre, justa e solidária” (art. 3º, 
I) e,  principalmente, “promover o bem de todos, sem preconceitos de 
origem, raça,  sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de 
discriminação” (art. 3º, IV)[13], aqueles documentos internacionais já estão  vinculando as ações dos Poderes no país – ou, se não estão, sujeitam o  Brasil à possibilidade de sofrer sanções internacionais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 BAHIA, Alexandre. A Interpretação 
Jurídica no Estado Democrático de Direito:  contribuição a partir da 
Teoria do Discurso de J. Habermas. In: CATTONI DE  OLIVEIRA, Marcelo A. 
(coord.). Jurisdição e Hermenêutica Constitucional. Belo  Horizonte: 
Mandamentos, 2004, p. 301-357.
 BAHIA, Alexandre. Anti-Semitismo, 
Tolerância e Valores: anotações sobre o  papel do Judiciário e a questão
 da intolerância a partir do voto do Ministro  Celso de Mello no HC 
82.424. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 847, p.  443-470, maio 
2006.
 BAHIA, Alexandre. A 
não-discriminação como Direito Fundamental e as redes  municipais de 
proteção a minorias sexuais - LGBT. Revista de Informação  Legislativa, 
n. 186, p. 89-106, abr./jun. 2010.
 BORTOLINI, Alexandre. (coord.). Diversidade Sexual na Escola. Rio de  Janeiro: Pró-Reitoria de Extensão/UFRJ, 2008.
 CARVALHO NETTO, Menelick de. A 
Constituição da Europa. In: SAMPAIO, José A.  Leite (coord.). Crise e 
Desafios da Constituição. Belo Horizonte: Del Rey, 2004,  p. 281-289.
 RIOS, Roger Raupp. A 
homossexualidade e a discriminação por orientação  sexual no direito 
brasileiro. Revista de Informação Legislativa, a. 38 n. 149,  p. 
279-295, jan./mar. 2001.
 SANTOS, Boaventura de Sousa. Por 
uma concepção multicultural de direitos  humanos. In: SANTOS, Boaventura
 de Sousa (Org). Reconhecer para libertar: os  caminhos do 
cosmopolitismo cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,  2003.
 SÉGUIN, Élida. Minorias e grupos vulneráveis: uma abordagem jurídica. Rio de  Janeiro: Forense, 2002.
Notas
[1] LGBT: 
lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros  (travestis e transexuais). 
Aqui não é considerada a diferença que é feita por  alguns entre 
“minorias” e “grupos vulneráveis” (isto é, grupos que podem até ser  
compostos por número grande de pessoas, mas que sofrem discriminação, 
como  mulheres, idosos e crianças), haja vista que, como mostra Élida 
Séguin, não se  pode hoje mais falar em minorias tendo em vista apenas 
critérios étnicos,  religiosos, linguísticos ou culturais. Dessa forma, 
conclui: “[n]a prática tanto  os grupos vulneráveis quanto as minorias 
sofrem discriminação e são vítimas da  intolerância, motivo que nos 
levou (...) a não nos atermos a diferença  existente” (SÉGUIN, Élida. 
Minorias e grupos vulneráveis: uma abordagem  jurídica. Rio de Janeiro: 
Forense, 2002, p. 13).
[2] Podemos 
citar, e.g., textos disponíveis em sites “religiosos” nos quais, para 
além de questões “teológicas” propriamente ditas,  onde são citados 
textos bíblicos e doutrinários, pode-se apreender outra ordem  de 
“argumentos pseudocientíficos”, como se pode ver em: “(...) o famigerado
  projeto de lei 122/2006, que cria o crime de delito de opinião no país
 - uma  espécie de ditadura gay no Brasil, pois tal comportamento se 
tornará  incriticável, algo só visto em ditaduras totalitárias” (In: 
< www.conscienciacrista.org.br>, “Nota da Vinacc em resposta à 
ABGLT”); “O  Brasil não é o Irã: o projeto anti-homofobia”, In: < 
www.conscienciacrista.org.br>; e “O 'discreto' apoio da Rede Globo 
aos  projetos anti-homofobia”, In: .
 Ver também “explicações” comportamentais dos pais determinando a 
orientação sexual dos  filhos em: “Homossexualismo e homossexualidade”, 
In: < http://www.ultimato.com.br> ou ainda um outro texto de 
religiosos  mostrando com orgulho serem “homofóbicos”, uma vez que a 
culpa pela epidemia do  vírus HIV seria dos homossexuais: “Em Defesa da 
Homofobia”, In: < www.juliosevero.com.br>.
[3] É 
pacífico no STF o entendimento de que não  existem direitos absolutos 
(só para citar um caso, veja-se decisão dada na  Cautelar no Mandado de Segurança n. 25.617, Rel. Min. Celso de Mello,  DJ. 03/11/2005).
