Publicado no Terra
Por Mariana Bittencourt
Uma mulher de 50 anos pode se tornar a primeira pessoa abertamente gay a
se eleger para o Senado dos Estados Unidos. A democrata Tammy Baldwin
já faz parte da Câmara dos Representantes pelo Estado de Wisconsin desde
1999, mas quer a vaga que Herb Kohl, do mesmo partido, deixará ao se
aposentar. Baldwin é a única democrata concorrendo ao lugar de Kohl, que
ela disputará com o republicano vencedor das primárias de 14 de agosto.
A candidata, que é advogada de formação, geralmente fala pouco sobre
sua orientação sexual - ela prefere assuntos como a reforma de saúde nos
EUA, a utilização de fontes renováveis de energia e os direitos das
mulheres. Nos últimos meses, Baldwin tem enfrentado mais críticas
republicanas por suas propostas "liberais" de reformas do que por ser
homossexual.
Tammy Baldwin nasceu em Madison, capital do Estado de Wisconsin, e foi
criada pelos avós - a mãe dela, Pamela Baldwin, tinha 19 anos quando deu
à luz. Aos 9 anos, ela teve uma doença grave - "uma espécie de
meningite", disse ao The New York Times - que a fez ficar três meses
hospitalizada. Os avós não tinham plano de saúde para a neta e fizeram
grandes sacrifícios para pagar o tratamento médico, segundo Baldwin.
A história da infância se tornou o principal argumento da candidata a
favor da reforma do sistema de saúde proposta pelo presidente Barack
Obama, que obriga todos os americanos a obter um seguro médico até 2014,
sob pena de multa, com o objetivo de baixar os preços do atendimento de
saúde no país. Atualmente, os planos de saúde dos EUA, que são
privados, não aceitam novos associados que já tenham problemas de saúde -
o que impediu que os avós de Tammy Baldwin fizessem um seguro para a
neta logo que ela adoeceu. "Agora, nenhuma criança poderá ter o
atendimento médico negado por causa disso", disse a candidata.
Uma das bandeiras de campanha da democrata é o investimento em
tecnologias para a geração de energia não poluente em Wisconsin. Baldwin
também fala de uma campanha pelo desenvolvimento da indústria local e
criação de empregos chamada "Made in Wisconsin" ("Feito em Wisconsin").
"Para Estados como Wisconsin, que são altamente dependentes de energia
do carvão, nós devemos encontrar novas tecnologias para capturar e
armazenar carbono que pode prejudicar o meio ambiente e contribuir com o
aquecimento global", diz Tammy Baldwin em seu site oficial de deputada.
Apesar do discurso aparentemente ecológico, os fins da candidata são
principalmente focados no crescimento econômico. "A energia é o coração
da nossa economia. Eu apoio o desenvolvimento de uma estratégia
energética abrangente, que irá posicionar a nossa nação para um forte
crescimento econômico e de segurança para o século XXI", afirma ela no
site. O foco do governo dos EUA deveria ser a reconstrução da economia
para beneficiar a classe média, disse Baldwin ao Wisconsin Rapids Daily
Tribune.
Outro tema que Tammy Baldwin aborda bastante é a defesa de direitos
iguais para homens e mulheres. A candidata faz campanha para que o
acesso a métodos contraceptivos seja garantido a todas as mulheres e
defende o planejamento familiar "para reduzir a taxa de gravidezes não
desejadas e abortos, e para salvar vidas". Baldwin defende o direito da
mulher à escolha pelo aborto, afirmando que "os abortos protegidos por
decisões deveriam ser raros e seguros, mas essa decisão está entre uma
mulher, a família e o médico dela, baseada em sua própria saúde e
circunstâncias".
Gay e "comunista"
O republicano Eric Hovde, que concorre nas primárias do partido para se
candidatar a senador por Wisconsin, já chamou a rival de "comunista".
"Eu discordo fundamentalmente de Tammy em quase tudo. Ela tem um
histórico de votação mais liberal do que praticamente qualquer um no
Congresso", disse Hovde ao jornal The Hill no mês passado. "A filosofia
dela tem raízes no Marxismo, comunismo, socialismo, liberalismo extremo -
ela chama de progressismo -, contra a minha, que tem raízes em um
conservadorismo de livre mercado", afirmou o republicano.
Eric Hovde, um empresário, disputa com outros três republicanos a vaga
de candidato do partido ao Senado: Tommy Thompson, ex-governador de
Wisconsin, Mark Neumann, membro da Câmara dos Representantes, e Jeff
Fitzgerald, líder da Assembleia do Estado. A pesquisa mais recente sobre
as eleições em Wisconsin, feita pela Marquette University Law School,
aponta que Tammy Baldwin venceria três dos quatro republicanos - apenas
Tommy Thompson apareceu com mais intenções de votos, segundo a AP.
Grupos conservadores já lançam campanhas de ataque às políticas da
democrata, mas a homossexualidade de Baldwin não costuma chegar ao
discurso oficial dos rivais. Porém, dependendo do vencedor das primárias
republicanas, o assunto pode voltar ao debate. Em 1997, Mark Neumann
afirmou que "se alguém me diz 'eu sou gay, quero um emprego em seu
gabinete', eu diria que isso é inapropriado, e a pessoa não seria
contratada porque isso significaria que ela estaria promovendo sua
causa". "O estilo de vida gay e lésbico (é) inaceitável, para não
deixarmos dúvida sobre isso", disse Neumann há 15 anos. Atualmente, ele
evita falar sobre o assunto.
Estado decisivo nas eleições
Wisconsin é considerado um Estado decisivo nas eleições presidenciais
americanas por não ser homogêneo em relação aos eleitores - é difícil
prever se a maioria votará em democratas ou republicanos. Tammy Baldwin
tem grande apoio na região de Madison, mas faz campanha na região rural
para tentar os votos dos eleitores considerados "independentes" (que não
votam de acordo com o partido). A democrata busca principalmente se
apresentar e mostrar suas propostas de valorização da classe média, e
geralmente evita entrar em polêmicas sobre sua sexualidade.
Em entrevista ao The New York Times, Baldwin elogiou medidas do
presidente Barack Obama em favor dos homossexuais, como a lei que acaba
com a restrição a militares abertamente gays, chamada de "Don't Ask,
Don't Tell" ("Não pergunte, não diga"). Porém, ela reconheceu que o
papel dela é "persuadir pessoas". "Eu não faço ideia do que passa pela
cabeça de outra pessoa", disse a candidata.
Tammy Baldwin é a esperança do Partido Democrata de recuperar várias
perdas em Wisconsin que começaram em 2010, quando os republicanos
tomaram o controle das duas casas dos legisladores, o conservador Scott
Walker foi eleito governador do Estado e Ron Johnson, do movimento Tea
Party, derrotou Russ Feingold e se tornou senador. Estrategistas de
campanha democratas dizem que ela pode ganhar devido ao grande apoio na
região de Madison, e que a homossexualidade da candidata não deve
influenciar o resultado da eleição. "Qualquer pessoa que não vota nela
porque ela é gay não a apoiaria se ela fosse heterossexual", disse
Sachin Chheda, estrategista do Partido Democrata em Milwaukee, segundo a
AP.
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