Publicado no Globo
Depois que o Tribunal de Justiça do Rio declarar inconstitucional a lei
que pune os estabelecimentos que discriminarem pessoas por causa de sua
orientação sexual, o governador Sérgio Cabral decidiu na terça-feira que
enviará à Alerj um novo projeto com o mesmo objetivo. A ação foi
apresentada ao TJ pela Procuradoria Geral de Justiça do Estado, alegando
vício de inconstitucionalidade, ou seja, que a lei fere a Constituição,
por ter sido uma iniciativa do Legislativo, quando é competência do
Executivo. O Ministério Público estadual informou, no entanto, que ainda
cabe recurso.
Na época, em 2000, a proposta foi apresentada pelo então deputado Carlos
Minc, hoje secretário estadual do Ambiente. Ao ser informado da decisão
do TJ de declarar inconstitucional a lei 3.406/2000, ele pediu a Cabral
que encaminhasse um projeto com o mesmo teor à Alerj.
O texto da lei diz que o Poder Executivo punirá “todo estabelecimento
comercial, industrial, entidades, representações, associações,
sociedades civis ou de prestações de serviços que, por atos de seus
proprietários ou prepostos, discriminem pessoas em função de sua
orientação sexual, ou contra elas adotem atos de coação ou violência”.
Entre as medidas entendidas como discriminação, estão o constrangimento,
a proibição de ingresso ou permanência, a cobrança extra para ingresso e
ainda o atendimento diferenciado. A multa prevista é de cinco mil (R$
11.376) a dez mil Ufirs (R$ 22.752), duplicada em caso de reincidência.
— Essa lei vigorou 12 anos. Algumas vezes, fizemos o “cumpra-se” dela,
como ocorreu num hotel de Niterói e numa pizzaria no Largo do Machado. A
lei não acaba com a homofobia ou o preconceito, mas é um instrumento de
mudança de cultura e comportamento. Essa lei é pioneira no Brasil e
sempre foi saudada nos atos de orgulho GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e
transexuais) — lamentou Minc.
Outra lei foi reapresentada
O secretário lembrou ainda que o TJ tomou decisão semelhante quando ele
propôs a lei 3786/2002, que garante aos servidores públicos homossexuais
os mesmos direitos dos heterossexuais. Na época, de acordo com Minc, o
projeto tinha a coautoria de Sérgio Cabral, que reencaminhou a proposta
para votação na Alerj. Com isso, a lei voltou a entrar em vigor.
Julio Moreira, presidente do Grupo Arco-Íris de Cidadania GLBT, elogiou a lei 3.406/2000:
— Ainda existe uma reação muito preconceituosa, mas a lei é um processo educativo que todos podem usar.
Por meio de nota, o Ministério Público estadual informou que a lei foi
impugnada porque tem um vício formal. “O Ministério Público é o fiscal
da legalidade e observância da Constituição e, neste caso, o deputado
estadual Carlos Minc não tinha possibilidade constitucional, atribuição,
de iniciar processo Legislativo sobre matéria que envolve (...) serviço
público. Caberia ao governador propor esse tipo de lei e não ao
deputado estadual. Portanto, não é que o MP seja contra a lei. Mas, como
ela tem esse vício de forma, o MP não poderia se omitir”, diz a nota.
Nenhum comentário:
Postar um comentário