Publicado no G1
A Polícia Civil de Piracicaba, no interior de São Paulo, investiga
denúncia de discriminação e homofobia contra o único shopping center da
cidade. Um grupo de gays registrou boletim de ocorrência porque, segundo
eles, foram barrados na entrada do local e receberem de um funcionário a
alegação de que o centro de compras faz uma “triagem” para selecionar o
público.
O autônomo Felipe Junior Bicudo da Costa, de 23 anos, e o estudante
Bruno José Campos, de 22, procuraram a polícia na sexta-feira (2) para
relatar o ocorrido no dia 24 de fevereiro. “Nós fomos barrados ainda no
estacionamento. O segurança disse que cumpria ordens e então procuramos a
administração”, relata Costa.
E este não é o único relato. O professor universitário Rodrigo Moda
conta que na última semana tentou entrar no shopping com o namorado, mas
também foi barrado na entrada. “Quando eu cheguei já havia um tumulto
porque eles estavam barrando outras pessoas. Então, eu disse que queria
entrar para jantar com meu namorado e ele disse que eu não podia”,
conta.
'Turma do rolê'
Segundo Campos, que pertence a uma organização não governamental (ONG)
dos direitos dos gays, lésbicas e simpatizantes, a “triagem” vem
ocorrendo há pelo menos um ano e os principais alvos são os jovens que
se reúnem todas as sextas em frente ao shopping e se autodenominam
“turma do rolê”.
Campos afirma ter uma gravação na qual um funcionário da administração
do shopping diz que não pode liberar a entrada de todos aqueles jovens
porque muitos deles estariam, para o funcionário, envolvidos na venda de
drogas e atos de vandalismo.
Teoria derrubada pela major da Polícia Militar, Adriana Sgrigneiro, que
garante que não há registros de ocorrências de caráter criminoso com o
grupo que se reúne ali.
“É uma criançada, molecada só. Pela falta de opções culturais da cidade,
eles se reúnem ali. Mas a maioria é de bairros periféricos e depende de
ônibus, então, não fica até muito tarde”, disse.
Caso de Polícia
O professor doutor da Faculdade de Direito da Universidade Metodista de
Piracicaba (Unimep), Everaldo Tadeu Gonzales, explica que, se
confirmada, a atitude fere a constituição, caracteriza crime de racismo e
é passível de multa para o estabelecimento.
“Pelo artigo quinto da Constituição federal, todos são iguais perante a
lei. Não podemos discriminar ninguém. E um estabelecimento que proíbe a
entrada de qualquer tipo de pessoa, inclusive homossexuais, está
cometendo crime e poderá responder perante a polícia”, explica.
A delegada do caso, Eliana Rodrigues Carmona, do 4º Distrito Policial de
Piracicaba, registrou o caso como injúria e informou que fará uma
investigação para identificar o autor, ou seja, quem é o funcionário que
barrou o grupo na entrada do shopping.
“O crime de injúria depende da intenção das vítimas em representarem
criminalmente. Identificado o autor, se for interesse deles, será feito
um termo circunstanciado e o caso será enviado para o tribunal de
pequenas causas”, informou.
Gonzales explica, entretanto, que além do funcionário, o shopping também
pode ser responsabilizado caso fique constatada a prática. “Ele pode
ser condenado a pagar indenização por danos morais”, explica.
Outro lado
Nenhum diretor do Shopping Piracicaba quis dar entrevista, mas a
assessoria de imprensa do centro divulgou nota na qual nega que haja a
citada “triagem” e garante que não há restrição de acesso em nenhuma das
entradas, em nenhum dia da semana. A administração informa, ainda, que
vai “averiguar com rigor os procedimentos e seguranças envolvidos” e que
o shopping “repudia toda e qualquer ação preconceituosa, seja de raça,
credo, opção sexual ou classe social”.
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