Publicado pelo DN de Portugal
Tito Lívio Mota, de 53 anos, e Florent Robin, de 51, estão juntos há
quase três décadas. Não são "militantes pelo casamento", nem apenas
defensores dos direitos dos homossexuais: lutam pelos "direitos de todas
as pessoas" em geral, e, em particular, pelo seu "direito à
indiferença".
Foi por isso -- e por amor -- que, no ano passado, tentaram casar-se no
consulado-geral de Portugal em Marselha. Portugal permitia o casamento
entre pessoas do mesmo sexo, França não.
"Estávamos muito orgulhosos por [o casamento homossexual] ter sido
aprovado em Portugal", conta Tito. A ideia era também, acrescenta
Florent, "explicar aos franceses, e mostrar ao Governo francês, que,
mais uma vez, Portugal estava à frente da França, o país das Luzes e dos
Direitos do Homem, e a propósito de uma questão tão importante como a
do casamento homossexual".
A data estava marcada, mas, dias antes, o consulado fez saber que o
casamento estava adiado "sine die". O gabinete do então secretário de
Estado das Comunidades, António Braga (PS), esclareceria depois que a
celebração de casamentos entre pessoas do mesmo sexo em países onde a
modalidade não era legalmente admitida se encontrava "suspensa até se
esclarecer a questão no plano do direito internacional".
"Isso enervou-nos bastante", conta Tito. Uma semana depois deste
episódio, e já de fato e gravata, os dois homens trocavam alianças, num
casamento simbólico, envolto em poesia e debaixo da atenção dos media
franceses.
A socialista Hélène Mandroux, presidente da câmara de Montpellier, rosto
conhecido da luta pela legalização do casamento homossexual no país,
conduziu a cerimónia, que não ficou, claro, inscrita no registo civil.
Agora, em vésperas da aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo
em França, estes dois homens querem ser o primeiro casal gay a casar no
país: "Vamos casar", diz Tito. "Recasar, mas desta vez ficará no
registo", corrige Florent.
Para Tito Lívio, "esta é a última barreira que há entre as pessoas de
sexualidade diferente". Estando ultrapassada, "já não há mais nenhuma
diferença legal entre as pessoas, e vai poder começar a fazer-se o
trabalho, que já devia ter-se feito há muito tempo, de explicar às
pessoas que não há nada de anormal em ser assim".
No início de setembro, a ministra da Justiça francesa, Christiane
Taubira, anunciou, em entrevista ao diário cristão La Croix, que o
Governo pretende permitir aos casais homossexuais a adoção de crianças
"num quadro idêntico ao atualmente em vigor" para os casais
heterossexuais.
A governante esclareceu, contudo, que o executivo não prevê alargar aos
homossexuais o acesso à procriação medicamente assistida, como era
reivindicado pelas associações.
Embora não pretenda ter filhos, o casal considera que estas duas
questões devem ser analisadas sob a mesma perspetiva: "A coisa é boa ou
má em si. Não é -- não pode ser -- boa para uns e má para os outros",
consideram.
Tito Lívio Mota e Florent Robin estão felizes com esta alteração da lei,
mas conscientes do caminho, "que será já de outras gerações", que ainda
é preciso percorrer "para eliminar todos os preconceitos".
Ainda assim, concordam, as conquistas são já amplas: "Para termos uma
ideia do caminho que foi percorrido, eu nasci em 1961, e, nesse ano, o
parlamento francês aprovou um decreto que considerava a homossexualidade
um flagelo nacional", conclui Florent.
Nenhum comentário:
Postar um comentário