Publicado no Gazeta Online
Por Frederico Goulart 
É cada vez mais comum que pais busquem o apoio da polícia para tentar 
uma forma de por fim ao relacionamento homossexual de seus filhos. O 
exemplo das duas jovens moradoras da Serra - que foram retiradas por 
policiais da Delegacia Antissequestro (DAS) de um ônibus que seguiria 
para São Paulo, na tarde de domingo - é apenas um entre os vários casos 
registrados neste ano. 
O delegado Marcelo Nolasco, titular da Delegacia de Proteção à Criança e
 ao Adolescente (DPCA), aponta, no entanto, que a maior parte dessa 
procura está fundamentada, apenas, no preconceito das famílias. "A 
maioria não resulta nem em boletim de ocorrências, pois não há crime 
algum. Isso só acontece quando há prostituição ou exploração". 
Segundo Nolasco, os casos são crescentes pois a sociedade está, aos 
poucos, se tornando mais aberta aos relacionamentos homossexuais. 
"Assim, as pessoas estão se assumindo mais. Só que, dentro de casa, 
muitas vezes, a aceitação não é a mesma. É grande o grau de 
intolerância", observa. 
Nesse tipo de situação, pais e jovens são encaminhados a programas 
sociais. A Prefeitura de Vitória, por exemplo, oferece, na Casa do 
Cidadão, em Maruípe, atendimento psicossocial com o objetivo de diminuir
 a discriminação, preparar as famílias para enfrentar a homofobia nas 
relações sociais e esclarecer sobre a diversidade sexual. 
Tabu 
Na opinião da psicóloga Lourdes Landeiro, a postura de condenação dentro
 de casa pode estimular um comportamento depressivo e desregrado dos 
jovens. Já para a também psicóloga Zenaide Monteiro, a sociedade ainda 
não está preparada para debater o assunto. "Os pais têm que alertar os 
filhos sobre a discriminação que eles irão sofrer", destaca. 
No caso das jovens que tentaram fugir, Stéphanie Correia, 20, responderá
 criminalmente por ter induzido a estudante Gabriely Rangel Nascimento, 
17, à fuga. A pena varia de um mês a um ano de prisão. 
De famílias religiosas, jovens ficam sem apoio 
A posição contrária à união homoafetiva, defendida por líderes 
evangélicos e católicos, pode explicar o posicionamento das famílias de 
Gabriely e Stéphanie diante do relacionamento das garotas. As duas são 
de famílias evangélicas. 
Segundo o presidente em exercício da Associação de Pastores Evangélicos 
de Vitória, Abílio Rodrigues, a orientação sexual das pessoas precisa 
seguir o parecer bíblico – que prega a união apenas entre homens e 
mulheres. 
Quando isso não acontece, prossegue o pastor, a igreja pede que haja um 
diálogo entre as famílias em busca de um entendimento. "Se a posição 
permanece, encaramos como sendo um pecado", observa. Abílio alega, 
porém, que a repressão não é o caminho certo a ser seguido. 
Embora relate não ser comum que jovens assumam união homoafetiva dentro 
da igreja, o pastor acredita que isso acontece pois a situação ainda é 
tratada de forma muito discreta nas famílias. "O constrangimento ainda é
 grande". 
Repressão traz problema psicológico 
A repressão familiar é um mal que ajuda a estimular o surgimento de 
graves problemas psicológicos. É o que aponta Déborah Sabará, 
coordenadora do Fórum Estadual LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e 
Transgêneros). "Ao preferirem não se assumir, os jovens abrem caminho 
para o alcoolismo, o uso de drogas e, até mesmo o suicídio". A militante
 defende o diálogo e a implementação de políticas públicas que orientem 
sobre a diversidade sexual. 
Outros casos 
Jovem leva surra 
Uma copeira de 44 anos agrediu com pauladas, socos e tapas a própria 
filha , uma técnica em segurança do trabalho, de 22 anos, por não 
aceitar a orientação sexual da jovem. A garota também foi ameaçada de 
morte pela mãe. Ela contou à polícia que sua mãe dizia que desejava sua 
morte 
Fuga após ameaça 
Uma estudante de 16 anos passou a ser vigiada e ameaçada pela família, 
após seus pais descobrirem seu primeiro namoro homoafetivo, quando ela 
tinha 14 anos. Os pais passaram a dizer que iriam chamar a polícia caso a
 filha insistisse em manter contato com a garota 

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