segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Companheiros sonham em protagonizar o primeiro casamento gay da França


 
 
Publicado pelo DN de Portugal
 
Tito Lívio Mota, de 53 anos, e Florent Robin, de 51, estão juntos há quase três décadas. Não são "militantes pelo casamento", nem apenas defensores dos direitos dos homossexuais: lutam pelos "direitos de todas as pessoas" em geral, e, em particular, pelo seu "direito à indiferença".
 
Foi por isso -- e por amor -- que, no ano passado, tentaram casar-se no consulado-geral de Portugal em Marselha. Portugal permitia o casamento entre pessoas do mesmo sexo, França não.
 
"Estávamos muito orgulhosos por [o casamento homossexual] ter sido aprovado em Portugal", conta Tito. A ideia era também, acrescenta Florent, "explicar aos franceses, e mostrar ao Governo francês, que, mais uma vez, Portugal estava à frente da França, o país das Luzes e dos Direitos do Homem, e a propósito de uma questão tão importante como a do casamento homossexual".
 
A data estava marcada, mas, dias antes, o consulado fez saber que o casamento estava adiado "sine die". O gabinete do então secretário de Estado das Comunidades, António Braga (PS), esclareceria depois que a celebração de casamentos entre pessoas do mesmo sexo em países onde a modalidade não era legalmente admitida se encontrava "suspensa até se esclarecer a questão no plano do direito internacional".
 
"Isso enervou-nos bastante", conta Tito. Uma semana depois deste episódio, e já de fato e gravata, os dois homens trocavam alianças, num casamento simbólico, envolto em poesia e debaixo da atenção dos media franceses.
 
A socialista Hélène Mandroux, presidente da câmara de Montpellier, rosto conhecido da luta pela legalização do casamento homossexual no país, conduziu a cerimónia, que não ficou, claro, inscrita no registo civil.
 
Agora, em vésperas da aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo em França, estes dois homens querem ser o primeiro casal gay a casar no país: "Vamos casar", diz Tito. "Recasar, mas desta vez ficará no registo", corrige Florent.
 
Para Tito Lívio, "esta é a última barreira que há entre as pessoas de sexualidade diferente". Estando ultrapassada, "já não há mais nenhuma diferença legal entre as pessoas, e vai poder começar a fazer-se o trabalho, que já devia ter-se feito há muito tempo, de explicar às pessoas que não há nada de anormal em ser assim".
 
No início de setembro, a ministra da Justiça francesa, Christiane Taubira, anunciou, em entrevista ao diário cristão La Croix, que o Governo pretende permitir aos casais homossexuais a adoção de crianças "num quadro idêntico ao atualmente em vigor" para os casais heterossexuais.
 
A governante esclareceu, contudo, que o executivo não prevê alargar aos homossexuais o acesso à procriação medicamente assistida, como era reivindicado pelas associações. Embora não pretenda ter filhos, o casal considera que estas duas questões devem ser analisadas sob a mesma perspetiva: "A coisa é boa ou má em si. Não é -- não pode ser -- boa para uns e má para os outros", consideram.
 
Tito Lívio Mota e Florent Robin estão felizes com esta alteração da lei, mas conscientes do caminho, "que será já de outras gerações", que ainda é preciso percorrer "para eliminar todos os preconceitos".
 
Ainda assim, concordam, as conquistas são já amplas: "Para termos uma ideia do caminho que foi percorrido, eu nasci em 1961, e, nesse ano, o parlamento francês aprovou um decreto que considerava a homossexualidade um flagelo nacional", conclui Florent.

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