[4] Direito 
de igualdade que não se limita a  tratamento isonômico em todos os 
casos, mas implica também tratamento  diferenciado. Ou como diz 
Boaventura de Sousa Santos: “Temos o direito de ser  iguais quando a 
diferença nos inferioriza e o direito de sermos diferentes  quando a 
igualdade nos descaracteriza” (SANTOS, Boaventura de Sousa. Por uma  
concepção multicultural de direitos humanos. In: SANTOS, Boaventura de 
Sousa  (Org). Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitismo 
cultural. Rio de  Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 458).
[5] Sobre 
isso ver: BAHIA, Alexandre. A Interpretação  Jurídica no Estado 
Democrático de Direito: contribuição a partir da Teoria do  Discurso de 
J. Habermas. In: CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo A. (coord.).  Jurisdição e
 Hermenêutica Constitucional. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004, p.  
301-357.
[6] Aliás, o
 debate no STF por ocasião do HC. 82424  foi justamente sobre o 
“conflito” entre “liberdade de expressão” e “racismo”: um  livro que 
prega que os judeus querem “dominar o mundo” (qq. semelhança...) – que  
se consideram superiores, que atuam no oculto para obter ganhos e que, 
pois,  devemos “tomar cuidado com eles” – um livro assim não é exercício
 regular da “liberdade de expressão” e sim racismo. Cf. BAHIA, 
Alexandre. Anti-Semitismo,  Tolerância e Valores: anotações sobre o 
papel do Judiciário e a questão da  intolerância a partir do voto do 
Ministro Celso de Mello no HC 82.424. Revista  dos Tribunais, São Paulo,
 v. 847, p. 443-470, maio 2006.
[7] Conforme
 noticiado pelo jornal El País, em  21/02/12: “La homofobia no está 
protegida por la libertad de expresión”. Disponível em: <http://sociedad.elpais.com/sociedad/2012/02/09/actualidad/1328801278_987970.html>.
[8] As 
expressões “orientação sexual” e “identidade  de gênero” podem ser 
definidas de várias formas e é importante a lembrança de  Alexandre 
Bortolini no sentido de que qualquer tentativa de conceituação e de  
classificação é sempre redutora de complexidade, já que a sexualidade 
humana é  plural. De toda sorte, apenas para dar os contornos sobre o 
que se pretende com  as expressões acima, pode-se definir orientação 
sexual diz respeito à “atração,  o desejo sexual e afetivo que uma 
pessoa sente por outras”. Assim, de forma  simplificada podem ser 
enumeradas as orientações homossexual, heterossexual e  bissexual. Já a 
“identidade de gênero” (ou identidade sexual) “tem a ver com  como eu me
 coloco diante da sociedade, com quais grupos, representações e  imagens
 eu me identifico e me reconheço” (BORTOLINI, Alexandre. (coord.).  
Diversidade Sexual na Escola. Rio de Janeiro: Pró-Reitoria de 
Extensão/UFRJ,  2008, p. 8-9). Classificados os seres humanos sob este 
aspecto se pode falar em:  gênero masculino, gênero feminino e 
transgêneros (travestis e transexuais).
[9] Vale a 
pena observar ainda que é previsto que o  Governo dos EUA destinará US$ 5
 milhões por ano em financiamento para os anos  fiscais de 2010 até 2012
 para ajudar as agências estaduais e locais pagam para  investigar e 
julgar os crimes de ódio; e também que se exige que o FBI acompanhe  as 
estatísticas sobre crimes de ódio com base no sexo e identidade de 
gênero (as  estatísticas dos outros grupos já foram rastreados).
[10] Cf. 
CARVALHO NETTO, Menelick de. A Constituição  da Europa. In: SAMPAIO, 
José A. Leite (coord.). Crise e Desafios da  Constituição. Belo 
Horizonte: Del Rey, 2004, p. 282.
[11] RIOS, 
Roger Raupp. A homossexualidade e a  discriminação por orientação sexual
 no direito brasileiro. Revista de Informação  Legislativa, a. 38 n. 149
 jan./mar. 2001, p. 287. Segundo Relatório da ILGA,  nessa decisão os 
membros do Comitê confirmaram que “as legislações que  criminalizam 
relações sexuais consensuais do mesmo sexo estão violando não  apenas o 
direito à privacidade mas também o direito à igualdade face à lei sem  
qualquer discriminação, contrária aos artigos 17(1) e 26 do Pacto 
Internacional  de Direitos Civis e Políticos”.
[12] Disponível em: < http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_239_esp.pdf>.  Acesso em 24/04/2012.
[13] E nem 
se venha falar que “orientação sexual” e “identidade de gênero” não 
estão expressamente previstas, uma vez que, como já  mostramos noutro 
lugar (BAHIA, Alexandre. A não-discriminação como Direito  Fundamental e
 as redes municipais de proteção a minorias sexuais - LGBT. Revista  de 
Informação Legislativa, n. 186, p. 89-106, abr./jun. 2010), eles podem 
ser ou  incluídos na expressão “sexo” lá constante ou no genérico “e 
outras formas de  discriminação” – meio, aliás, usado pela ONU e OEA 
para incluir os LGBT nas  minorias protegidas pelos respectivos sistemas
 como mostramos acima. 
  

Nenhum comentário:
Postar um comentário