Publicado no G1
Desde que começou a trabalhar como estagiária em uma agência da Caixa
Econômica Federal em Porto Alegre, em 2010, a gaúcha Fernanda Lentz
Rosenbaun, de 22 anos, relata que sofreu preconceitos por ser
transgênero (identidade de gênero diferente do gênero do nascimento).
Incomodada com a forma como era tratada por alguns colegas, ela resolveu
entrar na Justiça para pedir indenização. Enquanto aguarda o andamento
do processo, Fernanda e integrantes de grupos que lutam contra a
homofobia fizeram um ato em frente ao banco, com a entrega de uma carta
aos gerentes. Por meio de sua assessoria, a Caixa disse em nota que "tem
como valores corporativos o respeito à diversidade e valorização do ser
humano".
O ato reuniu cerca de 30 a 40 pessoas na manhã desta quarta-feira (29),
na Avenida João Pessoa. Em contato com a agência, o G1 conseguiu
confirmar com um dos gerentes o recebimento da carta. "Fala sobre a
homofobia, é um pedido de 'basta de homofobia na Caixa'. Tem um relato
meu em poucas linhas sobre o que passei lá. Não quero que isso aconteça
com outras pessoas", disse Fernanda após a entrega da carta.
Fernanda Rosenbaun é o nome social de Feliciano Machado Siqueira.
Recentemente, ela providenciou a carteira de identidade social, que o
governo do Rio Grande do Sul passou a emitir, permitindo que travestis e
transexuais sejam identificadas por nomes femininos.
Um gerente que já deixou a agência em que Fernanda trabalhava é o
principal alvo das reclamações. "Ele gritava comigo na frente dos
clientes, pediu que cortasse o cabelo mais de uma vez, na primeira delas
eu cortei. No primeiro ano ele incomodava com as roupas, com a
maquiagem, com o cabelo", lembrou.
Entre as dificuldades enfrentadas durante o trabalho estava a ida ao
banheiro. De acordo com Fernanda, tanto no feminino como no masculino a
situação era desconfortável. "Eu entrava no masculino e os homens não
gostavam, entrava no feminino e as mulheres não gostavam", contou.
A partir da chegada de um novo gerente, que segue na agência, Fernanda
diz que passou a ter dias mais tranquilos. Segundo ela, reuniões foram
feitas para falar sobre o assunto.
Fernanda também se reuniu com a Superintendência Regional da Caixa, foi
até a ouvidoria do Ministério Público e da própria Caixa. O contrato de
estágio iria até o dia 15 de setembro, mas ela decidiu sair no dia 14 de
agosto devido aos problemas.
"Eu gostaria de continuar ali atendendo os clientes, mas pela denúncia, não sei se me aceitariam de novo", comentou.
Engajada nos movimentos que lutam contra a homofobia, Fernanda se
juntará a representantes de grupos que irão a uma audiência marcada para
o dia 5 de setembro na Assembleia Legislativa, em Porto Alegre, sobre a
criminalização da homofobia no estado. Nos próximos dias, ela também
deverá conversar com a delegada Nadine Anflor, da Delegacia da Mulher,
acompanhada de seu advogado.
Em nota, a Caixa Econômica Federal disse que tem como valores
corporativos o respeito à diversidade e salientou o programa de
diversidade, que tem como objetivo desenvolver políticas relacionadas à
valorização da diversidade no ambiente corporativo. "A Caixa possui
diversas ações com o intuito de garantir os direitos trabalhistas aos
homossexuais empregados(as) Caixa", diz o comunicado.
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