Publicado no G1
“Criação não depende de um casal, um individuo pode criar outro baseado
na ética e no caráter.” É com esse pensamento que o empresário Nélio de
Figueiredo, de 51 anos, apadrinhou dois irmãos há mais de 15 anos e hoje
cria ambos como filhos. Ele é homossexual e vive atualmente com os dois
meninos, em Ribeirão Preto (SP).
“O que mais tenho é pai”, conta o caçula Igor Germano, de 15 anos. Ele e
o irmão Yuri Germano, de 16 anos, perderam o contato com o pai
biológico ainda pequenos, quando a mãe deles decidiu pela separação.
Figueiredo conta que o pai das crianças era usuário de drogas e se
afastou da família. A mãe trabalhava no salão de beleza do empresário e,
após a separação do companheiro, foi convidada a morar com Figueiredo
com os meninos. “A casa era grande e eu tinha condições de dar a eles o
que faltava”, recorda.
Atualmente, a mãe mora em outra casa com o novo marido. “Também ficamos
lá, gosto deles, mas gostamos mesmo é de ficar na casa do Nélio”, brinca
Yuri.
Respeito e preconceito
O pai adotivo garante que a criação dos garotos sempre foi com muito
amor e respeito. “Não deixo que eles tenham carência paternal.”
O objetivo dele é contribuir para que tenham sua identidade definida.
“Não existe isso de serem gays porque sou gay, eles devem ser eles
mesmos sempre”, afirma. Para ele, a principal diferença da criação feita
por um homossexual é o respeito que se aprende a ter pelos outros. “E o
respeito deles por mim não é diferente de nenhuma outra família”.
A família conta que o preconceito vem dos pais de alguns amigos de
escola. “Muitos não deixam os filhos virem a nossa casa e sabemos o
motivo, mas as crianças mesmo dificilmente agem assim”, diz Figueiredo,
que vê na mudança de gerações uma aceitação maior. "Com o tempo as
pessoas terão mais respeito pela pessoa como ser humano, independente da
orientação sexual, e vemos isso pelos jovens."
Vida em família
Os garotos garantem que Nélio é um exemplo de pai e de vida para eles e
não escondem o orgulho até na hora das broncas. Para Igor, o olhar diz
tudo enquanto Yuri tem mais medo das palavras. “Ele mata a gente com uma
palavra só.”
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