Postado no G1
A professora Luma Andrade, 35 anos, que se tornou a primeira travesti 
com doutorado do Brasil na sexta-feira (17), diz que sua carreira 
acadêmica vai servir de exemplo para que outros travestis busquem na 
educação uma forma de vencer o preconceito. "Nós vivemos numa posição 
que a sociedade nos impõe, à margem de tudo. E temos que quebrar esse 
paradigma e viver no centro da sociedade, a educação é uma das formas 
que temos para conseguir", diz a professora. 
Luma defendeu o estudo elaborado em três cidades do Ceará "Travestis na 
Escola: Asujeitamento e Resistência à Ordem Normativa", na sexta-feira, 
na Universidade Federal do Ceará (UFC), e foi aprovada. O doutorado foi,
 segundo ela, uma "missão cumprida". Agora ela pretende seguir carreira 
política e obter um pós-doutorado. 
Ela conta que já convenceu uma estudante travesti a manter-se na escola.
 "As pessoas não acreditam que uma travesti pode conseguir a vida com a 
educação. A estudante me perguntava: 'E é possível uma travesti estudar e
 ser uma doutora?'. E eu expliquei a ela que sou exemplo de que pode 
sim", diz Luma. 
Além do pós-doutorado, ela tem como objetivo ser professora de uma 
escola federal no Ceará. Luma fez concurso público em 2010, quando ainda
 tinha no documento de identidade o nome de João Filho Nogueira de 
Andrade. Ela foi reprovada pela banca e recorreu do resultado, alegando 
ser vítima de preconceito. "Cerca de duas horas eles avaliaram o exame 
de várias pessoas, não há como isso ser feito, foi o que eu afirmei na 
justiça". Luma venceu em primeira instância, e a Universidade Regional 
do Cariri recorreu da decisão. 
Ela sempre trabalhou como professora e atualmente acumula cargo na 
Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação na região cearense
 do Vale do Jaguaribe, que tem sede em Russas, no interior do estado. 
Quando começou a lecionar, Luma diz que sofreu resistência, da diretoria
 da escola, de alunos e de pais dos alunos. 
"Como eu era a única da região que tinha formação para lecionar algumas 
disciplinas, eu fiquei como professora, mas o início foi bem difícil. 
Depois de inserir naquele meio, entendendo a sala de aula, passei a uma 
das professoras mais queridas da escola", conta. 
Luma Andrade é filha de agricultores analfabetos, nasceu na cidade de 
Morada Nova, a 163 quilômetros de Fortaleza, e, no dia da mulher de 
2010, ganhou o direito de mudar o nome nos documentos sem a operação de 
mudança de sexo.

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