Publicado no site do Globo Esporte
Messi é um homem vaidoso e cheio de personalidade. Duas vezes por
semana, o goleiro do Currais Novos, finalista da Segunda Divisão do
Campeonato Potiguar, vai ao salão de beleza de um amigo para assegurar
um bom visual para entrar em campo. O corte em estilo moicano discreto e
o acerto na sobrancelha são os serviços mais comuns pedidos por um dos
poucos jogadores de futebol no mundo a assumir publicamente a
homossexualidade.
Desde que "saiu do armário", em 2010, às vésperas da decisão do
Campeonato Potiguar, quando com a defesa de um pênalti assegurou o
acesso à elite do futebol norte-riograndense, o jogador garante que sua
vida mudou. Hoje no Currais Novos-RN, novamente em vias de enfrentar uma
decisão de título, Jamerson, seu verdadeiro nome, conta que o
preconceito ficou em segundo plano na vida de boleiro e aconselha os
indecisos.
- Cada cabeça é um mundo, mas acho que assumir seria mais fácil para
eles. Sou feliz assim. Posso dizer que mudaram muitas coisas e as
pessoas me respeitam mais - assegura o goleiro que, em campo, sofreu
apenas um gol em seis jogos e promete fechar a meta para o confronto de
domingo, diante do arquirival Potyguar-RN, no jogo de ida da decisão da
vaga à Primeira Divisão do RN.
O goleiro conta nunca ter sido vítima de qualquer ofensa por
companheiros de clube ou dirigentes e que geralmente a torcida é quem
costuma "pegar no pé" em dias de jogos, fato que o profissional lida com
a habilidade de um camisa 10.
- Sempre que tem clássico, o preconceito por parte da torcida existe,
mas isso nunca me influenciou dentro de campo. Acho que tenho que fazer
minha parte, pode dizer o que for, o importante é que eu possa ajudar o
meu clube a conseguir alcançar os objetivos - afirma o arqueiro.
O gosto por roupas coladas e o desejo de ser dançarino de forró
reprimido pelo talento com as luvas, de longe, não é motivo para pensar
no jogador como um personagem pitoresco do futebol. A discrição sobre a
vida pessoal, inclusive, é uma das principais características do
goleiro-celebridade.
- Não falo sobre minha vida pessoal. Sou jogador de futebol e acho que
não tem por que falar nada sobre se estou ou não com alguém - reforça.
Messi de Passagem
Messi foi descoberto há pouco mais de três anos pelo ex-lateral direito
do ABC-RN, Teci, durante um jogo de futebol na várzea. No campinho de
terra na comunidade de Passagem, a 40 minutos de Goianinha, no interior
do Rio Grande do Norte, nasceu o atacante que com o passar dos anos se
transformou em goleiro.
Apesar dos 26 anos e os nove dedicados ao futebol - três deles em times
profissionais -, Messi conta que as semelhanças com o xará argentino do
Barcelona param no apelido e no fato de ter atuado também no ataque,
ainda quando era apenas uma criança.
Os ganhos no futebol, por outro lado, ainda não foram suficientes sequer
para lhe oferecer condições para que pudesse comprar um carro ou mesmo
uma nova casa para sua família.
- Ainda não tive essas condições (de comprar algo mais caro) - afirma.
O apelido veio da infância e foi dado pela mãe, que preferiu em vez de
Jamerson, o “novo batismo” para facilitar a convocação para as
obrigações da casa.
Ainda sem alcançar o que para ele seria a realização profissional, o
potiguar evita mirar alto, garante não ter pretensão de deixar o futebol
do Rio Grande do Norte e revela o sonho a realizar na sua trajetória
entre as quatro linhas.
Abecedista desde a infância, não deixa paixão pelo clube impor limites
para o crescimento em campo e não descarta o maior rival do seu time do
coração.
- Sonho em jogar num grande clube aqui do estado, um time da região,
jogar no ABC ou no América, que é também uma grande equipe - diz.
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