Visto no O Globo
Há exatamente um ano o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecia a 
legalidade da união estável entre pessoas do mesmo sexo. A decisão foi 
unânime entre os ministros do tribunal e o último voto coube ao então 
presidente da Corte Cezar Peluso, que considerou o julgamento um marco 
histórico e ponto de partida para novas conquistas. Era a primeira vez 
que o Supremo julgava se a união entre pessoas do mesmo sexo poderia ser
 enquadrada no regime jurídico de união estável. Para comemorar um ano 
da conquista, o governo do estado do Rio, em parceria com o Tribunal de 
Justiça do Rio, vai promover no próximo dia 30 de junho a maior 
cerimônia coletiva de união homoafetiva já realizada no mundo, segundo 
os organizadores. 
Ao todo, 70 casais homossexuais poderão legalizar sua situação perante a
 Justiça e, em alguns casos, com os custos bancados pelo poder público 
que, através do Centro de Referência LGBT do Rio, orienta e informa a 
respeito da documentação exigida e de todos os trâmites legais. A 
cerimônia acontecerá no auditório do TJ e terá direito a bolo para os 
convidados. Ano passado uma cerimônia similar aconteceu em plena gare da
 Central do Brasil e celebrou a união de 43 casais homossexuais. Os 
casais interessados deverão se inscrever através do Disk Cidadania LGBT 
(0800 0234567) até o dia 30 de maio. 
Para o novo presidente do STF, ministro Carlos Ayres Britto, na prática,
 a decisão viabilizou os direitos dos cidadãos, como pensão em caso de 
morte do companheiro, herança e adoção. 
- A decisão do STF, reconhecendo a igualdade de direitos entre os casais
 heteroafetivos e os parceiros homoafetivos, confirma que o valor do 
pluralismo é rechaçante do desvalor do preconceito. Confirma a verdade 
científica de que a nossa Constituição Federal é humanista e por isso 
mesmo civilizada. Somos um país juridicamente primeiro-mundista - 
afirmou Ayres Britto ao GLOBO. 
Para o superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos do 
Rio de Janeiro, Claudio Nascimento, responsável pela organização da 
cerimônia, de um ano para cá, com a decisão do STF, houve muitos avanços
 e ajudou a melhorar o combate ao preconceito como um todo. 
- A decisão da Suprema Corte brasileira refletiu em várias áreas. Antes,
 quando se falava em família, logo se pensava numa família 
heterossexual; hoje é necessário que se inclua a família até então 
considerada fora dos padrões convencionais. Já existem casos, como em 
Belford Roxo, na Baixada Fluminense, em que famílias formadas por casais
 homossexuais que recebem o benefício do Bolsa Família. 
Já o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, 
Travestis e Transexuais (ABGLT), Tony Reis, considera a decisão uma 
vitória e diz que neste último ano muita coisa melhorou, a começar pela 
esperança no princípio da igualdade e da liberdade. 
- Hoje podemos dizer que temos justiça no país - reconhece. 
Por outro lado, diz ele, a decisão fez com que setores retrógrados 
também se organizassem e as agressões estão mais escandalosas.
- Eles se organizaram de tal forma que muitas vezes chegam a nos acuar. Os conservadores homofóbicos saíram do armário. 
Em todo o Brasil são 64 mil casais homossexuais 
A decisão do STF fez com que um maior número de casais do mesmo sexo 
procurasse os cartórios para poderem legalizar sua situação. De acordo 
com os dados do último censo do IBGE, o Brasil tem 64 mil casais 
homossexuais, número que Claudio Nascimento contesta por acreditar ser 
bem maior, uma vez que nem todos declaram sua condição. 
- Hoje os gays sabem que se quiserem ter uma união afetiva podem 
legalizar esta união. Isso dá segurança jurídica e permite o acesso aos 
benefícios sociais que eventualmente um dos companheiros tenha em seus 
trabalhos – diz Nascimento. 
Para o presidente da ABGLT, Tony Reis, a decisão do STF mudou muito a situação dos homossexuais no Brasil. 
- Até então nós vivíamos uma situação de ilegalidade, de falta de 
reconhecimento. Vivíamos num processo de cidadania de segunda classe - 
afirma. 
Em relação ao aumento ou diminuição da agressão aos homossexuais, ainda 
não há dados oficiais para análises, pois nunca houve um levantamento a 
respeito desses casos. Somente o estado do Rio tem dados oficiais, tanto
 no setor de atendimento na área de secretaria de assistência social, 
com os atendimentos feitos no Centro de Referência LGBT, ou mesmo nas 
delegacias de polícia, onde os registros de ocorrência já contam com o 
quesito homofobia. A ABGLT não tem dados oficiais. 
- Em dois anos houve uma diminuição dos casos de agressão contra 
homossexuais no Rio de Janeiro, mas isso não significa uma diminuição 
crescente, até porque, na prática, esses dois anos são considerados o 
marco zero desta análise – completa Nascimento. 
Marinha ainda não reconhece estado civil de gays como casados 
João Batista Pereira da Silva, cabo reformado da Marinha, é o primeiro 
militar brasileiro que se casou com um companheiro do mesmo sexo. Marido
 de Claudio Nascimento, João diz que a decisão do STF não gerou prejuízo
 a ninguém. 
- A situação não mudou nada para quem é heterossexual, mas para os homossexuais foi um avanço e tanto. 
Pouco menos de um mês antes do julgamento na Suprema Corte, ele e 
Nascimento entraram com processo na Marinha do Brasil para que lhes 
fosse concedido o direito de registro da união no documento militar de 
identidade. O processo demorou quase sete meses até que a Marinha 
reconhecesse a união estável dos dois. O próximo passo é conseguir o 
reconhecimento da mudança de união estável para a mudança de estado 
civil. Desta forma, na identidade militar não constará mais o estado 
civil como solteiro, mas sim, casado. O requerimento já está sob análise
 desde setembro. 
- Em geral este prazo é de 90 dias. Até então aceitaram a união civil, 
mas não reconheceram a certidão de casamento – explica Silva. 
A Marinha alega que ainda não tem resposta da Diretoria de Pessoal 
Militar (DPMM), mesmo que todo o processo deles esteja amparado pela 
lei. 

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