Publicado no Estadão
Ele já vendeu mais de 250 milhões de discos no mundo todo e detém, até 
hoje, a marca do single mais vendido da história da música. Também já 
ganhou seis Grammys, quatro Brits e um Oscar. 
Sentando na biblioteca de sua suntuosa casa em Windsor, no sudoeste de 
Londres, "sir" Elton John está cercado de prêmios que marcaram uma 
carreira brilhante - de apenas um lado da mesa, há nada mais, nada menos
 do que 16 estatuetas Ivor Novello, a premiação de maior prestígio 
concedida anualmente a compositores e letristas britânicos. 
Elton John também é um dos poucos cantores a fazer parte da realeza da 
música, um pequeno e seleto grupo formado por músicos britânicos como 
Paul McCartney e os Rollings Stones e que conseguem até hoje lotar um 
estádio inteiro. 
O cantor diz estar surpreso com a longevidade de sua carreira. "Se você 
olhar para qualquer um cuja carreira durou 40 anos, trata-se de uma 
proeza", afirma o astro, em entrevista à BBC. 
"As vendas de discos podem aumentar, diminuir, diminuir, aumentar... mas
 o que mantém qualquer astro da música por cima é a sua habilidade de 
entreter e de se comunicar com a plateia", acrescenta. 
Mas, aos 66 anos, Elton John está começando a sentir o peso da paternidade. 
"Enquanto eu estiver me sentindo bem, continuarei a trabalhar", diz o 
cantor. "Quando Zachary (filho do artista) for para a escola, tudo será 
diferente. Quero levá-lo à escola e buscá-lo depois, como todo pai faz. 
Não quero perder essa parte importante da infância dele." 
Zachary nasceu de uma barriga de aluguel no Natal de 2010. A chegada do 
bebê foi um momento marcante na vida e na carreira turbulenta de um dos 
maiores astros da música. 
Felicidade 
O cantor conta que sempre achou que era muito velho, egoísta e "cheio de manias" para ter um filho. 
"Isso só prova que nem sempre estamos certos o tempo inteiro", diz Elton
 John. "Eu nunca havia amado um ser humano tanto quanto amo Zachary, 
nunca." 
O amor do astro da música pelo filho é tão grande que ele até pensa em 
ter uma segunda criança. "Quando chegar a hora, com certeza o farei. Mas
 hoje estou no nível máximo da minha felicidade." 
Trata-se de uma grande mudança para alguém que já chegou a armar uma 
confusão sem precedentes em um hotel por não gostar das cortinas dos 
quartos.
Mas a paternidade definitivamente fez com que o astro da música pop 
refletisse sobre sua vida e seus hábitos de uma maneira diferente. Em 
seu primeiro livro autobiográfico, Love is the Cure ("O Amor é a Cura", 
em tradução literal), a Aids e o vírus HIV são dois assuntos 
recorrentes. 
"As pessoas ainda se sentem envergonhadas e temerosas em admitir que são soropositivas", afirma. 
"É o estigma de ser gay, porque trata-se de uma doença sexualmente 
transmissível, na maioria dos casos, ou transmitida pelo uso de drogas 
intravenosas", acrescenta. "E estigmas não fáceis de ser combatidos. 
Acho que é tão difícil hoje quanto era há 30 anos." 
Como o título de seu livro sugere, Elton John diz acreditar que o amor é
 a cura. Ele reconhece, no entanto, que as pessoas podem considerá-lo 
ingênuo por isso - afinal, a Aids ainda é uma doença sem cura e não 
desaparece apenas com pensamentos positivos. 
Mas, no livro, o cantor diz que o objetivo é incentivar que as pessoas 
"demonstrem mais compaixão com o outro, tenham um pensamento mais 
cristão e não sejam tão rancorosas". 
E, na opinião dele, quanto mais compressão e menos medo sobre a doença 
as pessoas tiverem, o preconceito tende a diminuir e eventualmente 
desaparecer. 
Livre dos vícios 
Elton John também admite que a apatia é hoje um problema no combate à 
Aids. Durante a década de 80, quando o medo atingiu seu auge e toda uma 
geração de homossexuais morreu vítima da doença, a estrela da música pop
 permaneceu em silêncio, sem ação. 
"Eu era um drogado, um usuário pesado de cocaína, álcool e maconha. 
Sabia que as pessoas estavam morrendo de Aids porque muitas delas eram 
minhas amigas. E simplesmente não fiz nada. Ficava com medo de discutir o
 problema porque estava com muita droga na cabeça", justifica-se. 
Ele acrescenta que ainda se sente culpado pela inércia do passado. Mas 
afirma que, tão logo conseguiu se livrar dos vícios, disse a si mesmo 
que compensaria de alguma forma o tempo perdido. 
Uma de suas primeiras decisões foi abrir a Elton John Aids Foundation 
(EJAF) em 1992, uma fundação voltada para a pesquisa de novas drogas de 
combate à doença e assistência aos portadores do vírus HIV, atualmente 
com sede em Nova York, nos Estados Unidos. 
O cantor afirma que sua maior conquista foi ter ficado "limpo". Sem 
isso, ele avalia que não teria conseguido levantar mais de 175 milhões 
de libras (cerca de R$ 555 milhões) para a pesquisa sobre HIV/Aids - ou 
permanecer ao lado de seu atual marido, David Furnish. 
O casal formalizou sua relação em 2005, no primeiro dia em que a lei 
sobre a união homoafetiva foi aprovada na Grã-Bretanha, em 21 de 
dezembro daquele ano. 
Apesar de hoje estar "legalmente" ligado ao homem que diz amar, o cantor
 afirma que não vê a necessidade de se casar. "Não preciso que a Igreja 
ratifique o meu relacionamento. Estamos felizes desse jeito". 
"Se o casamento acontecer, então ótimo, não vou dizer não. É um passo 
para a igualdade, e há obviamente um debate entre os dois lados. Mas 
isso certamente não vai arruinar a civilização humana", acrescenta. 
E, com a franqueza de sempre, Elton John conclui: "O casamento 
heterossexual fez mais para arruinar a ideia do casamento do que 
qualquer outra coisa". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É 
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